O "escolhido"

Inimigo da ciência, Bolsonaro concede a si a medalha do Mérito Científico

Algoz da pesquisa nacional e negacionista, Bolsonaro se condecora com título por contribuições ao desenvolvimento cientifico

Carolina Antunes/Agência Brasil
Carolina Antunes/Agência Brasil

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro concedeu a si mesmo mais uma medalha. Desta vez, a Grã-Cruz, o que o oficializa como grão-mestre, da Ordem Nacional do Mérito Científico. Trata-se de uma distinção concedida a personalidades brasileiras e estrangeiras como reconhecimento de contribuições científicas e técnicas para o desenvolvimento da ciência no Brasil. Foi instituída em 16 de março de 1993.

Outro a quem Bolsonaro resolveu conceder distinções foi o ministros da Ciência e Tecnologia, o ex-astronauta Marcos Pontes, que recebeu o título de chanceler. Além dele, também o da Economia, Paulo Guedes, será nomeado conselheiro da Ordem. As homenagens foram oficializadas por decreto presidencial desta quarta-feira (3), publicado hoje no Diário Oficial da União.

O que mais chama a atenção no caso de Bolsonaro é que o presidente não é uma personalidade brasileira que reconhecidamente contribui para o desenvolvimento científico do Brasil. Pelo contrário, mesmo antes de ser eleito, sempre manteve um discurso negacionista e de antagonismo à ciência.

Negacionista crônico

Quando assumiu o cargo presidencial, Bolsonaro intensificou o discurso anticientífico e negacionista. Primeiro relacionado à questão ambiental. Negou dados, demitiu servidores de alto gabarito e virou inimigo número 1 dos biomas brasileiros, principalmente a Amazônia, o cerrado e o Pantanal.

Sua conduta desastrosa da pandemia de covid-19, em que fez de tudo para induzir o povo brasileiro a não se proteger contra a contaminação, a infecção e a morte pelo novo coronavírus, além de negar o direito à vacinação, está fartamente documentada no relatório final da CPI da Covid, recém concluído.

E se fosse pouco, conduz uma agressiva política de desinvestimento na ciência. Tanto que cortou R$ 600 milhões de recursos na área, em menos de três anos de mandato, pegando de surpresa até mesmo seu ministro astronauta. Bolsonaro remanejou mais de 90% dos recursos que seriam destinados à pasta do colega agora agraciado com medalha.

Medalhas, medalhas

A concessão de medalhas para quem não merece se tornou prática comum no governo Bolsonaro. Em junho, ele recompensou a atuação do comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que absolveu o general e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Ele havia participado de ato político no Rio de Janeiro, o que é vedado pela lei brasileira. Nogueira de Oliveira foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito da Defesa.

Por sua vez, o chanceler Carlos Alberto de Franco França, que substituiu Ernesto Araújo no Itamaraty, e o general Luiz Carlos Gomes de Mattos, presidente do Superior Tribunal Militar, além de outros seis militares, também receberam medalhas de méritos vários pelo governo Bolsonaro.

Pelo mesmo decreto, Bolsonaro condecorou a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Mérito da Defesa. O presidente da Câmara dos Deputados e aliado do governo, Arthur Lira (PP-AL), também está entre os já condecorados com a Grã-Cruz.

Em agosto, houve entrega de medalhas do Mérito Oswaldo Cruz e da Ordem do Mérito Médico, que reconhecem aqueles que se destacam nas atividades científicas, educacionais, culturais e administrativas que trazem benéficos à saúde dos brasileiros.

Medalhas para família Bolsonaro

Na ocasião, Bolsonaro entregou medalhas novamente para Michelle Bolsonaro. E também para os ministros Fábio Faria (Comunicações), Damares Alves (Direitos Humanos), Gilson Machado (Turismo), Carlos Alberto França (Relações Exteriores), João Roma (Cidadania), Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil), Paulo Guedes (Economia), Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), Tarcísio Freitas (Infraestrutura) e Walter Braga Netto (Defesa). O presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), também recebeu a honraria.

Já os médicos que “salvaram a vida” de Bolsonaro, após o episódio da facada durante a campanha eleitoral de 2018 receberam a medalha da Ordem do Mérito Médico.

Em 22 de outubro, Dia do Aviador, o senador e filho “Zero Um” do presidente Flávio Bolsonaro recebeu a Ordem do Mérito Aeronáutico. A honraria vai para quem prestou serviços notáveis à FAB. Já o deputado federal Eduardo Bolsonaro é o que mais medalhas recebeu. Ao todo, Bolsonaro já concedeu mais de 10 medalhas para os seus familiares.

Com Brasil de Fato


Leia também


Últimas notícias