ENROLAÇÃO

CPI da Covid: sócio da VTCLog não responde sobre pagamentos a Roberto Dias

Relator afirmou que a VTCLog obteve oito contratos com o Ministério da Saúde, que foram fechados sem processos de licitação

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado
Raimundo Nonato Brasil alegou que Roberto Dias era cliente da Voetur Turismo – que é do mesmo CNPJ da VTCLog

São Paulo – O Sócio da VTCLog Raimundo Nonato Brasil não conseguiu explicar aos senadores da CPI da Covid o motivo de o motoboy da empresa ter pago boleto em nome de Roberto Ferreira Dias, ex-diretor do Ministério da Saúde. Em seu depoimento nesta terça-feira (5), ele negou que houve favorecimento ao ex-integrante do governo Bolsonaro.

O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), lembrou que a comissão tem provas, e até imagens de câmeras do banco, mostrando que boletos foram pagos em favor de Dias. O parlamentar lembrou ainda que, no dia 24 de junho de 2021, o ministério pagou R$ 62,4 milhões à VTCLog e na mesma data foram pagos boletos de R$ 13 mil ao ex-diretor.

Raimundo Nonato Brasil, entretanto, alegou que Roberto Dias era cliente da Voetur Turismo – que é do mesmo CNPJ da VTCLog. “Ele é cliente de outra empresa do grupo, a Voetur Turismo, não é a VTCLog. A VTCLog não pagou o boleto do senhor Dias “, explicou. O relator respondeu que cliente paga, não recebe dinheiro de empresa, e rebateu a versão do depoente.

“O dinheiro que ele tirou no banco era da VTCLog. O cheque que foi sacado naquele dia era da VTCLog. No entanto, o pagamento que se fez em nome de Roberto Ferreira Dias, quer dizer, é o contrário do que vossa excelência está dizendo. Se ele é cliente da Voetur, ele deveria pagar compromissos à Voetur e não receber dinheiro da Voetur mediante o pagamento de boleto”, argumentou Calheiros.

VTCLog e Ministério da Saúde

Durante a oitiva da CPI, o relator apontou que a VTCLog obteve oito contratos com o Ministério da Saúde, que foram fechados sem processos de licitação, entre os anos de 2016 e 2018. Ao todo, a empresa recebeu R$ 335,3 milhões da pasta, enquanto comandada pelo atual líder do governo Bolsonaro na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR).

Raimundo explicou que o Ministério da Saúde tentou contratar os Correios, mas teria sido barrado pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Afirmou ainda que os contratos têm a devida “documentação legal”. O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse que os senadores pedirão ao TCU a justificativa dada na ocasião pelo então ministro Barros para fechar o contrato sem licitação.

A contratação da VTCLog foi feita após extinção da Central Nacional de Armazenamento e Distribuição de Imunobiológicos (Cenadi), durante a gestão de Ricardo Barros. De acordo com o senador Humberto Costa (PT-PE), houve uma licitação, outra empresa ganhou, mas foi desclassificada “para que a VTCLog assumisse”.

De acordo com Nonato, o valor do contrato assinado entre Ministério da Saúde e a empresa é de R$ 97 milhões anuais para prestação de serviços sob demanda. O depoente confirmou ainda que houve um aditivo de R$ 80 milhões no contrato, feito pelo próprio Ministério da Saúde “por conta de aumento de demanda na pandemia”. 

Saques em espécie

O sócio da VTCLog também não conseguiu explica à CPI o porquê da empresa não pagar os sócios por meio do transferências bancárias, mas através de pagamentos em dinheiro vivo, com saques feitos pelo motoboy da própria empresa. “O trabalho da nossa empresa é muito complexo. É uma empresa familiar, tradicional”, argumentou com pouco embasamento.

O relator Renan Calheiros exibiu, então, uma lista de saques feitos pelo motoboy Ivanildo Gonçalves. Entre os valores, há retiradas na ‘boca’ do caixa de R$ 430 mil numa véspera de Natal, em 24 de dezembro de 2018. “Para quem ia esse dinheiro sacado em espécie?”, questionou o senador.

Nonato apontou que não tinha saque de dinheiro para levar para tesouraria, mas o que sobrava de pagamentos servia como “fundo de caixa”. O depoente confirmou que a tesoureira Zenaide ordenava saques que funcionários faziam e a forma de utilização dos valores, mas avaliou que “não há nada de ilegal”.


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