"Terrivelmente"

Evangélicos progressistas questionam indicação de André Mendonça ao STF

Religiosos questionam Mendonça por usar ministério para perseguir desafetos do presidente e contradizer lógica do Estado laico

Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Ministro do STF indicado por Bolsonaro, André Mendonça era ministro da Justiça, pasta em que o dossiê foi feito

São Paulo – Grupos evangélicos progressistas estão em Brasília em campanha contra a indicação do advogado, pastor e ex-ministro André Mendonça para uma vaga do Supremo Tribunal Federal (STF). As manifestações de evangélicos ocorrem na véspera da sabatina de Mendonça no Senado, indicado por Jair Bolsonaro. É o caso do também pastor Ariovaldo Ramos, coordenador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito. A frente distribui no Senado seis perguntas críticas dirigidas a Mendonça (leia abaixo). As questões têm o objetivo de “deixar clara a incoerência dele, a impossibilidade e a insustentabilidade do nome para o STF”, segundo o pastor Ariovaldo.

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A sessão com André Mendonça na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado está prevista para as 9h. Depois, o plenário decide em votação secreta.

O resultado da sabatina – aprovação ou não de Mendonça – é ainda imprevisível. O coordenador da frente progressista afirma ser contra a indicação de Mendonça, em primeiro lugar, porque não concorda com um indicado ao Supremo “em nome de religião nenhuma, muito menos a minha. O Estado é laico, não pode ter um candidato por ser de uma religião, seja ela qual for”.

“Ataque ao Estado laico”

Para Ariovaldo Ramos, “isso é um ataque ao Estado laico”. Outro motivo, diz o pastor, é que, como ministro da mais alta corte do país, ele não terá comportamento isento se tiver de julgar Bolsonaro ou seus filhos no âmbito de algum inquérito, por exemplo. “Por definição, ele é suspeito”.  Em terceiro lugar, Ramos se opõe ao nome de André Mendonça no STF pela postura do indicado. “Embora se apresente como ‘terrivelmente evangélico’ do presidente, o comportamento dele contradiz a fé que ele diz abraçar. É isso que tentamos demonstrar nas perguntas que fazemos”, explica.

O primeiro indicado pelo atual chefe de governo ao STF, Nunes Marques, tem adotado posições francamente favoráveis ao presidente e seu governo. Já Mendonça, como ministro da Justiça de Bolsonaro (também foi advogado-geral da União do atual governo), acionou a Polícia Federal e a Lei de Segurança Nacional contra críticos do presidente.

Leia as questões dirigidas pelos evangélicos a André Mendonça:

1 – Tiago (3.17) afirma que a sabedoria do alto se caracteriza por imparcialidade. O Brasil é um país laico. O senhor, entretanto, tem sido apresentado como futuro representante dos evangélicos no STF, o que contradiz a lógica do Estado laico. Logo, por definição, sua indicação é injusta e, por definição, compromete a sua imparcialidade. Como o senhor analisa e se analisa diante dessa questão?

2 – Hoje, no Brasil, evangélicos têm sido acusados de reprimir outras religiões, principalmente de matriz africana, chegando a ser acusados de invasão e depredação de lugares de culto dessa expressão religiosa. Como evangélico, qual seria sua postura se tivesse de julgar algo dessa ordem?


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3 – Em Deuteronômio (16.19) há a recomendação de que não seja torcida a Justiça pela acepção de pessoas. O senhor classificou o presidente Bolsonaro como profeta, concedendo-lhe, portanto, uma posição de autoridade religiosa. Como o senhor poderá garantir imparcialidade quando e se tiver de julgar o presidente Bolsonaro?

4 – Em Eclesiastes (3.16) está registrada a indignação do sábio quando constar que no lugar do juízo reina a maldade. O senhor, quando ministro da Justiça, foi acusado de usar o ministério para perseguir os desafetos do presidente Bolsonaro. Teria abusado de processos com base na Lei de Segurança Nacional; perseguiu jornalistas e produziu um dossiê sobre a situação de 379 policiais e professores identificado como antifascistas; o que é, na voz do sábio, pura maldade. Corremos o risco de ver o senhor ser acusado do mesmo, quando ministro do Supremo? Se não… Por que não?

5 – O senhor é indicado por um governo que, desrespeitando a laicidade do Estado, deu cor religiosa ao seu governo, contudo, está repleto de acusações de injustiça, em todos os níveis, contrariando, portanto, todo o discurso religioso que, contra a Constituição Federal, proferiu. Sua participação e indicação neste governo nos dá a entender que toda essa prática criminosa teve e tem a sua anuência. Que garantias podemos ter de que, agora, o senhor preservará e cumprirá a Constituição?

6 – Em Mateus (5.10) Jesus chama de bem-aventurados os perseguidos por causa da Justiça. O governo que o senhor serviu e representou tem se caracterizado, entre outros deslizes, pela acusação de atacar e fomentar ataques ao STF, elevando os atuais ministros e ministras à categoria de perseguidos por causa da Justiça. Por que deveria ser colocado ao lado dos que o governo que o indica tem sido acusado de atacar? O senhor denunciaria o governo que o indica?


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