Papel do Estado

‘Reforma’ administrativa passa na comissão especial. Oposição aposta em rejeição no plenário

Deputados oposicionistas avaliam que governo não tem os votos necessários. Para analista, projeto resultará em piora dos serviços prestados à população

Reprodução TV Câmara
Reprodução TV Câmara
Reunião da comissão especial, ontem à noite: oposição reclamou de nova versão de relatório apresentada de última hora

São Paulo – Um ano depois de chegar à Câmara e após muitas reviravoltas, a Proposta de Emenda `à Constituição 32, a PEC da “reforma” administrativa, irá a plenário para votação. Nesta quinta-feira (22), a comissão especial criada para analisar o projeto aprovou o parecer por 28 a 18 – foi a sétima versão do relatório, o que provocou várias reclamações da oposição. Falta ainda votar os destaques. Ampliação da terceirização, favorecimento da iniciativa privada e contratações temporárias (por até 10 anos) e possibilidade de redução de jornada e salário são alguns dos principais problemas apontados pela oposição, que aposta agora na votação em plenário para derrubar o projeto. O governo enfrentou dificuldades na comissão, adiou a votação várias vezes e substituiu deputados para garantir apoio.

Para o analista Antônio Augusto de Queiroz, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), a “reforma” administrativa é ainda pior que a trabalhista. “Ao diminuir o tamanho e o papel do Estado, a “consequência será o aumento da negligência governamental no combate às desigualdades regionais e de renda, e a redução da presença dos pobres no orçamento público”, afirma. “Isso ocorre invariavelmente com a diminuição ou retirada do Estado no provimento de bens e serviços aos cidadãos, às populações, aos territórios vulneráveis e aos desassistidos”, acrescenta.



Assim como na noite de ontem, a reunião da comissão especial, iniciada na manhã desta quinta-feira (23), foi tumultuada. Deputados da oposição acusaram o relator da PEC, Arthur Oliveira Maia (DEM-BA), de apresentar um novo relatório, surgido às 21h08, depois de um acordo feito com base em texto apresentado à tarde. Dessa forma, a votação só foi concluída no final da tarde – o resultado foi anunciado às 17h32.

Irritado, Maia disse que as alterações se referiam a “aspectos de redação”, sem mudança de mérito. Foi contestado. “Da forma que está sendo colocado aqui, parece que tentei dar um golpe.” Ele afirmou que o texto, apesar de vindo do governo, tem “produção” do Legislativo. A inclusão do Judiciário deverá ser objeto de destaque no plenário.

“Maldades” de volta

Segundo Alessandro Molon (PSB-RJ), um acordo previa apresentação de um texto na tarde de ontem, “depois de v´árias conversas com o presidente da Casa, Arthur Lira”. Esse texto foi divulgado às 16h30, e foi nele que a oposição se baseou para apresentar seus destaques. Até que surgiu novo documento, à noite, com retomada de “maldades” que haviam sido excluídas.

A oposição fez novo pedido de retirada de pauta, mas a proposição foi rejeitada por 31 a 15. Pouco tempo depois, houve requerimento de adiamento da discussão, também recusado, quase com o mesmo placar (30 a 15). Na orientação às bancadas, MDB e PSDB, por exemplo, votaram a favor do projeto, junto com o Novo, entre outros.

Direto ao plenário

Enquanto isso, passou a circular a informação de que a PEC 32 não seria mais votada na comissão especial e passaria diretamente ao plenário. Assim, José Guimarães (PT-CE) fez apelo ao presidente do colegiado, Fernando Monteiro (PP-PE), para que não permitisse essa manobra. “Se assim fizer, na prática Vossa Excelência está sendo desmoralizado.” Segundo Guimarães, a complementação do relatório trazia mudanças de mérito.

“Não é uma mudança trivial”, afirmou Guimarães. A deputada Erika Kokay (PT-DF) acrescentou que o relator apresentou, “na calada da noite”, uma complementação de voto “com mudanças substanciais”. Já Alencar Santana Braga (PT-SP) observou que a nova versão, que o relator chamou de “ajuste de redação”, foi alterada em 20%.

Molon observou que o governo substituiu seis integrantes da comissão. Para ele, “prova de que o governo não tem segurança para aprovar essa matéria”. “Se passar aqui na comissão, vai perder no plenário. Se tirarem daqui, é a prova que nem aqui conseguem aprovar. É uma reforma malfadada.”

Para Fábio Trad (PSD-MS), a PEC “amesquinha, corrompe, destrói o serviço público”. Ele afirmou que poucas vezes votou “com tanta convicção contra uma PEC”. Talíria Petrone (Psol-RJ) ironizou: “A maior mazela do Estado brasileiro é o presidente Bolsonaro e quem o sustenta. Quem usa os serviços públicos é justamente o trabalhador mais precarizado”.

Governo birrento

Para André Figueiredo (PDT-CE), aprovar o projeto passou a sre uma questão de “birra”. Por isso, segundo ele, foi reapresentad um relatório “absolutamente nefasto que contradiz frontalmente as plavras do deputado Arthur Maia, onde ele defendia o funcionalismo público com palavras que parecia de um deputado da oposição.” Ele apontou a existência de uma “assessoria do mal, que chega e diz o que pode e o que não pode”.

Mas o parlamentar, assim como outros, continua apostando que o governo não conseguirá aprovar a proposta no plenário, onde são necessários três quintos dos votos. “A PEC não tem o apoio necessário de 308 deputados”, afirmou.