“Aqui se faz, aqui se paga”

Alvo do TCU, Sergio Moro não explica quanto ganhou da Alvarez & Marsal

A empresa norte-americana informou ao TCU que, dos honorários que recebe no Brasil, 75% vieram de empresas que a Lava Jato ajudou a destruir

José Cruz/Agência Brasil
José Cruz/Agência Brasil
Consultoria Alvarez & Marsal se recusa a informar ao TCU a remuneração que pagou a Moro

São Paulo – Além de não conseguir chegar aos dois dígitos nas pesquisas eleitorais, o ex-juiz Sergio Moro parece entrar em um novo inferno astral. Uma semana depois de uma entrevista publicada na revista Veja, na qual atacou o grupo Prerrogativas e parecia ter conquistado importante espaço midiático, virou alvo da mesma revista. De acordo com reportagem da publicação da Abril nesta sexta-feira (21), a consultoria Alvarez & Marsal, para a qual o ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro foi trabalhar após deixar o governo, recebeu cerca de R$ 42,5 milhões de empresas arrochadas por Moro e o Ministério Público Federal na Lava Jato.

A consultoria norte-americana informou ao Tribunal de Contas da União (TCU) que, dos honorários que recebe no Brasil, 75% vêm de empresas investigadas pela Lava Jato. Desses, R$ 1 milhão da Odebrecht e da antiga Odebrecht Agroindustrial; R$ 150 mil da Galvão Engenharia; R$ 115 mil do Estaleiro Enseada; e R$ 97 mil da OAS.

A empresa estadunidense diz que o ex-juiz nunca trabalhou diretamente para as empresas que a Lava Jato destruiu ou  prejudicou. Até o início da tarde, Moro não havia se manifestado sobre a publicação. Em seu Twitter, o ex-juiz se dedica a atacar o PT. Também “celebra” o dia do combate à intolerância religiosa, que considera ser”um direito humano fundamental”. Em outras ocasiões, Moro prometeu divulgar informações sobre quanto recebeu da consultoria “no momento oportuno”.

Mas, de acordo com a Veja, na matéria com sugestivo título de “Aqui se faz, aqui se paga”, a Alvarez & Marsal não informa ao TCU a remuneração que pagou a Moro. O subprocurador Lucas Rocha Furtado pediu ao TCU a abertura de procedimento para investigar a ida do ex-ministro da Justiça para a Alvarez & Marsal.

O aliado Alessandro Vieira

Apesar de tudo, Sergio Moro encontra aliados no mundo político. Um deles é o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE). Destaque da CPI da Covid, o parlamentar entrou com representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Bruno Dantas, na terça-feira (18). Dantas determinou que a Alvarez & Marsal revele quanto pagou ao ex-juiz.

Vieira afirma que Dantas cometeu abuso de autoridade contra a Operação Lava Jato e Sergio Moro. “A auditoria do Tribunal de Contas da União rechaçou a tese de que Moro e a Lava Jato teriam causado prejuízos à Odebrecht ou que o ex-juiz teria se beneficiado de informações privilegiadas, incorrendo nas mencionadas práticas de revolving door e lawfare”, diz o senador.

A expressão “revolving door” (porta giratória) é usada para descrever situações em que políticos ou servidores públicos assumem postos como lobistas ou consultores na área de sua atividade anterior no serviço público. É também usada para descrever a via de mão-dupla que permite que ex-empregados na iniciativa privada aceitem posições no governo, onde terão poder para regulamentar o setor no qual anteriormente trabalharam.


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