pontos finais

Indignação marca últimos depoimentos à CPI da Covid

Relatório final da CPI da Covid deve estar pronto no dia 19, um dia depois do novo depoimento, o terceiro, do ministro da Saúde

Leopoldo Silva/Agência Senado
Leopoldo Silva/Agência Senado
"Tadeu e Walter, pedimos desculpas a vocês. Perdoa porque não sabem o que fazem. Perdoe quem se excedeu e não teve empatia. Quem não viu a coragem que vimos em vocês", disse o vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues

São Paulo – A CPI da Covid entra, a partir de hoje (7) em sua fase final, a de elaboração do relatório final sobre os trabalhos, iniciados há cerca de seis meses. Os depoimentos desta quinta-feira seriam os últimos da fase de oitivas. Entretanto, uma nova audição do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, teve requerimento aprovado e deve ocorrer no próximo dia 18. Será a terceira vez que o atual ocupante da pasta comparecerá ao colegiado.

Ele deverá responder acusações relacionadas principalmente sobre a falta de planejamento para aquisição de vacinas a partir de 2022. A comissão planeja a leitura do relatório final da CPI da Covid já no dia seguinte ao depoimento do ministro. A sessão que vai votar o relatório final está prevista para o dia 20. Se aprovado, como é esperado, ele será encaminhado para a Procuradoria Geral da República. O relator, Renan Calheiros (MDB-AL), já adiantou que apontará a necessidade de vários indiciamentos criminais, entre eles, o do o presidente Jair Bolsonaro.

O tom do último dia de inquirições foi de reverência aos depoentes e de consternação pela maior tragédia sanitária da história do Brasil. Um dos ouvidos do dia foi o advogado Tadeu Frederico de Andrade, ex-paciente da Prevent Senior, vítima de medicamentos ineficazes e perigosos, como ivermectina e cloroquina, ministrados forçosamente pela operadora. Ele emocionou os senadores em seu relato. “Sou testemunha viva de uma política criminosa (…) e falo em nome de muitos que hoje não tem mais voz”, disse.

Empatia e coragem

O segundo depoente do dia foi o médico Walter Correa de Souza Netto, ex-funcionário da Prevent Senior. O profissional se levantou contra os abusos da empresa e denunciou que era obrigado a prescrever o kit covid, sob ameaça de demissão e de ter “sua família exposta”. O que de fato aconteceu. Senadores bolsonaristas o questionaram sobre ele supostamente ter receitado cloroquina para seus pais. Fato que foi prontamente rejeitado. “Fraudaram laudos de pessoas que morreram com covid e também comigo. Cumpriram a ameaça”, disse.

“Tadeu e Walter, pedimos desculpas a vocês. Perdoem porque não sabem o que fazem. Perdoem quem se excedeu e não teve empatia. Quem não viu a coragem que vimos em vocês. Vimos a coragem de um médico que não titubeou e prestou um testemunho histórico. Vimos a coragem de um brasileiro salvo por suas filhas, sua família. Todos vocês mostraram que tem um outro país, diferente. Um outro país que podemos construir com nossos compatriotas”, disse o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Coleção de crimes

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) fez um resumo dos supostos crimes levados à luz pela CPI. Boa parte deles, contou com a participação direta e indireta de Bolsonaro. “Temos fatos. O presidente apostou no tratamento precoce: crime de charlatanismo. Fato, o presidente apostou na imunidade de rebanho: crime de pandemia qualificada – crime hediondo. Fatos, os ministros da Saúde não tinham autonomia, tinha gabinete paralelo: crime de usurpação da função pública. A CPI da Covid provou que o governo federal recusou 130 ofertas da Pfizer: crime de prevaricação”, disse.

Contarato prosseguiu. “A CPI está provando irregularidades no contrato da Covaxin: corrupção passiva, contra fatos não há argumentos. A CPI provou de forma contundente que o presidente não faz uso de máscaras e é contra distanciamento social: crime, previsto no código penal, de infração administrativa.” O parlamentar encerrou sua participação, enfatizando papel de Jair Bolsonaro no agravamento da pandemia e suas consequências. “É necessário que a população entenda a responsabilidade do governo federal no agravamento da pandemia. Foram 600 mil mortos, 20 milhões de pessoas com sequelas (…) Não podemos permitir isso. O Brasil precisa saber. O presidente é responsável por ação e por omissão. Por dolo direto ou indireto, quando se assume o risco”.

Mesmo a senadora de direita Soraya Thronicke (PSL-MS) se levantou contra o negacionismo do governo e os absurdos relatados na CPI. “Eu sou neta de alemães que vieram no começo do século e sempre foram contra o regime nazista. O que o senador Jean Paul nossa família sempre acompanhou. Mengheli teria inveja de certos cientistas que nos envergonham. O que temos em mãos é muito sério. Entre muitos documentos, temos ameaças a médicos. É terrível o que estamos vivendo. Se Deus é brasileiro, que olhe por nós neste momento”, disse.

Observatório da CPI da Covid

A senadora Zenaide Maia (Pros-RN) fez uma proposta diante da gravidade dos crimes levantados. Ela sugeriu que a CPI não acabe simplesmente, mas que seja montado um grupo para cobrar ações da Justiça. “Queria propor a criação de uma espécie de observatório parlamentar para criar as providências que serão tomadas pelas autoridades em relação aos indiciamentos da CPI. Precisamos continuar observando os resultados. Quando o governo viu que a Prevent Sernior era grande aliada do governo, será que eles encaminharam cloroquina pra eles? Uma pergunta que não quer calar. Esse fanatismo”, disse.

Randolfe, por sua vez, aceitou a proposta e garantiu que será acatada. “Aqueço e recebo essa proposta. Convido todos os membros da CPI a integrarem esse observatório parlamentar de acompanhamento dos resultados desta CPI. A Comissão passará a funcionar como observatório para fiscalizar as ações. Essa CPI investigou porque lamentavelmente teremos 600 mil compatriotas, amanhã, que não estarão conosco”, finalizou.


Leia também


Últimas notícias