Manobra

Lobista da Precisa alega ‘dor pélvica’ para fugir da CPI. Senadores reagem

Marconny Faria, ligado a filho de Bolsonaro, apresentou atestado que pode inviabilizar seu depoimento à comissão. “Governo está envolto em prevaricação, corrupção ativa, formação de quadrilha, entre outros”

Leopoldo Silva/Agência Senado
Leopoldo Silva/Agência Senado
Os senadores Omar Aziz (PSD-AM) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) tentam garantir a presença de Marconny Faria e Marcos Tolentino na CPI da Covid-19 através de condução coercitiva

São Paulo – Os senadores Omar Aziz (PSD-AM) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), respectivamente presidente e vice-presidente da CPI da Covid-19, tentam garantir os depoimentos de Marconny Faria e Marcos Tolentino à comissão. Faria é lobista ligado à Precisa Medicamentos e também possui relações com a família Bolsonaro. Tolentino, por sua vez, é apontado como sócio oculto do FIB Bank, além de ser amigo do deputado federal Ricardo Barros (PP-RR), líder do governo na Câmara. Eles são peças-chave para desvendar o escândalo de corrupção que envolve o núcleo do governo do presidente e a compra de vacinas da Covaxin com contratos fraudulentos.

Para a CPI, ambos adotaram “estratégia suspeita” para tenta fugir da investigação, já que apresentaram atestados médicos do mesmo hospital, o Sírio Libanês, de São Paulo. Tolentino com “formigamento” e Faria, com “dor pélvica”. O atestado deste último, porém, lhe garante “repouso” de 20 dias, coincidentemente o período anunciado para a apresentação do relatório final da CPI da Covid. Logo, não haveria tempo hábil para a oitiva.

Para confirmar a veracidade dos atestados, Aziz contactou a presidência do Sírio Libanês e aguarda resposta. Também foram expedidos pedidos na Justiça para o comparecimento dos suspeitos “sob vara”, ou seja, a partir de condução coercitiva, caso se recusem a atender a convocação. “Não creio que o Sírio assine estes atestados médicos no mesmo dia em que essas pessoas viriam depor na CPI. Eles estão com medo. Mas a CPI não vai parar. Vamos chamar aqui também os médicos que estão protegendo bandidos. Quero saber qual trabalhador brasileiro fica 20 dias em casa após entrar no hospital com uma dor pélvica. Quantos atestados do tipo o Sírio dá por dia? “, disse Aziz.

Relações promíscuas

Tolentino apresentou o atestado ontem (31) às 15h30. Durante a noite, às 20h, ele concedeu uma entrevista para um canal de direita no YouTube em que aparece várias vezes sorrindo. Além das suspeitas de contratos fraudulentos de vacinas que recaem sobre a dupla, reportagem de hoje da Folha de S.Paulo aponta que o filho mais novo do presidente, Jair Renan Bolsonaro, abriu uma empresa com ajuda do lobista Faria.

O dia da CPI da Covid

Os parlamentares da CPI da Covid ouviram hoje o motoboy Ivanildo Gonçalvez. Ele trabalha desde 2009 para a VTCLog, empresa investigada por relações suspeitas com o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias. Ivanildo, com salário de 1.700 reais, sacou milhões de reais na boca do caixa. O dinheiro era utilizado para pagamentos dentro do mesmo banco. Entre os beneficiários destas transações suspeitas, está o próprio Dias. Curiosamente, Ivanildo deixou de fazer seu trabalho com a intensidade de costume após o início da CPI, três meses atrás.

“Caiu aqui o mito de que o governo pudesse ter sido vítima de picaretas. O governo está dentro deste bando de picaretas. Caiu o mito. Mito de que militares, secretários e parlamentares ligados ao governo estão livres de crimes. Este governo está envolto em prevaricação, corrupção ativa e passiva, estelionato, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, entre outros crimes”, resumiu o senador Jean-Paul Prates (PT-RN).

Juramento

Ivanildo havia obtido um habeas corpus para não comparecer à CPI. Mesmo assim ele resolveu comparecer “para evitar assédio da imprensa”. Entretanto, o motoboy não jurou dizer a verdade e senadores apontaram que ele pode ter se omitido em alguns questionamentos, como quem eram os beneficiários diretos dos pagamentos. Diante disso, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-RS) pediu à Justiça que execute busca e apreensão em seu celular. E fez uma recomendação: “Você responde a ordens, não é culpado de nada. Se alguém da empresa quiser apagar coisas do seu telefone, não autorize para não se incriminar”.

Os senadores também aprovaram a convocação dos chefes de Ivanildo, em especial Zenaide Sá Reis, responsável pelo setor financeiro da VTCLog. Diante do trabalhador, os senadores foram amenos em seus questionamentos e, inclusive, o elogiaram pelo comparecimento. “Vossa senhoria representa 95% da população brasileira. Paga seus impostos direitinho e quando precisa da Saúde pública não tem. Amigos seus podem ter morrido de covid-19. E não teve vacina, porque o governo, além de omisso, é corrupto”, disse a senadora Simone Tebet (MDB-MS).


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