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Ato reúne milhares em Porto Alegre e expõe desafios do ‘Fora Bolsonaro’

As palavras “unidade” e “frente” apareceram na maioria das falas, mas quando o assunto é qual o perfil e a dimensão dessa unidade as divergências aparecem

Luiza Castro/Sul21
Luiza Castro/Sul21
O desafio colocado para as organizações envolvidas no movimento Fora Bolsonaro ficou bem expresso nas falas dos representantes dos partidos políticos que apoiaram a manifestação

Sul21 – Milhares de pessoas voltaram às ruas do centro de Porto Alegre, na tarde deste sábado (2), em uma nova manifestação pela saída do presidente Jair Bolsonaro. Ao todo, 214 cidades do país programaram protestos para este sábado pelo “Fora Bolsonaro”. Na capital gaúcha, o ponto de concentração para o início do ato foi, mais uma vez, o Largo Glênio Peres, ao lado da Prefeitura. Desde o início da tarde, o espaço foi sendo tomado por manifestantes com faixas, bandeiras e cartazes denunciando as políticas de Bolsonaro para a pandemia de covid-19 e para a economia do país. “Genocida” foi uma das palavras mais utilizadas para definir a conduta do atual presidente brasileiro.

O colorido da manifestação expressou também a tentativa dos organizadores de materializar uma frente de partidos, centrais sindicais, sindicatos, movimentos sociais, entidades estudantis e coletivos de diferentes naturezas em torno de uma bandeira comum: o Fora Bolsonaro. O ato político realizado na primeira parte da manifestação expôs alguns dos obstáculos colocados pela conjuntura para materializar essa unidade. As palavras “unidade” e “frente” apareceram na maioria das falas, mas quando o assunto é qual o perfil e a dimensão dessa unidade as divergências aparecem e elas estão associadas, entre outros fatores, às eleições de 2022. O desafio colocado para as organizações envolvidas no movimento Fora Bolsonaro ficou bem expresso nas falas dos representantes dos partidos políticos que apoiaram a manifestação.

Primeiro a falar, o deputado federal Paulo Pimenta, presidente estadual do PT, elogiou o ato deste sábado dizendo que ele demonstra capacidade de unidade. “Não existe outro caminho que não seja o das ruas, da luta e das mobilizações para derrotar esse governo genocida que já matou 600 mil pessoas”. Falando pelo PSOL, a deputada federal Fernanda Melchionna defendeu que não é possível esperar 2022 para barrar Bolsonaro. “Ninguém mais aguenta pagar mais de R$ 100 pelo gás de cozinha. Ninguém aguenta mais o desemprego e um governo que segue aproveitando a pandemia para passar a boiada, como está acontecendo agora com a PEC32. Precisamos da mais ampla unidade de ação nas ruas para derrotar esse governo genocida”, disse a deputada.

Já o presidente estadual do PCdoB, Juliano Roso, defendeu a necessidade de construção de uma frente ampla pela democracia para derrotar Bolsonaro. “Além de derrotar Bolsonaro, precisamos desmascarar o bolsonarismo, esse discurso de direita negacionista e fascista”. Nana Sanches, da Unidade Popular pelo Socialismo (UP), criticou, por sua vez, a proposta de uma frente ampla, incluindo setores do centro político. “É só o povo nas ruas que vai combater Bolsonaro e o bolsonarismo. Isso não será feito com uma frente ampla, mas sim com a luta popular, junto com os trabalhadores em todas as frentes”.

Mari Rodrigues, do Partido Comunista Brasileiro (PCB), foi outra a criticar a estratégia de construção de uma frente mais ampla em direção ao centro para derrotar Bolsonaro. “Devemos olhar para quem está ao nosso lado desde o início dessas manifestações, para os movimentos feministas, os companheiros do movimento negro, os povos originários. Essa vanguarda é que tem que estar na linha de frente. Precisamos de um programa revolucionário e anticapitalista para construir um governo dos trabalhadores. Não queremos nem o fascismo nem a democracia dos ricos”, defendeu.

Daniela Maidana, do PSTU, sustentou por sua vez que a tarefa mais urgente no momento é derrotar o governo genocida de Bolsonaro. “Não podemos esperar as eleições de 2022. Bolsonaro não vai parar. Precisamos construir uma grande greve geral com independência de classe e não depositar nossas esperanças numa frente ampla”, assinalou.

O presidente estadual do PSB-RS, Mário Bruck, foi outro a defender a necessidade de colocar em prática a unidade das forças populares e dos partidos progressistas. “Só venceremos essa luta se alcançarmos essa unidade”. Marcio Souza, presidente estadual do Partido Verde (PV) também falou pela unidade. “Vocês nas ruas são o combustível dessa unidade. O Brasil precisa de uma unidade popular de todos os partidos que se disponham a derrotar Bolsonaro e o fascismo”. 

Nelcir André, presidente da Rede Sustentabilidade de Porto Alegre, afirmou que o ato deste sábado demonstra “a maturidade do nosso povo” em relação ao que é preciso fazer. “Nosso país está doente. Sabemos qual é a doença, Bolsonaro, e qual é a cura, o povo nas ruas”. Durante a fala de Nelcir, militantes do Partido da Causa Operária (PCO), que estavam na frente do caminhão de som, entoaram gritos de “golpista” e um princípio de confusão se formou, sendo controlado em seguida. Em sua fala, Mário Berlese, dirigente do PCO no RS, defendeu “Fora Bolsonaro e todos os golpistas que apoiaram o golpe imperialista que devastou o Brasil para impedir a vitória de Lula”.

Última representante de partido a falar, a deputada estadual Juliana Brizola (PDT), vestida com uma camiseta da candidatura Ciro Gomes à presidência da República, admitiu as divergências com outras forças políticas presentes no ato, mas destacou que “estamos unidos porque sabemos que a continuação de Bolsonaro significa a fome, a miséria e a morte de milhões de brasileiros”.

Após as intervenções dos representantes das centrais sindicais e de outras entidades como a União Nacional dos Estudantes (UNE), começou a segunda parte da manifestação, uma caminhada que saiu do Largo Glênio Peres passou ao lado da rodoviária de Porto Alegre e seguiu pelo túnel da Conceição em direção ao Largo Zumbi dos Palmares. Os milhares de manifestantes tomaram várias quadras desse trajeto sendo acompanhados por efetivos da EPTC e da Brigada Militar. A caminhada, animada por várias pequenas bandas de percussão, transcorreu sem nenhum incidente e recebeu o apoio de pessoas que estavam nas calçadas e em janelas de prédios da região. Os gritos de “Fora Bolsonaro e “genocida” preencheram o final da tarde ensolarada no centro da capital gaúcha.


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