tensão em Brasília

Acuado, Bolsonaro ‘vai para cima por não ter por onde sair’, avalia analista

Embaixada dos EUA vê “riscos de violência no 7 de setembro” e orienta americanos no Brasil a “evitar áreas de protestos” pró e contra Bolsonaro

Ana Volpe/Agência Senado
Ana Volpe/Agência Senado
Até agora, o governo não apresentou índice de reajuste salarial para os servidores dos ministérios

São Paulo – A aposta de Jair Bolsonaro para as manifestações no 7 de setembro, principalmente em Brasília e São Paulo, são altas. O presidente, em mau momento – por derrotas no Congresso, fracasso na economia e na pandemia, na Justiça, com ele próprio e a família rodeados de escândalos, e a reprovação em alta –, vê na data uma chance de tentar demonstrar alguma força. O presidente do Supremo Tribunal Federal (Luiz Fux), a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), empresários poderosos de Minas Gerais e o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), se manifestaram esta semana pela democracia. Logo, em oposição ao crescente discurso bolsonarista pelo confronto, ainda que com mensagens moderadas, o que não é pouca coisa.

Mas Bolsonaro não recua e continua a dobrar as apostas. “Essas uma ou duas pessoas têm que entender o seu lugar. E o recado de vocês, povo brasileiro, nas ruas, na próxima terça-feira, dia 7, será um ultimato para essas duas pessoas”, disse ele nesta sexta-feira, dirigindo-se principalmente ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, que horas depois mandou prender o blogueiro bolsonarista Wellington Macedo. A PF prendeu o ativista acatando solicitação da Procuradoria-Geral da República (PGR), pois Macedo é suspeito de articular atos antidemocráticos no dia 7 de setembro.

Ministério Público coíbe policiais

Outro dado contrário ao presidente é o posicionamento do Ministério Público em vários estados no sentido de coibir o protagonismo de policiais militares nos atos a favor do chefe do governo. Em São Paulo, até mesmo a promotoria do Tribunal de Justiça Militar (TJM), na semana passada, deu 48 horas para a Corregedoria da Polícia Militar informar as providências sobre a “ilegalidade” da participação do policiais no 7 de setembro. No Distrito Federal, o MP adotou posição semelhante. Ceará, Mato Grosso e Pará, entre outros, também seguem caminhos nesse sentido.

“Cerco se fechando”

“O cerco está se fechando a Bolsonaro”, diz o jornalista e analista político Antônio Augusto de Queiroz, o Toninho, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), sobre o clima pré 7 de setembro. Bolsonaro não recua e dobra a aposta pela mesma “lógica do animal acuado”. “Não tem por onde sair, então ele vai para cima.” Para o analista, os governadores têm de cumprir as determinações das promotorias. Bolsonaro, por sua vez, só pode ganhar com as manifestações em uma única situação: “Se forem grandes e pacíficas”, avalia Toninho.

“E é pouco provável que tenham essas duas condições. Se o movimento for grande e houver violência, ele se dá mal. Se forem pequenas e pacíficas também, por falta de representatividade”, continua. Para ele, as Forças Armadas não embarcarão em um golpe bolsonarista. “Eu acho que as Forças Armadas não legitimariam uma atitude de força de Bolsonaro em hipótese nenhuma. Se tiver golpe, vai ser contra ele, não a favor.”

Para o analista do Diap, a situação está ficando “esquisita” para o presidente da República. Fora as ações e manifestações de instituições, entidades e promotorias, Bolsonaro vê as revelações sobre sua família e seus filhos ocuparem as manchetes. Na terça-feira (31), o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos). A medida é parte de investigações sobre contratação de funcionários “fantasmas” por seu gabinete. O pedido foi feito pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ).

Numa atitude incomum, a Febraban afirmou esta semana estar “cumprindo o seu papel” ao se juntar a setores produtivos do Brasil. “Num pedido de equilíbrio e serenidade, elementos basilares de uma democracia sólida e vigorosa”.

Embaixada dos EUA alerta cidadãos

7 de setembro bolsonaro
Twitter da embaixada americana na tarde de hoje, sobre o 7 de setembro em meio a um governo Bolsonaro acuado. Inteligência do EUA não costuma dar ponto sem nó

As expectativas para o 7 de setembro, de fato, causam tensão. A ponto de a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil alertar os cidadãos de seu país para riscos de violência no 7 de setembro.

“As manifestações devem ocorrer nas principais cidades do Brasil na terça-feira, 7 de setembro. A embaixada dos EUA no Brasil adverte os cidadãos dos EUA para evitar áreas em torno de protestos e manifestações, já que mesmo as manifestações com intenção de ser pacíficas podem se tornar conflituosas.”