Relatório final

CPI desnudou incompetência e corrupção dos militares, afirma analista

Para o advogado Jorge Folena, trabalhos da comissão desmitificaram a ideia de que os militares seriam incorruptíveis e mais competentes

Leopoldo Silva/Agência Senado
Leopoldo Silva/Agência Senado
"Um manda, o outro obedece": Durante a gestão Pazuello, o país registrou mais de 250 mil vítimas da covid-19

São Paulo – A CPI da Covid aprovou ontem (26) seu relatório final, que pede o indiciamento de 80 pessoas. Entre elas, o presidente Jair Bolsonaro, ministros, deputados, médicos e empresários. Agora o documento vai ser encaminhado para os tribunais e órgãos de investigação, como a Procuradoria-Geral da República, Ministérios Públicos, a Defensoria Pública da União e, até mesmo, o Tribunal Penal Internacional, em Haia. De acordo com o advogado Jorge Rubem Folena de Oliveira, cientista político e integrante do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), a CPI serviu de importante contraponto aos abusos cometidos pelo governo Bolsonaro. Mas, principalmente, serviu para “desmistificar” a atuação dos militares.

“A CPI serviu para mostrar que os militares, que se diziam mais capacitados, são iguais a qualquer outro”, disse Folena, em entrevista a Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta quarta-feira (27).

Foram indiciados o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e o ministro da Defesa, Walter Braga Netto. Este último, quando era ministro-chefe da Casa Civil, foi o coordenador do Comitê de Crise para combater a pandemia.

Durante a gestão de Pazuello, foram registrados os atrasos na compra de vacinas, em especial a da Pfizer. Folena destaca que depois se descobriu que esse atraso tinha a ver com a compra superfaturada da vacina indiana Covaxin.

Além deles, também constam no relatório militares da reserva e reformados que ocuparam cargos no Ministério da Saúde ou atuaram como lobistas na venda de vacinas que nem sequer existiam.

“Com relação aos militares, os indícios estão aí. Cabe agora aos órgãos de investigação tomarem as medidas cabíveis”, disse o advogado. Ele sugere, inclusive, a participação do Ministério Público Militar para investigar a participação dos fardados nesses casos de corrupção.

Cloroquina e ameaças

Por outro lado, o ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva foi poupado pela CPI. O relatório aponta que a decisão para que o laboratório do Exército aumentasse a produção de cloroquina foi “uma decisão conjunta” de Bolsonaro e de Azevedo e Silva.

Além disso, Folena destacou que os militares chegaram, inclusive, a ameaçar os integrantes da CPI. Foi quando Braga Netto emitiu nota, assinada pelos comandantes militares, em reação à fala do presidente da Comissão, senador Omar Aziz, que citou casos de corrupção envolvendo a “banda pobre” das Forças Armadas. Na ocasião, os militares também realizaram um desfile de tanques em Brasília.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira – Edição: Helder Lima


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