CPI DA COVID

Reverendo Amilton recusa revelar contatos na Saúde e diz que citações a Bolsonaro eram ‘bravatas’

Religioso admitiu ter atuado como intermediário entre governo federal e a Davati Medical Supply na venda de vacinas

Jefferson Rudy/Agência Senado
Jefferson Rudy/Agência Senado
Reverendo Amilton disse que realizou uma reunião com representantes do governo no dia 22 de fevereiro, quatro horas depois de enviar e-mail com solicitação do encontro

São Paulo – O reverendo Amilton Gomes de Paula, que presta depoimento na CPI da Covid nesta terça-feira (3), se recusou a revelar suas conexões e contatos dentro do Ministério da Saúde. Entretanto, ele admitiu que foi intermediário entre o governo federal e a Davati Medical Supply na venda de 400 milhões de doses da vacina contra covid-19.

Durante a oitiva, o reverendo Amilton disse que realizou uma reunião com representantes do governo no dia 22 de fevereiro. O fato curioso é que o encontro feito às 16h foi solicitado pouco depois das 12h do mesmo dia. Os senadores então questionaram quais são as conexões que facilitaram o acesso ao governo de Jair Bolsonaro, mas até o momento, o religioso não revelou.

O presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM) diz que “não fecha” a forma como o reverendo Amilton chegou ao Ministério da Saúde, porque os parlamentares precisam marcar horário com muitos dias de antecedência para serem recebidos. “Isso só acontece se a pessoa tem livre acesso. Deputados às vezes demoram meses pra conseguir audiência”, afirmou.

O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), ironizou a facilidade do religioso a contatar o governo federal e lembrou da demora da pasta para responder farmacêuticas. “É um fenômeno. O que chama a atenção é que nem a Pfizer, nem o Butantan nem o Covax Facility tinham esse mesmo prestígio.”

Bravatas do reverendo Amilton

Os senadores também confrontaram Amilton Gomes com mensagens que ele teria trocado com representantes da Davati envolvidos na negociação. Em uma das conversas, o reverendo afirmava que a primeira dama, Michele Bolsonaro, teria entrado nas conversações. Em outra, ele disse ter se reunido com o “01”, referindo-se ao presidente Jair Bolsonaro.

Entretanto, durante o depoimento, ele negou tudo e disse que nunca se encontrou com Bolsonaro ou qualquer membro do Palácio do Planalto. “Era bravata”, explicou. Sobre a menção à primeira dama, disse que não se lembra de ter enviado a mensagem. “Não fui eu que escrevi isso”, acrescentou.

O reverendo Amilton Gomes de Paula, por outro lado, disse que pertenceu ao PSL, ex-partido de Bolsonaro. Ele reconheceu que participou da campanha eleitoral do presidente da República, mas acrescentou que se desfiliou do partido, sem dar mais detalhes.

O reverendo é fundador da ONG Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah) e ajudou na intermediação entre Ministério da Saúde e a empresa Davati, para a negociação de vacinas contra a Covid-19. Segundo ele, em troca, a entidade receberia “doações”.

O senador Humberto Costa (PT-PE) disse que, no começo da oitiva, tinha a impressão de que o depoente era “completamente inocente nesse processo”, mas acrescentou que há alguns fatos que não se explicam. “Como o Dominguetti descobriu seu dom em vender vacina? A gente quer entender se alguém do Ministério da Saúde viu um tipo de ganho, seja humanitário ou econômico, quando você entrou nessa história. Esse governo é bagunçado, mas alguém mandar um e-mail para o ministério e ser recebido poucas horas depois, levando um time na reunião, não é normal. O senhor está protegendo alguém, e é o responsável por quem te apresentou ao governo”, finalizou.


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