CPI da Covid

Não ouçam as asneiras do ministro da Saúde, diz Randolfe sobre uso de máscaras

Em canal investigado por espalhar mentiras, Queiroga contesta uso obrigatório de máscaras. “Parece que ele faz questão de vir na CPI”, disse Randolfe

Jefferson Rudy/Agência Senado
Jefferson Rudy/Agência Senado
Randolfe, Renan e Aziz, cúpula da CPI. ficaram irritados com silêncio de advogado e o incluíram como investigado

São Paulo – Ao encerrar a sessão desta quinta-feira (18) da CPI da Covid – que ouviu o advogado da Precisa Medicamentos Túlio Silveira –, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da comissão, falou de dois fatos que reputou “lamentáveis”. Primeiro, uma decisão da subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo. Ela rejeitou pedido do Psol e do PT para investigar Jair Bolsonaro por participar de atos sem usar máscara, contrariando legislações federal e estaduais. Para isso, alegou que “inexistem trabalhos científicos com alto grau de confiabilidade em torno do nível de efetividade da medida de prevenção”.

A decisão contraria a ciência, as recomendações da OMS, da Anvisa e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças Transmissíveis (CDC) dos Estados Unidos, lembrou o parlamentar. Além disso, viola as determinações sanitárias dos governos locais – prerrogativa conferida pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Randolfe afirmou que vai entrar com representação no Conselho Nacional do Ministério Público contra a subprocuradora. Isso porque, segundo ele, a decisão acaba por “anistiar um crime gravíssimo, principalmente quando parte do mais alto mandatário da nação”.

O segundo caso “lamentável, para nossa surpresa e indignação”, é a conduta do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. O ministro afirmou no canal bolsonarista Terça Livre, que é investigado por espalhar informações falsas, ser contra o uso obrigatório de máscaras. O dono do canal, Allan dos Santos, foi denunciado pelo Ministério Público Federal por incitação ao crime, ao ameaçar Luís Roberto Barroso, do STF. 


Simone Tebet aponta fraudes em contrato da Covaxin


“Não queremos convocar Queiroga pela terceira vez, mas parece que ele faz questão de vir aqui (na CPI). Por isso, não escutem o ministro da Saúde com essas asneiras que ele fala. Não escutem alguns representantes do MP. É lamentável ter que dizer para os brasileiros não escutarem o ministro da Saúde. O ministro da Saúde!”, disse Randolfe.

O vice-presidente da CPI destacou em sua inquirição que, apesar de reivindicar o direito de não responder em boa parte da sessão, Túlio Silveira foi confrontado com evidências de que era de fato representante da Precisa no contrato suspeito da vacina Covaxin. A comissão sabe que ele enviou pelo menos quatro e-mails a áreas técnicas do ministério pedindo urgência da assinatura do contrato com a Barath Biotech, fabricante do imunizante indiano Covaxin. Seu escritório de advocacia foi criado dois dias antes da assinatura do documento com a farmacêutica da Índia, em 25 de fevereiro.


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Ricardo Barros: “relacionamentos”

As conexões listadas por Randolfe no que chamou de “árvore de relacionamentos” mostraram vários elos com o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). O escritório em que Silveira trabalhou antes de criar o seu, segundo o senador, representou a empresa Voetur em vários processos. A composição societária da Voetur é a mesma da VTC Log, que assumiu contratos de distribuição do Ministério da Saúde sob a gestão de Gilberto Occhi, sucessor Barros como ministro da pasta em 2018. “A Voetur é a VTC Log”, enfatizou Randolfe.

Luis Fernando Dal Sasso Oliveira, do escritório que representou a Voetur, é hoje superintendente adjunto administrativo do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IGESDF). O órgão é presidido por Occhi, que é do PP, partido de Ricardo Barros. As negociações com a VTC Log foram iniciadas na gestão de Ricardo Barros na Saúde e fechadas com Occhi.

Para o senador Rogério Carvalho (PT-SE), o que a comissão possui de informação sobre a Precisa Medicamentos já é suficiente para concluir que houve corrupção ativa e passiva e tráfico de influência em relação às negociações da Covaxin. “Graças a essa CPI, o contrato foi interrompido. A CPI tem cumprido papel preventivo de preservar bilhões para comprar vacinas para a terceira dose, em função da variante delta que está assombrando o mundo”, disse.

Como líder de Bolsonaro, advogado é investigado

Na oitiva, o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), anunciou a decisão da cúpula da CPI de declarar e atribuir a Túlio Silveira a condição de investigado. A medida se deu “em função da resistência do depoente e considerando que o silêncio da testemunha ecoa indícios de participação em prováveis negociações, óbvias ligações com outros investigados ocupantes de cargo em comissão no Ministério da Saúde”. No início da sessão, o deputado Ricardo Barros também havia sido incluído entre os investigados.

Silveira irritou os senadores ao se recusar a responder perguntas, mesmo depois de o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), alertá-lo na abertura da sessão: “Só não me dê uma de Carlos Wizard aqui, e depois de falar por 15 minutos não responder a nenhuma pergunta”. Vários senadores destacaram que a recusa do depoente em falar sobre relações com a Precisa e a Covaxin foi reveladora das suspeições sobre ele. “O silêncio do senhor naquilo que pode lhe incriminar salta aos olhos”, disse-lhe a senadora Soraya Thronicke (PSL-MS). Mais cedo, Renan Calheiros afirmou que o silêncio do advogado era “incriminador”.

Ricardo Barros é incluído na lista de investigados