Emaranhado

Senadora sugere acareação na CPI da Covid para saber ‘quem vai mentir mais’

Simone Tebet (MDB-MS) quer confrontar versões apresentadas por coronel Blanco, Dominguetti e Roberto Dias sobre pedido de propina em vacinas oferecidas pela Davati ao Ministério da Saúde

Jefferson Rudy/Agência Senado
Jefferson Rudy/Agência Senado
Blanco nega participação nas negociações com a Davati, mas quebra de sigilo aponta meses de intensas conversas com Dominguetti

São Paulo – A senadora Simone Tebet (MDB-MS) voltou a sugerir que a CPI da Covid realize uma acareação entre os envolvidos nas negociações entre Davati e o Ministério da Saúde. “Insisto, de novo, na acareação. Não é para ver quem está dizendo a verdade. Mas para ver quem vai mentir mais”, disse ela, durante sessão nesta quarta-feira (4). “Ontem foi em nome de Deus”, disse a parlamentar, em referência ao depoimento do reverendo Amilton, suspeito de participar das negociações fraudulentas. “Hoje, em nome do patriotismo. Nunca em nome próprio. Mas estavam todos interessados em outra coisa: comercializar com o governo federal contratos privados ou, até mesmo públicos, de compra de vacinas superfaturadas”.

À CPI da Covid, o ex-diretor substituto do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, tenente-coronel da reserva Marcelo Blanco da Costa, negou que tivesse intermediado contatos de Luiz Paulo Dominguetti, cabo da polícia que se apresentava como representante da Davati. Segundo ele, apenas sugeriu enviasse que “aos canais institucionais do ministério” a proposta para a venda de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca.

Blanco afirmou que Dominguetti havia solicitado uma agenda com o Departamento de Logística do ministério, comandado naquele momento por Roberto Ferreira Dias. Em função disso é que teria ocorrido o almoço no restaurante Vasto, em Brasília, em 25 de janeiro.

Na ocasião, Dominguetti alegou que Dias teria pedido propina US$ 1 dólar por dose das vacinas. Já o representante da Davati, Cristiano Carvalho, disse que o “comissionamento” seria destinado ao “grupo do Blanco“, segundo informações passadas pelo próprio Dominguetti. O depoente, entretanto, negou participação no pedido de propina. Nem sequer disse ter presenciado diálogo com tal conteúdo.

Negócios públicos, interesses privados

O tenente-coronel disse que, naquele momento, já havia saído do ministério, e que não se envolveu nessas negociações. Por outro lado, afirmou que estaria interessado na possibilidade de comercializar as doses oferecidas pela Davati com a iniciativa privada. Mesmo nesse caso, tentou se afastar de Dominguetti, alegando que essas tratativas não evoluíram, devido à falta de documentos que validassem a existência das doses oferecidas.

No entanto, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) detalhou intensas tratativas entre Blanco e Dominguetti. Nesse sentido, segundo ela, a quebra de sigilo telefônico do cabo indicava uma série de mensagens e telefonemas entre janeiro e março deste ano.

“Você passou três meses falando com o Dominguetti várias vezes. A gente tem aqui o último registro de sua conversa com ele, foi no dia 31 de março, com algumas mensagens ou ligações, algumas mensagens inclusive foram apagadas. Você fica janeiro, fevereiro e março fazendo uma tratativa com ele sobre negociações para, em tese, o setor privado, e você não trata em nenhum momento de valores, de comissionamento?”, questionou a senadora.

VTCLog

Blanco também relatou à Comissão que recebeu convite do general Roberto Severo Ramos, ex-número dois da Secretaria-Geral da Presidência e atual representante da VTCLog, para comandar “um braço” das operações da empresa no Rio de Janeiro. A VTCLog, entretanto, também está sendo investigada pela CPI, que apura pagamentos mensais de propina a políticos e servidores ligados ao Ministério da Saúde.

“O que é muito estranho em tudo isso é o Severo lhe fazer uma proposta para assumir um cargo numa empresa que tem contrato com o governo federal. E que tem vários aditivos, inclusive alguns deles questionados pelo TCU (Tribunal de Contas da União)”, destacou Eliziane. “A cada pessoa que a gente houve, começa a ligar um fato com outro e a possibilidade real do pagamento de propina. E de um esquema no ministério. O que nós temos é um fato”, afirmou a senadora. Blanco, contudo, negou qualquer ingerência em relação a esses contratos suspeitos, durante a sua passagem pela pasta.