SEM RESPOSTAS

CPI da Covid: Danilo Trento se cala sobre Precisa e tem sigilos quebrados

Apontado como suposto dono da Precisa, empresário se recusou a responder se possui sociedade com Francisco Maximiano e negou relações com família Bolsonaro, embora tenha admitido ter conhecido integrantes em “eventos públicos”

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado
Com habeas corpus, empresário recusou responder as perguntas para "não se incriminar"

São Paulo – O depoimento do empresário Danilo Trento na CPI da Covid foi marcado pelo uso do direito ao silêncio, recusando-se a responder a maioria das perguntas dos senadores, na manhã desta quinta-feira (23). Sem respostas, os parlamentares aprovaram requerimento para quebra de sigilos telefônico, telemático e bancário do empresário.

Danilo Trento é sócio da empresa Primarcial Holding e Participações, com sede em São Paulo e no mesmo endereço da empresa Primares Holding e Participações, cujo sócio é Francisco Maximiano. O empresário também foi apontando pelo lobista Marconny Faria como “verdadeiro dono” da Precisa Medicamentos.

Os senadores chegaram à CPI da Covid com material colhido a respeito do envolvimento de Danilo Trento na negociação envolvendo a vacina indiana Covaxin e o Ministério da Saúde. Com habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), na noite da última quarta-feira (22), o depoente não rebateu as acusações e se calou, para “não se incriminar”.

No começo do depoimento, Trento informou que é diretor-institucional da Precisa e amigo de Francisco Maximiano, dono da empresa. O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), perguntou se a Primarcial tinha ligações com a Precisa. O empresário negou, mas senadores insistiram na pergunta, então o depoente exerceu o direito ao silêncio.

O depoente também negou ter participado das tratativas da compra da vacina indiana Covaxin, apesar de ter viajado à Índia com membros da empresa para comprar o imunizante. Perguntado sobre o preço da vacina indiana, ele explicou que os US$ 15 foram estipulados pela fabricante Bharat. Renan rebateu: “Há provas de que a Barath cobrava US$ 10, mas o preço subiu para US$ 17 sem motivos.”

Silêncio de Danilo Trento

O relator Renan Calheiros afirmou que há um “emaranhado de empresas”, que envolve as mesmas pessoas presentes em diferentes companhias, e o mesmo dinheiro repassando em cada uma delas. Ele também questionou Danilo Trento sobre um e-mail atribuído ao investigado Marconny Faria, descrevendo a “arquitetura ideal” para direcionar uma fraude na licitação de compra de testes de covid-19. As investigações apontam que o empresário teria participado da ação.

“Como o senhor se sentiu redigindo esse documento? O senhor acha que está dando uma contribuição?”, perguntou o senador. Trento recorreu ao direito ao silêncio e não respondeu. Renan então questionou se Marconny fez articulações políticas para a Precisa. O depoente pediu para falar com advogados reservadamente, saiu da sala e, quanto voltou, negou que o lobista havia sido contratado diretamente pela empresa.

Irritação dos senadores

A relação de Danilo Trento com Roberto Ferreira Dias, ex-secretário de Logística do Ministério da Saúde, também foi alvo dos questionamentos de Renan. O empresário disse que só se encontrou uma vez com Dias, após solicitação formal à pasta. O relator perguntou se Danilo teve encontro com o ex-secretário fora das dependências do ministério, que respondeu não lembrar.

Renan leu mensagens sobre uma confraternização no apartamento de Roberto Dias, em Brasília, e perguntou se o depoente tinha ido a essa confraternização. Trento ficou em silêncio.

O presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM) se irritou com a falta de respostas. “Vou conseguir um gravador pra ele não ficar repetindo que vai ficar em silêncio”, ironizou. Em seguida, perguntou se o empresário “participou da morte de Getúlio Vargas”. O integrante da Precisa negou e Omar respondeu: “Então vamos concluir que toda vez que o senhor não responder a uma pergunta sobre a Precisa, é um ‘sim’.”

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) chegou a dizer que seria possível pedir a prisão de Danilo Trento pelo “excesso de silêncio injustificável” e lembrou que depoente omitiu informações até de onde trabalha. O empresário pediu outra reunião com advogados e a sessão foi suspensa.

Relação com a família Bolsonaro

Perguntado se tinha relações com a família Bolsonaro, Danilo Trento se negou a responder, recorrendo mais uma vez ao direito ao silêncio, o que causou estranheza por parte dos senadores da CPI da Covid. Parlamentares como o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), não entenderam o que poderia haver de incriminador na resposta.

Questionado novamente, o depoente admitiu ter se encontrado com integrantes da família do presidente, “alguns publicamente, outros em eventos”, citando o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ). Mais adiante, Randolfe perguntou se Trento conhecia o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), recebendo uma negativa como resposta. O senador o confrontou, mostrando um diálogo entre o empresário Marconny Faria e Trento, datado de 13 de junho de 2020, no qual o depoente diz que “o Eduardo me conhece”. O empresário permaneceu em silêncio.

Luciano Hang na CPI da Covid

Antes de iniciar a oitiva, a CPI da Covid aprovou a convocação do empresário bolsonarista Luciano Hang, dono da Havan. Ontem, foi revelado que houve fraude no atestado de óbito da mãe do empresário para ocultar a ineficácia do chamado “kit covid”.

“Com certeza ele ficará muito feliz em vir à CPI”, disse o senador Omar Aziz. O depoimento foi marcado para a próxima quarta-feira (29). Esta é a segunda vez que Hang é convocado pela CPI. Em 30 de junho, os senadores aprovaram sua convocação para prestar depoimento, mas não haviam marcado data.

A CPI também aprovou a convocação da advogada Bruna Morato, que representa os médicos da Prevent Senior que denunciaram irregularidades e uso de pacientes como cobaias do “kit covid”. Ela fala na comissão na próxima terça-feira (28). A advogada procurou a CPI da Covid para dizer que ela, em nome dos profissionais que fizeram as denúncias, está disposta a comparecer à comissão para prestar depoimentos e relatar irregularidades.

Bate-boca entre Renan Calheiros e Jorginho Mello

A CPI da Covid também teve um momento de bate-boca entre Renan Calheiros e o senador Jorginho Mello (PL-SC) que levou à suspensão temporária da sessão.

O relator afirmou que foi “essa gente escolhida pelo presidente para comprar vacina”, salientando que fatos como as negociações suspeitas na negociação de imunizantes fariam com que a percepção das pessoas em relação à presença de corrupção no governo federal aumentasse. Jorginho defendeu Bolsonaro, falando que Renan não tinha “envergadura” para falar do presidente.

A partir dali, o clima se acirrou, com o senador catarinense se irritando com a menção do relator ao empresário Luciano Hang. Os dois trocaram xingamentos e se levantaram de seus assentos para trocar insultos. Confira abaixo:


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