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CPI da Covid aponta tráfico de influência por Marconny Faria com ex-mulher e advogada de Bolsonaro

Comissão aponta articulação entre o lobista da Precisa Medicamentos e pessoas ligadas a Bolsonaro para indicações a cargos no governo

Roque de Sá/Agência Senado
Roque de Sá/Agência Senado
Durante a oitiva na CPI da Covid, o lobista Marconny Faria confirmou que mantém uma relação de amizade com Jair Renan Bolsonaro, filho do presidente da República

São Paulo – Os senadores da CPI da Covid apontaram, nesta quarta-feira (15), que houve uma articulação entre o lobista da Precisa Medicamentos Marconny Faria, Ana Cristina Bolsonaro e Karina Kufa, respectivamente ex-mulher e advogada do presidente Jair Bolsonaro, para indicações de pessoas a cargos no governo federal. Durante o depoimento de Marconny, na sessão de hoje da comissão , o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AL) defendeu, inclusive, a convocação de Ana Cristina. Segundo o parlamentar, ela “encaminha” currículos de pessoas indicadas pelo lobista para ocupar cargos no governo federal. Questionado sobre o assunto, o depoente usou direito ao silêncio “para não se autoincriminar”.

“Ana Cristina interveio em favor do senhor para indicação de cargos no governo federal?”, perguntou Randolfe ao depoente, que nada respondeu. “Ele precisa usar esse direito, porque ela encaminha currículos de indicados por Marconny para ocupar cargos no governo federal”, afirmou o senador em seguida.

Currículo encaminhado

Com acesso a mensagens do lobista, com a quebra de sigilo autorizada pela justiça, Rodrigues expôs que Marconny mandou o currículo de Marcio Roberto Teixeira Nunes para Karina Kufa, que respondeu ter feito o arquivo chegar ao presidente Jair Bolsonaro. Dias depois, Marcio foi empossado na direção do Instituto Evandro Chagas,(IEC) em Belém. O órgão é vinculado à Secretaria de Vigilância em Saúde.

Randolfe então perguntou se o depoente teve participação na mudança da direção do IEC e Marconny negou. “Como não? Você mandou um currículo para a Kufa, que encaminhou para Ana Cristina. Depois a direção do instituto foi substituída. Isso não é influenciar?”, questionou Randolfe, que acrescentou: “Isso não é sigilo profissional da Karina Cufa, é tráfico de influência”.

Em outubro de 2020, a Polícia Federal deflagrou a Operação Parasita, no âmbito de uma investigação de um esquema de desvio de recursos públicos do IEC. Durante a ação, Marcio Roberto foi preso e acusado de repassar cerca de R$ 300 mil em propinas a outros investigados para assegurar sua nomeação no Instituto.

“Estamos diante do arquétipo do governo Bolsonaro, que prega a luta contra a corrupção, mas faz esses esquemas. Dizem que a Karina Kufa tem sigilo profissional, mas prega tráfico de influência. Isso tudo é uma síntese de um capítulo triste da nossa história”, criticou o senador da Rede.

Marconny e os Bolsonaro

Durante sua oitiva à CPI da Covid, o lobista Marconny Faria confirmou sua relação de amizade com Jair Renan Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro e Ana Cristina. Também confirmou que o auxiliou na abertura de um empresa de promoção de eventos. “Ele (Renan) queria criar uma empresa de influencer. Só apresentei ele para um colega tributarista que poderia auxiliar na abertura dessa empresa”, relatou Faria. O depoente também reconheceu que chegou a comemorar o seu aniversário em um camarote no estádio Mané Garrincha, em Brasília, de propriedade de Jair Renan Bolsonaro.

Antes de assumir a amizade com o filho do presidente, Marconny foi questionado pela CPI sobre suas relações no Senado. Fabiano Contarato (Rede-ES) apontou mensagens do lobista afirmando que um senador “desataria os nós” nos processos licitatório para aquisição de testes de covid-19. O depoente, entretanto, recusou a dizer o nome. Em seguida, os senadores aprovaram requerimento que solicita registros de entrada de Marconny Faria no Senado e na Câmara. A CPI quer que a Polícia Legislativa informe quantas vezes o depoente entrou no Congresso Nacional, bem como o destino, a data e o servidor que autorizou.

Precisa Medicamentos

Marconny foi convocado à CPI da Covid por ser suspeito de ter atuado em favor da Precisa Medicamentos junto ao Ministério da Saúde na intermediação da compra de um lote de vacinas Coxavin. O colegiado obteve mensagens trocadas entre o lobista e o ex-secretário da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) José Ricardo Santana. Na conversa, Santana menciona que conheceu Marconny na casa de Karina Kufa.

Logo no começo do depoimento, Faria foi vago em relação à sua atividade profissional, limitando-se a dizer que tem uma “empresa de assessoramento técnico-político” que faz “análise de estudos de viabilidade política” para empresas privadas. Depois, respondeu as perguntas lendo um texto pronto preparado pela defesa.

Marconny pertenceria a um grupo, formado pelo deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), pelo ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias, pelo ex-secretário da Anvisa José Ricardo Santana e outros, suspeitos de operar em licitações.

Apesar das evidências apontadas pela comissão, ele negou ter sido remunerado pela Precisa, mas afirmou que recebeu “sondagens” para atuar em uma licitação para a compra de testes para o coronavírus pelo Ministério da Saúde. Segundo ele, foi apenas consultado pela Precisa Medicamentos para atuar com assessoramento político junto ao Ministério da Saúde.

O relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), disse ter informações de que houve atuação do depoente para prejudicar outras empresas na licitação da compra de testes para detectar a covid-19. O parlamentar quis saber de quem foi a autoria da fraude. “Essa arquitetura é da sua cabeça, da cabeça do Maximiano ou da cabeça do Roberto Dias?”, perguntou o parlamentar. “Isso foi enviado pela parte técnica da Precisa, senhor senador”, respondeu o lobista.


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