Covardia

CNBB pede providências após ofensas de deputado paulista: ‘Ódio descontrolado’

Bispos querem que Assembleia tome uma atitude e afirmam que também irão recorrer ao Judiciário, “pelo bem da democracia brasileira”

Reprodução/Montagem RBA
Reprodução/Montagem RBA
O papa, a CNBB e o bispo de Aparecida foram atacados por deputado. Dom Walmor (centro) pede reparação após 'discurso medíocre e odioso'

São Paulo – As ofensas de um deputado estadual paulista, na semana passada, provocaram reações no mundo político e religioso. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) afirmou que o político agiu “com ódio descontrolado”. Em carta ao presidente da Assembleia Legislativa, Carlão Pignatari (PSDB) a entidade pediu providências. Além disso, adiantou que vai pedir reparação judicial.

Em pronunciamento na tribuna, na última quinta-feira (14), o deputado bolsonarista Frederico D’Avila (PSL) desferiu ofensa ao arcebispo de Aparecida (SP), dom Orlando Brandes, à CNBB e até ao papa Francisco. Na manhã de ontem (17), a presidência da CNBB divulgou carta aberta ao presidente do parlamento paulista, repudiando “fortemente as abomináveis agressões” (leia o texto na íntegra ao final do texto).

Pátria amada, não armada

No dia de Nossa Senhora Aparecida, terça-feira passada (12), dom Orlando Brandes, em pronunciamento crítico ao governo, afirmou que “pátria amada” não poderia ser “pátria armada”. “Para ser pátria amada, seja uma pátria sem ódio. Para ser pátria amada, uma pátria, uma República sem mentira e fake news. Pátria amada sem corrupção e pátria amada com fraternidade”, afirmou ainda.

Em ´vídeo, o presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo, reagiu ao discurso “ensandecido” do deputado e o que chamou de “postura anticristã”. Assim, ao mesmo tempo em que espera resposta da Assembleia, o bispo afirmou que o Poder Judiciário será interpelado a julgar as agressões covardes proferidas da tribuna”. E disse esperar que as “infelizes declarações” levem às penas previstas em lei. “Em seus 69 anos e história, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil nunca se acovardou. Sempre esteve ao lado da justiça, da verdade e da vida.”

Pela democracia

A entidade espera também entregar pessoalmente o documento ao presidente da Casa. Da qual espera “medidas internas eficazes, legais e regimentais, para que esse ultrajante desrespeito seja reparado em proporção à sua gravidade – sinal de compromisso inarredável com a construção de uma sociedade democrática e civilizada”.

Confira o texto da Carta Aberta da CNBB:

Exmo. Sr.
Deputado Estadual Carlão Pignatari
Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo
Cidadãos e cidadãs brasileiros

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, nesta casa legislativa e diante do Povo Brasileiro, rejeita fortemente as abomináveis agressões proferidas pelo deputado estadual Frederico D’Avila, no último dia 14 de outubro, da Tribuna da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Com ódio descontrolado, o parlamentar atacou o Santo Padre o Papa Francisco, a CNBB, e particularmente o Exmo. e Revmo. Sr. Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida. Feriu e comprometeu a missão parlamentar, o que requer imediata e exemplar correção pelas instâncias competentes.

Ao longo de toda a sua história de 69 anos, celebrada no dia em que ocorreu este deplorável fato, a CNBB jamais se acovardou diante das mais difíceis situações, sempre cumpriu sua missão merecedora de respeito pela relevância religiosa, moral e social na sociedade brasileira. Também jamais compactuou com atitudes violentas de quem quer que seja. Nunca se deixou intimidar. Agora, diante de um discurso medíocre e odioso, carente de lucidez, modelo de postura política abominável que precisa ser extirpada e judicialmente corrigida pelo bem da democracia brasileira, a CNBB, mais uma vez, levanta sua voz.

A CNBB se ancora, profeticamente, sem medo de perseguições, no seguinte princípio: a Igreja reivindica sempre a liberdade a que tem direito, para pronunciar o seu juízo moral acerca das realidades sociais, sempre que os direitos fundamentais da pessoa, o bem comum ou a salvação humana o exigirem (cf. Gaudium et Spes, 76).

Defensora e comprometida com o Estado Democrático de Direito, a CNBB, respeitosamente, espera dessa egrégia casa legislativa, confiando na sua credibilidade, medidas internas eficazes, legais e regimentais, para que esse ultrajante desrespeito seja reparado em proporção à sua gravidade – sinal de compromisso inarredável com a construção de uma sociedade democrática e civilizada.

A CNBB, prontamente, comprometida com a verdade e o bem do povo de Deus, a quem serve, tratará esse assunto grave nos parâmetros judiciais cabíveis. As ofensas e acusações, proferidas pelo parlamentar – protagonista desse lastimável espetáculo – serão objeto de sua interpelação para que sejam esclarecidas e provadas nas instâncias que salvaguardam a verdade e o bem – de modo exigente nos termos da Lei.

Nesta oportunidade, registramos e reafirmamos o nosso incondicional respeito e o nosso afeto ao Santo Padre, o Papa Francisco, bem como a solidariedade a todos os bispos do Brasil. A CNBB aguarda uma resposta rápida de Vossa Excelência – postura exemplar e inspiradora para todas as casas legislativas, instâncias judiciárias e demais segmentos para que a sociedade brasileira não seja sacrificada e nem prisioneira de mentes medíocres.
Em Cristo Jesus, “Caminho, Verdade e Vida”, fraternalmente,

Brasília-DF, 16 de outubro de 2021

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte, MG
Presidente

Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre, RS
1º Vice-Presidente

Dom Mário Antônio da Silva
Bispo de Roraima, RR
2º Vice-Presidente

Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, RJ
Secretário-Geral


Leia também


Últimas notícias