BALÃO DE ENSAIO

Semipresidencialismo é ideia para agradar elite e ignorar desejo popular, diz cientista política

Para Rosemary Segurado, mudança constitucional seria uma resposta golpista à liderança de Lula nas pesquisas

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil
De acordo com a cientista política, o país até pode mudar seu sistema eleitoral, porém há mudanças que só são feitas para acomodar setores específicos no poder. E o semipresidencialismo é um desses casos

São Paulo – A adoção do chamado semipresidencialismo como regime de governo voltou à pauta na última quarta-feira (17), após o ex-presidente Michel Temer e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) como Luís Roberto Barroso, Gilmar Mendes e Dias Toffoli defenderem a ideia. Para a cientista política Rosemary Segurado, a proposta é um “balão de ensaio” para agradar as elites.

Na avaliação da especialista, colocar a questão em discussão a menos de um ano da próxima eleição presidencial parece uma resposta às pesquisas eleitorais, que colocam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em primeiro lugar, em todos os cenários.

“Nós já tivemos debates anteriores, e que passaram por esse tema, mas não avançaram. Isso é uma agenda para as elites, não para o eleitor comum. Colocar esse debate agora é um medo do resultado da próxima eleição, uma tentativa de mudar a regra do jogo de última hora”, criticou, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual.

Semipresidencialismo

De acordo com a cientista política e professora da PUC-SP, há mudanças que só são feitas para acomodar setores específicos no poder. E o semipresidencialismo é um desses casos. Em 1997, por exemplo, foi aprovada a emenda que permitia a reeleição em cargos do Executivo. Já 1993, a revisão constitucional reduziu o tempo de mandato do presidente de cinco para quatro anos, época em que Lula também liderava as pesquisas.

Contraste entre Lula e Bolsonaro

Na última semana, o ex-presidente Lula fez diversas reuniões com líderes da Europa, em seu giro pelo continente. Na última segunda-feira (15), foi aplaudido pelo Parlamento Europeu após discursar. Já na última quarta-feira, Lula foi recebido pelo presidente da França, Emmanuel Macron, no Palácio do Eliseu, sede do governo.

“Nesta semana, Lula se encontrou com lideranças e presidentes da Europa para discutir um plano de redução da desigualdade social, enquanto o presidente do Brasil está no Catar andando de moto. Um se comporta como estadista e o outro, como um adolescente”, comentou a cientista política.

Segundo ela, há um contraste evidente de postura política entre Lula e Bolsonaro. “Antes dos três anos de governo Bolsonaro, nós vimos o Brasil ser tratado como um lugar respeitado. Agora, nas viagens recentes, o atual presidente estava isolado, sem diálogo e expôs o país ao vexame internacional”, finalizou.

Confira a entrevista