CPI DA COVID

Para senadores, desfile de tanques é ‘ameaça de golpe’ e ‘sinal de fraqueza’ de Bolsonaro

Presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), classificou desfile como “patético” e uma “ameaça de um fraco que sabe que perdeu”, em referência à perspectiva de derrota da PEC do voto impresso na Câmara dos Deputados

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) ironizou o desfile de tanques e disse ser uma "uma patética demonstração de fraqueza" de Bolsonaro

São Paulo – Os senadores da CPI da Covid iniciaram os trabalhos desta terça-feira (10) criticando o presidente Jair Bolsonaro e o desfile de tanques e blindados, realizado em Brasília. Na avaliação dos parlamentares, o presidente ameaça um golpe contra o próprio país, o que evidencia sua “fraqueza” de maneira “patética”.

O presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), abriu a sessão lendo uma nota contra Bolsonaro, afirmando que o presidente não tem o direito de ameaçar a própria democracia que o elegeu. Ele também classificou o desfile de tanques como “patético”, afirmando que não representa uma demonstração de força, mas “ameaça de um fraco que sabe que perdeu”, em referência à perspectiva de derrota da PEC do voto impresso na Câmara dos Deputados.

“O papel das Forças Armadas é defender a democracia, não ameaçá-la. Desfiles como este serviram para mostrar força para conter inimigos externos que ameaçassem nossa soberania, o que não é o caso. As Forças Armadas jamais podem ser usadas para intimidar sua população, sem adversários, e atacar a oposição legitimamente constituída. Não há nenhuma previsão constitucional para isso”, afirmou Aziz.

O presidente da CPI acrescentou que as providências precisam ser tomadas contra as autoridades que defendem ações golpistas e personagens da sociedade civil que defendem medidas antidemocráticas. “Em 1984, eu estava em Brasília quando o general Newton Cruz colocou seu tanques contra o voto direto. Está acontecendo de novo e o Congresso não pode se curvar a isso. É necessário tomar providências”, completou, ao comparar o dia de hoje com a tentativa do general Newton Cruz de atentar contra a emenda à Constituição Dante de Oliveira, que previa eleições diretas.

Desfile de um golpista

A fala de Aziz foi acompanhada e endossada por outros senadores. Humberto Costa (PT-PE) afirmou que Bolsonaro, ao invés de trabalhar, passa suas 24 horas do dia criando conflitos e fazendo propaganda eleitoral antecipada. O senador petista classificou o desfile de tanques de Bolsonaro como “desnecessário e desproporcional”.

“Ninguém tem o direito de ganhar no grito. Bolsonaro não quer o voto impresso para melhorar a eleição, é apenas um pretexto para dizer que o voto não é seguro, desqualificar as urnas e, se perder, acusar a existência de fraude para aplicar um autogolpe”, alertou Costa.

O senador Otto Alencar (PSB-BA) tomou a palavra em seguida e afirmou que Jair Bolsonaro usa as Forças Armadas para intimidar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). “É uma afronta à Constituição Federal e à democracia”, lamentou o parlamentar, que disse não ser intimidado pela ação.

“Não vamos recusar, mesmo que sua vontade seja dar um golpe militar no Brasil. O que estimula Bolsonaro é proteger seu mandato e seu círculo familiar. Nenhum político pode estar mais ao lado dele. Ele precisa estar sozinho nessa posição de defensor do golpe militar para que, no ano que vem, a população escolha um novo presidente da República”, defendeu Otto.

Fraqueza de Bolsonaro

Quem ocupa uma cadeira pública, graças ao voto popular, não pode tolerar um ato contra a democracia de nenhuma natureza, afirmou o senador Rogério Carvalho (PT-SE). Para ele, Bolsonaro sabe que o voto impresso não será aprovado e usará o fato para questionar sua “derrota certa” em 2022. “Será derrotado porque não teve empatia com os mais de 550 mil mortos, sem nunca ter se solidarizado ou visitado um hospital”, disse.

“Bolsonaro passa o tempo todo acenando para o nazifascismo, tem uma comunicação fascista, e nós não podemos tolerar esse tipo de situação. Esses tanques e essa armada não são de uma milícia pessoal do presidente, servem para defender o povo brasileiro”, acrescentou o petista.

O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) ironizou o desfile de tanques e disse ser uma “uma patética demonstração de fraqueza” de Bolsonaro. “Ele quer demonstrar força para quem? Ele quer esconder e desviar a atenção do balcão de negócios em que o Ministério da Saúde foi transformado”, questionou.

Em seguida, Randolfe disse que os tanques nas ruas são um “espetáculo circense”. “Quando está em jogo a democracia, não há dois lados. O que fizeram hoje não tem precedentes, é uma tentativa desesperada de força de um governo que já está derrotado”, avaliou.

O tenente-coronel da reserva Helcio Bruno de Almeida, presidente do Instituto Força Brasil, será ouvido pela CPI da Covid na terça-feira. Ele é apontado como elo entre representantes da empresa Davati Medical Supply, que negociava a venda de vacinas, e o Ministério da Saúde.


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