Desafio

Haddad defende união contra direita e tucanato em São Paulo: ‘Gestão Doria não aconteceu’

“Não existe na história do Brasil exemplo de não alternância de poder como em São Paulo”, observa Juca Kfouri. Haddad, França e Boulos podem virar essa página, acredita o petista

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“Não é pecado não conseguir (unir o campo progressista para derrotar a direita em SP). Mas é pecado não tentar", diz Haddad a Juca Kfouri

São Paulo – Professor universitário, intelectual, ex-ministro da Educação, ex-prefeito de São Paulo, e adversário de Jair Bolsonaro na eleição presidencial de 2018, Fernando Haddad (PT) é o convidado do programa Entre Vistas, com o jornalista Juca Kfouri, nesta quinta-feira (16), pela TVT. De cara, Juca questionou o pré-candidato do PT do governo do estado de São Paulo sobre a provável candidatura. Ou por que não ser um nome forte numa disputa ao Congresso, para fortalecer um eventual governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Afinal, livre e vitorioso nos processos judicias que o tiraram da eleição de 2018, Lula é favorito absoluto em todas as pesquisas de intenção de voto.

Juca Kfouri lembrou que o estado de São Paulo é governado pelos tucanos do PSDB desde 1995. Ou há 40 anos, se considerar que vem desde Franco Montoro (PMDB), em 1982, que acabou no PSDB. “Não existe na história do Brasil um exemplo de não alternância de poder como no caso de São Paulo. Como enfrentar essa situação?”, questionou.

“Acho que o estado está maduro para isso. Tenho dado entrevistas no interior. Fiquei encarregado pela Fundação Perseu Abramo de começar a elaborar uma minuta de plano de governo, um plano de desenvolvimento para o estado. E eu tenho dialogado com muitas lideranças de várias regiões doe São Paulo que, como você sabe, concentra mais de 1/3 do PIB nacional”, revelou Haddad. “É um estado muito importante, inclusive, para o projeto nacional. São Paulo tem de ajudar a liderar o processo de recuperação do país. Acho que nunca as condições foram tão maduras para uma alternância.”


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PSB, fiel da balança

As condições para isso, afirmou o ex-prefeito, são claras. É preciso que se faça um bom plano de governo. “Não adianta sair sangria desatada, lançando candidatura, sem ter solidez nas propostas a apresentar, sobretudo para o interior que é a região do estado que tem dado as vitórias ao PSDB.” Em 2018, Doria perdeu na capital para Marcio França na eleição para governador.

Além disso, como avalia Haddad, é preciso “ampliar”. E isso significa “sentar à mesa” com pessoas envolvidas com o estado de São Paulo. “Acho muito difícil sair lançando nome e candidatura, sem sentar à mesa com as pessoas que estão envolvidas no estado de São Paulo. Na minha opinião temos alguns partidos que são centrais nisso. Os habituais, PCdoB, PDT, Psol. Mas acho que o PSB também pode fazer um papel importante nessa coalizão para virar a página aqui do estado de São Paulo. O PSB tem sido o fiel da balança a favor dos tucanos.”

O ex-ministro da Educação acredita que o racha no PSDB, mais a questão do bolsonarismo em São Paulo, indicam uma divisão no campo mais conservador que permite à ala progressista “sonhar” com uma candidatura competitiva. “Para isso, nós temos de baixar a ansiedade e trabalhar, porque às vezes a ansiedade atrapalha. E estudar muito, porque é um estado muito complexo, é um país. Temos de juntar gente muito experiente para não errarmos.”

Com a experiência como prefeito da maior cidade da América do Sul, Haddad afirma que diante da “perspectiva de poder” é preciso governar bem a partir do primeiro dia. “E São Paulo não dá pra aprender durante o vôo, tem de aprender antes. Tanto a cidade, quanto o estado, e o país, têm dimensões continentais do ponto de vista econômico.”

Pecado não tentar

Sobre suas viagens pelo interior do estado, Haddad confirmou a Juca Kfouri que as cidades do interior, a exemplo da capital, já se deram conta do “engodo”, como classificou o entrevistador, de eleger João Doria (PSDB) governador em 2018. “Acho que existe um sentimento de que a gestão Doria não aconteceu”, cravou o petista. “Na verdade houve até o desmonte de setores, órgãos importantes do estado. E nós temos hoje uma máquina menos eficiente do que nós tínhamos no passado.”

Fernando Haddad lembra, ainda, que o então candidato Márcio França (PSB) perdeu por uma margem muito estreita, já em 2018. “E em função dos votos contrários a Doria na capital, onde ele perdeu para o Márcio França. Por isso eu digo: se eu, Márcio França, Orlando Silva (PCdoB), (Guilherme) Boulos (Psol) nos unirmos, é possível, eventualmente, apresentar uma chapa forte para o estado de São Paulo com uma perspectiva maravilhosa de fazer com que o estado mais pujante do ponto de vista econômico, seja também o mais pujante do ponto de vista de políticas públicas”, destaca o ex-prefeito.

“Não é pecado não conseguir, mas é pecado não tentar. É o que o Brasil precisa nesse momento: que São Paulo dê o exemplo de como mudar a realidade social e econômica da maioria da população brasileira, começando pelo estado que tem mais e melhores condições de fazer isso.”

Assista ao programa

Durante os pouco mais de 50 minutos do Entre Vistas, Haddad fala com Juca Kfouri também sobre a conjuntura nacional. “O Brasil está vivendo uma grande esquizofrenia que só atende ao interesse dos de cima, que estão ganhando fortunas. E o povo não consegue comprar carne, arroz, feijão, não consegue abastecer, inflação perto de dois dígitos, desemprego de dois dígitos e uma crise energética anunciada”, diz.

Haddad responde, ainda, perguntas sobre como fortalecer a educação pública, em frangalhos no estado. Fala também sobre moradia e direito à terra. Critica as fake news e o grande espaço na mídia comercial aos processos judiciais contra ele e o ex-presidente Lula, e desigual divulgação quando foram inocentados.