REI MIDAS ÀS AVESSAS

Filiação de Bolsonaro no PL é resultado de ‘inúmeros fracassos’

Para o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, filiação do presidente à legenda do Centrão pode significar “uma união que acaba enfraquecendo os dois lados”

Alan Santos/PR
Alan Santos/PR
O especialista lembra que durante os dois anos sem partido, Bolsonaro tentou criar sua própria sigla e não deu certo

São Paulo – A filiação do presidente Jair Bolsonaro ao PL, realizada em cerimônia nesta terça-feira (30), é resultado de inúmeros fracassos em sua gestão como presidente. A afirmação é do cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP).

“Na verdade, a chegada de Bolsonaro no PL é o resultado de inúmeros fracassos. Depois de sair do PSL, ele tentou fundar seu próprio partido, a Aliança Nacional, mas sequer conseguiu o número mínimo de assinaturas. Portanto, se viu na obrigação de entrar em qualquer partido e foi para o PL”, afirmou em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual.

Além disso, para concretizar a filiação de Bolsonaro, o PL também teve que ceder a exigências do presidente da República, como não fazer alianças com outras candidaturas tucanas ou petistas em eleições estaduais. “De fato, é uma união que acaba enfraquecendo os dois lados. É um casamento que nasce pelo fracasso”, acrescentou Niccoli.

Direita fragmentada

Além do presidente, também se filiou ao PL um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (RJ) que deixou o Patriota. Durante a cerimônia, o parlamentar atacou o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, recém filiado ao Podemos, e o classificou como “traidor”, sem citar diretamente seu nome.

Para o cientista político, os ataques entre os membros do campo da direita, que está fragmentada, colocam Bolsonaro como uma espécie de Rei Midas às avessas, já que sua proximidade mina as campanhas de seus hoje concorrentes que já foram seus aliados no passado.

“Tenho impressão que Moro terá muitas dificuldades para alavancar sua candidatura. A possibilidade de união com João Doria pode mudar o cenário, mas o próprio tucano foi apoiador da campanha de Bolsonaro em 2018. Então, há uma imagem manchada perante à sociedade”, observa. “Agora, Moro diz que irá denunciar Bolsonaro. Essa disputa vai enfraquecer e desgastar as duas candidaturas e será bom para o ex-presidente Lula, que assistirá a briga do sofá, comendo pipoca”, afirmou.

União Lula e Alckmin

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse em entrevista à Rádio Gaúcha que está “num processo de conversar” sobre a composição de uma chapa para a eleição presidencial do ano que vem. A ideia é que o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin possa ser vice de Lula.

Segundo o cientista político, o PT está na contramão dos adversários ao tentar consolidar pontes com antigos adversários. “Enquanto isso, os demais candidatos que tentam ocupar a principal posição da terceira via brigam entre si. A estratégia de Lula é promover alianças com figuras da centro-direita para atrair votos e apoio do mercado financeiro”, explicou.

“De fato, um candidato que quer vencer em 2022 precisará acenar para antigos adversários e não estamos vendo esse diálogo em outras candidaturas. Essa união entre Alckmin e Lula mostra que 2022 não se trata de direita contra esquerda, mas de civilização contra barbárie”, acrescentou.

Confira a entrevista