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‘Bolsonaro vai perder noites de sono com relatório da CPI’, afirma Humberto Costa

Comissão ouviu nesta terça Marcos Tolentino, “sócio oculto” do FIB Bank, empresa irregular envolvida em contratos superfaturados de aquisição de vacinas e testes de covid pelo Ministério da Saúde

Leopoldo Silva/Agência Senado
Leopoldo Silva/Agência Senado
Tolentino é portador de quatro CPFs cancelados pela Receita Federal e dois ativos, como apurou o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP)

São Paulo – Os senadores da CPI da Covid-19 ouviram hoje (14) o empresário Marcos Tolentino, apontado como “sócio oculto” do FIB Bank. A empresa, que não tem registro como banco, atuou como fidejussória – ou seja, deu a “garantia” para o negócio – em contratos suspeitos entre a Precisa Medicamentos e o Ministério da Saúde. Apesar das evidências, Tolentino negou ter relações com o FIB Bank e se manteve em silêncio durante a maior parte da oitiva, respaldado por um habeas corpus obtido pela sua defesa junto ao STF. Entretanto, o também advogado contou que conhece o presidente Jair Bolsonaro pessoalmente. Além disso relatou que Karina Kufa, advogada do presidente, já atuou em sua defesa.

O comportamento de Tolentino, que tentou várias manobras para fugir da CPI e chegou a ter sua condução coercitiva autorizada pela Justiça Federal, além de hoje recusar-se a responder à maioria dos questionamentos da comissão, irritou os senadores. “Essa CPI tem que ir até as últimas consequências. Dizem que o presidente perdeu duas noites de sono na semana passada (em razão dos atos antidemocráticos de 7 de setembro e seus desdobramentos). Acho que, quando esse relatório sair, ele vai perder um pouco mais. Isso aqui não vai dar em pizza”, garantiu o senador Humberto Costa (PT-CE). “Talvez seus advogados estejam achando que a situação ficou boa para o senhor aqui. Que pegou um bando de bobos e de otários, negou mil coisas e não vai dar em nada. Vai dar! Esse FIB Bank não pode mais transacionar com o setor público, dando esses avais que não poderiam ter sido dados. Vai dar! Pode ter certeza”, completou.

Inconsistências

Documentos e registros do FIB Bank, bem como do próprio Tolentino são repletos de inconsistências. Em seu nome há quatro CPFs cancelados pela Receita Federal e dois, ativos. A apuração foi feita pelo vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Por sua vez, a empresa não possui lastro para dar garantias milionárias em contratos de empresas privadas com o poder público, o que levanta suspeitas de lavagem de dinheiro. “Usa escritório de advocacia, faz garantias financeiras simuladas com imóveis não localizados. O imóvel que o FIB Bank diz ser proprietário tem o mesmo valor do Palácio de Buckingham, 7 bilhões”, relatou o parlamentar Rogério Carvalho (PT-DF), citando a sede oficial da monarquia do Reino Unido, na Inglaterra .

Carvalho lembrou que a “parceria” do FIB Bank com a Precisa Medicamentos, envolvida na denúncia de compra de vacinas superfaturadas da Covaxin para o governo federal, não é o único. Em outros contratos garantidos pela empresa, o Ministério da Saúde adquiriu testes de covid-19 e de preservativos, tendo a Precisa como intermediária, encarecendo os preços, pagos pelo contribuinte. “Cria uma instituição fidejussória para enganar, cometer delito, maracutaia. O governo Bolsonaro se utilizou de um esquema para superfaturar vacinas. Enquanto brasileiros estavam morrendo, (o presidente) aceitou as garantias do ‘Lorota Bank'”, completou Costa.

Sem desculpas

Tolentino também confirmou amizade com o deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, suspeito de favorecer a Precisa Medicamentos em contratos com o Ministério da Saúde. Diante do cerco cada vez mais se fechando em torno do Planalto, o presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), ironizou Bolsonaro. “Só espero que o presidente não chame o Temer para fazer uma nota para pedir desculpas por causa do Ricardo Barros”, disse, em referência ao recuo do discurso golpista e contra o STF que marcou as manifestações de apoio ao presidente no 7 de Setembro.

Esquema claro

O senador Rogério Carvalho, diante do esquema revelado, apresentou requerimento, aprovado pela CPI, para suspender, junto à Procuradoria-Geral da República (PGR), todos as negociações envolvendo o FIB Bank com a União. Também caberá ao Tribunal de Contas da União (TCU) realizar uma investigação sobre estes contratos. “Esses órgãos podem agir de ofício. Esse sistema está operando neste momento. O silêncio não impede isso. Tem um esquema claro de venda de garantias falsas, de recebimento de propinas, com uso de laranjas”, disse o senador Jean-Paul Prates (PT-RN).


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