MENTIRAS QUE MATAM

Senadores apontam crimes em falas negacionistas de empresário bolsonarista

Otávio Fakhoury confirmou à CPI da Covid que fez doações para campanha de Bolsonaro em 2018 e negou envolvimento em venda de vacinas

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado
Fakhoury, sob o argumento de que se tratava de "sua opinião", criticou a eficácia vacinas, desdenhou a segurança do uso de máscaras e exaltou medicamentos sem eficácia comprovada

São Paulo – O empresário bolsonarista Otávio Fakoury usou seu depoimento na CPI da Covid, nesta quinta-feira (30), para defender o negacionismo e propagar mentiras sobre vacinas e as medidas não-farmacológicas, como o uso de máscara. Os senadores classificaram as falas como criminosas.

Fakoury, sob o argumento de que se tratava de “sua opinião”, criticou a eficácia das vacinas, desdenhou a segurança do uso de máscaras e exaltou medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento da covid-19. O empresário disse também que ele e sua família não se vacinaram contra o vírus.

O vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que o posicionamento de Fakoury era criminoso. “Quando a liberdade de opinião atinge a saúde pública, não é mais opinião. É crime”. Em outro momento, o parlamentar pediu aos telespectadores que não acreditassem no depoente. “Não ouçam esse senhor. Não há remédios para curar covid-19. Só medidas não farmacológicas e vacinas salvam. É o que a ciência comprovou”, acrescentou.

O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou também que o depoente estava se auto-incriminando, por desrespeitar o artigo 268 do Código Penal, que versa sobre infrações de medidas sanitárias para evitar a propagação de doença contagiosa.

Ligação com Bolsonaro

Durante a oitiva, o depoente, que compartilha das posições de Jair Bolsonaro, negou que tenha relação com o presidente da República. Entretanto, confirmou que fez doações ao PSL, partido do então candidato Bolsonaro, durante a campanha presidencial de 2018.

Calheiros leu parte do inquérito da Polícia Federal sobre os atos antidemocráticos, que aponta que o depoente fez doação para a campanha, sem declaração. Otávio Fakoury bancou quase R$ 50 mil em material para campanha. Os gastos não constam na declaração à Justiça Eleitoral.

“Durante a campanha, enquanto Bolsonaro estava acamado, ajudei grupos que estavam imprimindo materiais de campanha, por isso não foi declarado no TSE”, explicou o empresário bolsonarista. Em seguida, a sessão foi brevemente suspensa, após o advogado de defesa criticar o relator e dizer que Calheiros tirou “conclusões” ao afirmar que o empresário doou para campanha de Bolsonaro sem registrar ao TSE.

Instituto Força Brasil

Otávio Fakoury é vice-presidente da organização de extrema direita Instituto Força Brasil (IFB). O coronel Helcio Bruno de Almeida, presidente da entidade, foi um dos responsáveis pela negociação de vacinas com a empresa Davati que nunca existiram.

O IFB tem suas redes sociais cheias de fotos e documentos que mostram sua proximidade com o governo federal e o presidente Jair Bolsonaro, além de ativismo negacionista e a campanha “criminosa” contra medidas de combate à pandemia.

Anti-vacina, Fakoury foi perguntado pela CPI da Covid o porquê de estar ligado a uma entidade que queria vender vacina ao governo. Ele respondeu que não sabia da negociação e que estão debatendo “se vão trocar a diretoria ou extinguir o instituto”.

Ele confirmou ser amigo pessoal de Hélcio Bruno, mas acrescentou não saber sobre as publicações negacionistas do IFB, e nem sabia sobre nada do instituto. “Mas você era vice-presidente e custeava todo o projeto”, rebateu Renan Calheiros.