Volta à Câmara

Amplo acordo leva senadores a aprovar a PEC dos Precatórios

Proposta abre espaço para criação do Auxílio Brasil e foi aprovada com apoio da oposição, com ressalvas, pela urgência em ajudar dezenas de milhões de pessoas que passam fome

Geraldo Magela/Agência Senado
Geraldo Magela/Agência Senado
Clima amistoso: Davi Alcolumbre, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (ao centro), e Randolfe Rodrigues, em sessão que aprovou PEC 23

São Paulo – Após amplo acordo envolvendo todos os setores políticos da Casa, e com sessão tranquila, o Senado aprovou nesta quinta-feira (2), em primeiro turno, por 64 votos contra apenas três, e duas abstenções, a PEC dos Precatórios. Os senadores votaram a proposta em segundo turno rapidamente: na segunda “rodada”, foram 61 votos a favor, 10 contra e uma abstenção. Como se trata de mudança na Constituição, o texto precisava ser aprovado por 49 (três quintos) dos 81 senadores. O texto aprovado na Câmara foi alterado no Senado, e por isso a PEC precisa voltar para nova análise pelos deputados.

A proposta abre espaço no Orçamento de 2022 para o Auxílio Brasil. Tinha sido aprovada na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) na terça-feira (30) por 16 votos a 10. A principal mudança na proposta de emenda à Constituição 23/2021, em relação ao texto da Câmara, foi a que transforma o Auxílio Brasil em benefício permanente. O benefício foi criado pelo governo Bolsonaro para substituir o Bolsa Família, criado por Luiz Inácio Lula da Silva em 2003. Outra alteração é que o pagamento de precatórios será limitado apenas até 2026, e não mais até 2036.

O relator do texto, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), afirmou que a mudança se justifica porque dará “tempo suficiente para o Poder Executivo acompanhar melhor o processo de apuração e formação dos precatórios e seus riscos fiscais, mas sem criar um passivo de ainda mais difícil execução orçamentária”. Na sequência, os senadores devem votar, ainda nesta tarde, a Medida Provisória 1061/2021, que cria o Auxílio Brasil. 

Vício de origem’

Senadores da oposição, unanimemente, elogiaram a atuação do líder do governo. O líder da oposição, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), falou do “esforço” de Fernando Bezerra, mas com ressalva. “A PEC tem um vício de origem: foi concebida para dar calote. O governo se utilizou de uma artimanha: encerrou um programa social consagrado, o Bolsa Família, e instituiu em princípio o nada. Depois instituiu o Auxílio Brasil, que no inicio tirou milhões do programa anterior”, disse o líder.

Randolfe liberou o voto das bancadas de oposição, segundo ele “em respeito à construção do relatório, mas também àqueles que compreendem que um vício de origem é difícil de ser sanado”. Bezerra Coelho fez um “trabalho hercúleo” para chegar a um texto praticamente consensual, destacou Jean-Paul Prates (PT-RN). O petista, porém, pediu uma reflexão: “Propostas que precarizam direitos são votadas com a mesma veemência com que falamos da fome e da pobreza. Vamos convergir não só hoje, mas sempre, constantemente”, exortou.

Mais ressalvas

O senador Jaques Wagner (PT-BA) disse que seu partido votaria “sim” à PEC, em razão da urgência de se conceder o auxílio social aos mais pobres, mas com ressalvas. Segundo o parlamentar, investidores externos lhe disseram, recentemente, que têm dúvidas sobre investir num país que coloca na própria Constituição que não pagará suas dívidas.

Zenaide Maia (Pros-RN) também anunciou que votaria “sim” à PEC. “Para um país que tirou direitos dos trabalhadores para atrair investidores, esta PEC é uma contradição, ao passar calote. Mas, ao mesmo tempo, quando se têm 20 milhões de brasileiros que não têm o que comer,  a gente tem que votar ‘sim’”, justificou.