DIPLOMACIA BOLSONARISTA

Embaixador do Brasil na Guiné-Bissau deixa cargo após denúncia de racismo

Esposa de embaixador chamou guineenses de “macacos” e clarou que “usaria a chibata” contra funcionários

GERALDO MAGELA/EBC
GERALDO MAGELA/EBC
Embaixador declarou "reconhecer a inadequação da sua conduta", voltará ao Brasil dois anos antes do previsto e o caso será encerrado.

São Paulo – O embaixador do Brasil na Guiné-Bissau, Fábio Franco, deixará o cargo após denúncias de racismo e interferência de sua esposa. A remoção do posto no país africano é feita após conclusão de uma investigação do Itamaraty.

Segundo reportagem da jornalista Flávia Mantovani, da Folha de S.Paulo, o Itamaraty aponta que a esposa do embaixador, Shirley Carvalhêdo Franco, interferia nas atividades da representação diplomática, sem ter vínculo com o Ministério das Relações Exteriores.

A matéria ouviu funcionários da embaixada que denunciaram ingerência na rotina da embaixada. Segundo a reportagem, os entrevistados afirmam ainda Shirley praticava assédio moral, proferia ofensas racistas, teria chamado os guineenses de “macacos” e dito que eles “só servem para fazer sexo, não para trabalhar”.

Uma das pessoas que fizeram a denúncia afirmou que, na residência oficial, trabalhadores tinham que levantar os braços ao chegar, para serem “desinfetados” com álcool, e que Shirley ameaçava jogar soda cáustica em todos “porque fediam”. Uma prestadora de serviços diz que a embaixatriz já declarou que “usaria a chibata” contra os funcionários.

Denúncia sem consequências

A Corregedoria do Itamaraty instaurou uma investigação que resultou na assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), na segunda-feira (8), por parte do embaixador de Guiné-Bissau. O procedimento administrativo é aplicado a irregularidades “de menor potencial ofensivo”.

A reportagem da Folha diz que o embaixador declarou “reconhecer a inadequação da sua conduta”, voltará ao Brasil dois anos antes do previsto e o caso será encerrado.

Já no caso de Shirley, como não é competência do Ministério das Relações Exteriores abrir processo administrativo contra a embaixatriz, pois não é servidora, não haverá um processo sobre os relatos de injúria racial e assédio moral.

Segundo a matéria, os entrevistados classificaram o embaixador como cordial, mas que aceitava o comportamento da esposa. Os servidores disseram também que Shirley dizia ter aval do marido para atuar assim na embaixada.

Repercussão

A reportagem chocou os internautas das redes sociais. Jornalistas e ativistas repudiaram a denúncia e relacionaram o embaixador brasileiro com o governo de Jair Bolsonaro. Franco, inclusive, foi aprovado para o cargo na Guiné-Bissau em novembro de 2018.

“Que essa mulher, Shirley Franco, não passe impune. Representando o Brasil na Guiné Bissau, disse que usaria chibata contra os guineenses. É o horror e uma vergonha sem fim para os brasileiros”, criticou a jornalista Tatiana Farah, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

A jornalista do El País, Cecília Olliveira, compartilhou a reportagem destacando as denúncias de racismo e lamentou a falta de punição. “Sabe o que vai acontecer? Nada. A sinhá já marcou uma festa de despedida e punição deles é voltar ao Brasil”, tuitou.