eleições 2022

Haddad: ‘Brasil precisa encontrar uma saída para não repetir 2018’

Ex-prefeito paulistano rebateu Sergio Moro, que atacou o PT em redes sociais: “Quem terminou julgado e condenado foi ele, pelo STF que ele sempre louvou”

Reprodução/ YouTube
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Haddad prevê que a decisão das Nações Unidas contraq Sergio Moro no ano que vem "tende a ser mais dura do que a do STF"

São Paulo – Em entrevista ao portal UOL na manhã desta terça-feira (16), o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad falou sobre as eleições de 2022, discorreu sobre possíveis alianças do PT com o PSB e PDT e eventuais futuras conversas com o pré-candidato à Presidência da República Ciro Gomes. Candidato em 2018, o petista também comentou a possibilidade de uma chapa composta pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB). Haddad defendeu o diálogo entre forças democráticas com vistas a derrotar o projeto de Bolsonaro nas eleições. “O Brasil precisa encontrar uma saída, e a saída democrática depende de conversa.”

Para isso, defendeu que PDT e PSB se sentem à mesa de negociação. “Não sei se Ciro vai se envolver nas negociações em São Paulo. Espero que sim, porque não há razão para não conversar com ele”, afirmou. Haddad lembrou de diálogos existentes para a sucessão dos governadores Camilo Santana (PT) no Ceará e Flávio Dino (hoje no PSB) no Maranhão. Santana poderia vir a ser candidato ao Senado e o PT apoiar o PDT para o Executivo cearense.

Haddad elogiou o presidente do PSB, Carlos Siqueira, “no sentido de reposicionar o PSB depois de Eduardo Campos”, morto em acidente aéreo em 2014. O PSB tem candidato em vários estados (como Pernambuco, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio). “É natural que negocie, pedindo o que acha mais adequado para sua legenda.”

Sergio Moro

Questionado pela jornalista Fabíola Cidral, o ex-prefeito de São Paulo respondeu ao ex-juiz Sergio Moro, suposto postulante ao Palácio do Planalto, que atacou o PT no Twitter, no feriado de 15 de novembro, dizendo que a Petrobras “foi saqueada” durante os governos do partido. “Quem terminou julgado e condenado foi ele, pelo STF que ele sempre louvou. Agora está mudando o discurso. Não entendo a retórica de atacar uma decisão da justiça. Quem ele diz que transformou bandido em herói?” O petista lembrou que o Supremo Tribunal Federal – após condenação por Moro – manteve Lula preso por 580 dias, “sem uma única prova, o que veio a dar na vitória de Bolsonaro”.

“Agora vão ser as Nações Unidas que, em maio de 2022, vão julgar o comportamento do Moro. Pode aguardar – continuou o ex-prefeito paulistano –, que a decisão das Nações Unidas tende a ser mais dura até do que a do STF.” Segundo Haddad, Sergio Moro “não tem condições morais de disputar o que quer que seja”.

Ele disse também não acreditar que o ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro e comandante de fato da operação Lava Jato será candidato à presidência. De acordo com sua análise, deve haver algum acordo para se compor, a depender dos resultados das prévias do PSDB. O evento tucano – que deve escolher o candidato do PSDB – está marcado para o próximo domingo (21).

“Pode ter um arranjo que não conhecemos e que pode vir à tona”, disse. Haddad comentou que, pensando em Franco Montoro e Mário Covas, não reconhece o PSDB dos atuais governadores de São Paulo (João Doria) e do Rio Grande do Sul (Eduardo Leite). “Não concordo com a expressão ‘terceira via’ para se referir a eles.” Ambos os tucanos são “uma espécie de plano B do bolsonarismo”, avalia.

Lula e Alckmin?

Haddad também comentou uma eventual chapa formada por Lula e o ex-governador paulista Geraldo Alckmin, que seria feita no contexto de “uma coalizão progressista para derrotar os candidatos de Doria e Bolsonaro”. “Independentemente de chapa, temos que preparar o Brasil para uma mudança e um redesenho das forças político-partidárias a partir de 2023”. Segundo ele, “não existe mais o PSDB como no governo Fernando Henrique e durante o governo Lula”. “Não existe mais aquele Brasil. O que existe é um representante do regime autoritário que ressurgiu com alguma base social, que tem angariado apoio daqueles que se imaginavam democratas.”

Nesse Brasil de hoje, uma parte da centro-direita está apoiando Bolsonaro, lembrou o petista. Boa parte do PSDB votou contra a urna eletrônica e a favor da PEC dos precatórios. Se não fosse o PSDB, Bolsonaro não teria ganho a votação da PEC dos Precatórios.

Haddad confirmou ter conversado com Alckmin no primeiro semestre sobre um possível acordo pela campanha ao governo paulista, do ex-governador ou do próprio Haddad, em um eventual segundo turno. Afirmou sempre ter tido uma “relação cordial” com Alckmin. “Não podemos repetir o que aconteceu em 2018, do nosso ponto de vista. Em 2018, por falta de conversas prévias, uma parte expressiva do PSDB acabou apoiando Bolsonaro”, disse, em alusão direta a Leite e Doria.