Sem noção

‘Alguém já me viu brigando com alguma instituição?’, pergunta Bolsonaro

Desde o ano passado, o meio jurídico já questionava se o presidente da República teria “pleno conhecimento das suas faculdades mentais”

Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
No discurso em que responde Luiz Fux, o “chefe da Nação” diz acreditar que “o Brasil está em paz”

São Paulo – Apesar da promessa de se moderar, feita ao Centrão quando levou o senador Ciro Nogueira (PP-PI) à Casa Civil, Jair Bolsonaro não se emenda. Pouco depois do pronunciamento do presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, alertando manifestantes que pretendam ameaçar a democracia no 7 de setembro, o presidente respondeu com ironia: “Alguém já me viu brigando com algum poder, alguma instituição?” Fora os ataques costumeiros em seu cercadinho, há duas semanas o próprio presidente protocolou no STF um pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes. O pedido não prosperou, mas foi feito.Nesta quinta-feira (2), após reunião com governadores, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que preside o Congresso Nacional, também deu um recado. Ele apoiou o Segundo Manifesto dos Mineiros ao Povo Brasileiro.

O documento foi assinado por cerca de 300 “cidadãos” em defesa da democracia, e reúne grandes empresários de Minas Gerais ligados, principalmente, ao comércio. Foi uma resposta de Pacheco a Bolsonaro, que ontem disseminou em suas redes outro manifesto mineiro, da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). A entidade, em apoio ao governo, protestou contra o que chama de “exacerbação” do STF em sua ofensiva contra mentiras nas redes bolsonaristas.

“Democracia não pode ser ameaçada”

“A ruptura pelas armas, pela confrontação física nas ruas, é sinônimo de anarquia, que é antônimo de tudo quanto possa compreender uma caminhada serena, cidadã e construtiva. A democracia não pode ser ameaçada, antes, deve ser fortalecida e aperfeiçoada. O que se pretende provocar é outro tipo de ruptura: a ruptura através das ideias e da mudança de comportamentos em todas as dimensões da vida”, afirmam os signatários do Manifesto dos Mineiros ao Povo Brasileiro, entre os quais Salim Mattar. Trata-se do presidente da Localiza, que foi secretário de Desestatização do atual governo, e um dos principais articuladores empresariais da eleição de Bolsonaro.

Eles afirmam que seu objetivo “é construir (na verdade, reconstruir) um projeto de Nação para o Brasil, dando sentido novo ao que seja patriotismo, de modo a fazer do povo brasileiro uma gente mais feliz e colocando o Brasil como Nação altiva, livre e democrática no concerto das Nações”. 

Ontem, ao final da sessão do Senado, Pacheco saudou o “Segundo Manifesto dos Mineiros ao Povo Brasileiro”, por ser “assinado por cidadãos, pessoas naturais – e não pessoas jurídicas, nem entidades”. Mas enalteceu “sobretudo” o fato de a carta ser dedicada “à preservação da democracia no nosso país”, em clara alusão ao documento bolsonarista da Fiemg. E ao mesmo tempo remetendo ao Manifesto dos Mineiros, de 1943, assinado por “pessoas físicas” da elite política e liberal do estado, contra o Estado Novo.

“Brasil está em paz”

No discurso em que responde Fux, o “chefe da Nação” diz acreditar que “o Brasil está em paz”. “Está faltando uma ou outra autoridade reconhecer que extrapolou e trazer a paz para o Brasil”, afirmou. Apesar de mencionar a paz, especulações dão conta de que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, teria pedido demissão. Em entrevista coletiva, o ministro negou a informação, divulgada por um site. “Eu não sei a quem interessa essa indústria de boatos”, afirmou Queiroga. “Eu nem pedi demissão, nem vou pedir demissão, vou ficar até o dia em que o presidente da República entender que eu sou útil”, garantiu.

Bolsonaro tem adotado posição de ataque ante a crescente queda de sua popularidade. Pesquisa do PoderData, realizada entre segunda e quarta-feira, informa que a aprovação do governo caiu 4 pontos percentuais, para 27%, índice mais baixo já registrado pelo instituto. Já os que desaprovam são quase dois terços dos pesquisados, 63%.

Até quando?

Analistas costumam dizer que não se sabe até quando o Centrão pagará o preço de sustentar Jair Bolsonaro e seu governo. Desde o ano passado, o meio jurídico já questionava se o presidente teria “pleno conhecimento das suas faculdades mentais”. No terceiro ano de mandato, com popularidade em queda, tensões institucionais e quase 600 mil mortos pela pandemia de covid-19, ele parece desafiar mais e mais a paciência dos apoiadores que ainda lhe restam no meio político.


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