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Bolsonaro e Zé Trovão disputam apoio de caminhoneiros

Enquanto o presidente pede pela liberação das rodovias, caminhoneiro foragido clama pelo apoio da população aos bloqueios

Tomaz Silva/Agência Brasil/Marcos Corrêa/PR/Reprodução
Tomaz Silva/Agência Brasil/Marcos Corrêa/PR/Reprodução
Zé Trovão quer manter paralisação dos caminhoneiros, apesar de orientação em contrário por parte do governo

São Paulo – Na manhã desta quinta-feira (9), o presidente Jair Bolsonaro sinalizou que pretende conversar com lideranças dos caminhoneiros para conter a paralisação que atinge setores da categoria. No entanto, em sentido contrário, o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão, divulgou novo vídeo, posteriormente, pedindo apoio da população ao trancamento das rodovias pelo país. Foi ele quem incitou os motoristas a paralisarem “100% das rodovias” nesta manhã. O intuito, segundo ele, é pressionar pela destituição dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Com sinais divergentes, as consequências são incertas. Por volta das 11h, alguns pontos de bloqueio foram liberados. No entanto, ainda há registros de interdição nos estados da Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina.

Em pelo menos 14 estados, no entanto, os caminhoneiros também permanecem paralisados, mas sem bloquear integralmente a circulação de veículos, de acordo com informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

“Eu quero deixar um recado aqui para a população brasileira. Cadê a parte de vocês? Vocês estão em cima das pistas hoje ajudando os caminhoneiros? Porque a Polícia Federal está tentando a todo custo desmobilizar o movimento”, cobrou Zé Trovão. “Vocês querem salvar o país de vocês? Vocês querem ajudar? Nós estamos aqui. Sozinhos a gente não tá conseguindo segurar, não”, acrescentou.

Bolsonaro, no entanto, estimulou a participação dos caminhoneiros nos atos antidemocráticos de 7 de setembro. A mobilização também contou com articulação de entidades ligadas ao agronegócio. Nas manifestações que ocorreram em Brasília e São Paulo, o presidente também pregou o desacato a decisões judiciais, em especial àquelas que vierem a ser determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Foragido

Zé Trovão está foragido da Justiça desde a última sexta-feira (3). Ele teve a prisão decretada por Alexandre de Moraes a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). A decisão se deu no âmbito do inquérito movido pelo STF que investiga ameaças à democracia, desde que ele divulgou uma série de vídeos em que ataca o ministro, bem como os demais integrantes da Suprema Corte. Também pediu que a Polícia Federal não acatasse a determinação judicial para detê-lo. Ele clamou, até mesmo, por “intervenção militar”, em vídeo gravado em frente a um batalhão do Exército em Joinville (SC).

Na verdade, ele busca salvar a própria pele, incitando os caminhoneiros. Zé trovão disse que se entregaria durante ato bolsonarista na Avenida Paulista na última terça-feira (7). Mas seu paradeiro, no entanto, seguia desconhecido até o início desta tarde, quando o site Metrópoles divulgou que a Polícia Federal o localizou no México.

Choque de versões

Durante a noite de quarta (8), Bolsonaro chegou a divulgar áudio pedindo o fim do bloqueio nas estradas. “Dá um toque para os caras, para liberar, para a gente seguir a normalidade. Deixa com a gente em Brasília, aqui, agora”, disse ele. No entanto, os motoristas chegaram a duvidar da autenticidade do áudio.

Foi preciso que o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, soltasse vídeo para referendar as falas do presidente. “Esse áudio é real e de hoje. Ele mostra a preocupação do presidente com a paralisação dos caminhoneiros, que iria agravar efeitos na economia e inflação, e ia impactar nos mais pobres e vulneráveis”.

Contudo, o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ), da tropa de choque bolsonarista, chegou a desmentir o ministro. “Eu afirmo a vocês que é mentira”, disse o parlamentar em vídeo que circula no Twitter.

“Estive com o presidente Bolsonaro agora, e ele está sabendo o que esta acontecendo. Está preocupado, porque esse tipo de mobilização para o país e ele tem as responsabilidades dele, mas ele entende que nesse momento ele precisa respeitar a vontade do povo. Portanto, o presidente Bolsonaro continua ao lado do povo. É só colocar isso claro, porque muitas vozes vão ser acuadas neste momento”, acrescentou o parlamentar.

Estado de circo

Na sequência, novos episódios de desinformação durante a madrugada. Surgiram vídeos de caminhoneiros bolsonaristas que permanecem acampados em Brasília comemorando a decretação de um suposto “estado de sítio”. Na visão deles, como desdobramento, seria decretado o fechando do STF.

“Conseguimos tirar os 11, fizemos nossa parte, viemos para Brasília, levantemos o cu da cadeira (sic) para Brasília fazer nossa parte. Estamos aqui na concentração, participemos da história do Brasil, nós conseguimos gente, e trago essas notícias para vocês”, comemorou um dos manifestantes. “Desculpem pela emoção, mas a nossa luta, a nossa garra, valeu a pena. Ficamos sabendo agora que o presidente da República Jair Messias Bolsonaro resolveu agir, e a partir de agora o Brasil está em estado de sítio”, disse outro.

Macarena

Com a confusão instaurada, o humorista Marcelo Adnet também aproveitou para fazer piada da situação. Imitando a voz de Bolsonaro, ele gravou áudio com novas instruções aos caminhoneiros. “O áudio que circulou é falso e este é o verdadeiro. Para vocês permanecerem aí e começarem a dançar Macarena, agora, 3h15 da manhã, e não pararem mais. Não quero ver ninguém na boleia, hein? Todos para fora dos caminhões, dançando a Macarena até aquele outro pedir para sair, tá ok?”, disse Adnet.


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