Sem Guarda Municipal, vereadores de Porto Alegre expulsaram ato de fascistas ‘na marra’
“Até quando as forças de segurança pública serão coniventes com manifestações de apologia ao nazismo?”, alertou vereador do Psol
Publicado 21/10/2021 - 06h32
São Paulo – Parlamentares agredidos por um grupo com cerca de 40 extremistas antivacina, que invadiu a sessão da Câmara Municipal de Porto Alegre nesta quarta-feira (20), denunciaram que, apesar de pedirem a expulsão dos extremistas, a Guarda Civil Municipal só agiu no final do tumulto e tiveram que agir por conta própria e enfrentar os agressores. “Tivemos de tirar na marra os extremistas da direita fascista das galerias”, contou o vereador Roberto Robaina (Psol).
Uma foto de autoria de Ederson Nunes, da equipe de audiovisual da Câmara da capital gaúcha, por exemplo, mostra Robaina com os punhos cerrados no enfrentamento ao ataque. Ele era um dos presentes à sessão em que era votada a derrubada ou manutenção do veto do prefeito porto-alegrense, Sebastião Melo (MDB), ao “passaporte da vacina”.
Alguns dos manifestantes contrários à vacina exibiam símbolos extremistas de direita. Um deles, por exemplo, usava uma camiseta com a bandeira Gadsden, dos Estados Unidos, utilizada por supremacistas estadunidenses, e que marcou a invasão de apoiadores de Donald Trump ao Capitólio, em janeiro. Outro manifestante erguia um cartaz com uma suástica.
Atitude
“Não eram apenas contra o passaporte vacinal. Não estavam apenas tirando a máscara toda hora. Tinham cartazes com a suástica nazista. A Guarda, sempre rapidamente chamada pelas presidências da Câmara quando é para agir contra servidores, rodoviários, estudantes, só apareceu no final. Mas nós cumprimos nosso dever e tiramos todos eles da Câmara”, completou Robaina.
Fascistas com símbolos nazistas invadiram a Câmara para impedir a votação do passaporte vacinal. A Guarda Municipal não fez nada e tivemos nós mesmos que expulsá-los! pic.twitter.com/oOTsgbh5Ip
— Roberto Robaina (@RobertoPSOL) October 20, 2021
Por sua vez, o vereador Leonel Radde (PT) também denunciou que a Guarda Municipal não agiu e que, por isso, os parlamentares tiveram de tomar a atitude de expulsar a manifestação extremista. Um vídeo nas redes sociais mostra o momento em que Radde arranca o cartaz com suástica das mãos de um dos manifestantes.
Confira:
Momento em que retiramos das mãos dos fascistas o cartaz nazista! Crimes aqui não! Fascistas não passarão! pic.twitter.com/ymZRHIIZLB
— Leonel Radde (@LeonelRadde) October 20, 2021
O vereador Matheus Gomes, também do Psol, alertou para a falta de ação da Guarda Municipal frente à invasão: “Fascistas tentaram invadir a galeria e o plenário da Câmara de Vereadores (…). Com cartazes nazistas e gritos contra o passaporte vacinal, xingaram e ameaçaram vereadores. Até quando as forças de segurança pública serão coniventes com manifestações de apologia ao nazismo? Um nazista entrou na Câmara, foi expulso do plenário por nós, mas até o momento está impune. Essas pessoas devem ser identificadas, investigadas e punidas por esse crime!”.
Apesar dos pedidos dos vereadores, ninguém foi preso. Nota da Câmara Municipal de Porto Alegre não fez referência à demora das ações para impedir a invasão extremista e garantir a integridade dos parlamentares, sobretudo os de esquerda, principais alvos dos agressores. A Casa limitou-se a afirmar que “em hipótese alguma aceitará apologia à suástica”.
Confira a íntegra:
Nota da Câmara
“Em face dos acontecimentos ocorridos na tarde de hoje (20/10) nas dependências do Plenário da Câmara Municipal de Porto Alegre, o presidente em exercício e a Mesa Diretora desta Casa repudiam com veemência qualquer tipo de manifestação política que utilize o expediente da violência. O plenário da Câmara Municipal é a expressão da democracia na capital dos gaúchos e suas decisões são soberanas. Este Legislativo rejeita qualquer forma de intimidação contra seus integrantes.
Em hipótese alguma esta Câmara aceitará apologia à suástica, símbolo do período mais obscuro da história moderna da humanidade. Aqueles que buscam impor suas vontades pela força ou pelo terror nunca terão guarida nesta Casa. Pelo contrário, tais indivíduos serão submetidos ao rigor da lei e responsabilizados por seus atos.”
Com reportagem de Ivan Longo, da Revista Fórum
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