Direitos humanos

Para deputado, projeto que celebra agente da ditadura em São Paulo reflete pauta negacionista

Parlamentar lembra que fenômeno não acontece apenas no Brasil, mas eleição do atual presidente da República deu voz a esse pensamento

Ass. Legislativa SP
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Projeto que homenageia coronel está em comissão da Assembleia Legislativa, e oposição tenta barrar

São Paulo – A Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJR) da Assembleia Legislativa de São Paulo reúne-se virtualmente na tarde desta quarta-feira (22) e deve discutir, entre outros itens, o projeto que homenageia o ex-deputado e ex-secretário da Segurança P´ública Erasmo Dias. Por enquanto, o Projeto de Resolução 16 está com o deputado Paulo Fiorilo (PT), que pediu vista. Para ele, a iniciativa de um grupo de deputados reflete um pensamento identificado em alguns países da Europa, por exemplo, e ainda muito presente no Brasil. E que voltou a ganhar força com a eleição do atual presidente da República.

“Infelizmente, temos um presidente que nos envergonha todos os dias e continua defendendo pautas negacionistas”, diz Fiorilo. As comissões da verdade tiveram um papel importante, mas no Brasil você ainda tem uma parcela que defende essas pautas. O Bolsonaro verbaliza isso”, avalia.

O projeto institui a “Medalha do Mérito da Segurança Pública Deputado Erasmo Dias”. O ex-coronel, que morreu em 2010, é sempre lembrado por ter comandado a invasão do campus da Pontifícia Universidade Católica (PUC), no bairro de Perdizes, zona oeste de São Paulo, em setembro de 1977. A operação, truculenta, foi iniciada com bombas, que feriram estudantes. E terminou com a prisão de 2 mil pessoas. O militar também sempre defendeu o golpe de 1964.

Debate na sociedade

A oposição ainda estuda a estratégia para barrar o projeto. Na CCJR, o PT tem, além de Fiorilo, o deputado Emídio de Souza – que na sessão de hoje também pediu vista. O colegiado é formado por dois integrantes do PSL, dois do PT, dois do PSDB, além de PSB, DEM, PL, Novo, Republicanos, PP e PSD. Os tucanos têm a presidência (Mauro Bragato) e o relator (Marcos Zerbini), que deu parecer favorável à matéria.

“A eleição do Bolsonaro trouxe para o Legislativo, federal e estaduais, parlamentares de extrema direita. Que defendem ditadura, golpe militar, eugenismo. Todas as pautas que nós achávamos que vinham sendo superadas, ou que a sociedade havia rejeitado”, comenta Fiorilo. Para ele, o Brasil tentou enfrentar o tema “da maneira possível”, demonstrando o que representou o período autoritário. Mas a chamada justiça de transição foi parcial, e ainda se encontram homenagens públicas a agentes da ditadura ou que praticaram violações de direitos humanos. “`Precisamos insistir nesse debate.”


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