Antidemocráticos

Governo fez reuniões com organizadores de atos pró-Bolsonaro

Apoiadores do presidente foram recebidos no Planalto duas vezes em agosto, mas negam que encontros tiveram relação com atos de 7 de setembro

Reprodução/Twitter
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Secretária Gabriele Araújo, da Articulação Social, recebeu, entre outros, Marcos Antônio Pereira, conhecido como Zé Trovão (de chapéu)

São Paulo – Investigados por organizar manifestações antidemocráticas no dia 7 de setembro em apoio ao presidente Jair Bolsonaro, estiveram reunidos com representantes do governo nos últimos dias 10 e 11. As audiências ocorreram no gabinete da secretária Especial de Articulação Social, Gabriele Araújo, cuja pasta é subordinada à Secretaria de Governo (Segov). As informações são do portal UOL.

Entre os presentes nas audiências esteve Antonio Galvan, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja Aprosoja Brasil) um dos investigados no Supremo Tribunal Federal. No último dia 23, Galvan prestou depoimento à PF em Sinop (MT). Ele chegou ao local junto com um grupo de ruralistas em um comboio de tratores.

Ao UOL, a Secretaria de Governo afirmou que “é obrigação da Secretaria Especial de Articulação Social receber todas as organizações da sociedade civil que solicitam atendimento”. Questionada sobre o tema tratado na reunião, respondeu, sem dar detalhes, que “foram discutidas pautas de interesse dos solicitantes”.

Brasil Verde e Amarelo

Mais claro em suas intenções, Galvan confirmou ao site que o tema do encontro foi o Movimento Brasil Verde e Amarelo. Entretanto, não explicou qual seria a participação do governo no assunto. “Fui fazer uma visita de cortesia lá para ela [a secretária Gabriele Araújo], que a gente já se conhecia”.

A primeira dessas reuniões, no dia 10, aparece na agenda oficial da secretária com a pauta Movimento Brasil Verde e Amarelo. Trata-se de um grupo formado por sindicatos e associações rurais que convocou, no final de maio, uma manifestação em apoio a Bolsonaro em Brasília. Entre as bandeiras do ato estava a proposta do voto impresso, rejeitada pela Câmara em agosto.

A agenda registra que o encontro também teve as presenças da advogada Paula Boaventura, esposa de Galvan, e de Fabrício Rosa, diretor-executivo da Aprosoja. Este afirmou que não participou da conversa e que a entidade ruralista não tinha relação com a pauta. “Embora tenha assinado a lista, fui apenas acompanhando o presidente, que cumpriu agenda pelo Movimento Brasil Verde e Amarelo”, disse. Paula Boaventura, por sua vez, não foi localizada.

7 de Setembro

Um dia após receber Galvan, a secretária Gabriele Araújo recebeu Turíbio Torres, Juliano Martins e Marcos Antônio Pereira, conhecido como Zé Trovão. Os três, segundo a agenda, estavam acompanhados de Rafael Dal Bó, chefe de gabinete do deputado bolsonarista Nelson Barbudo (PSL-MT).

Os ativistas haviam chegado a Brasília dias antes e já vinham publicando fotos ao lado de ministros, deputados governistas e até de Renato Bolsonaro, irmão do presidente. Dois deles, Torres e Martins, tiraram fotos dentro do Planalto com o general Augusto Heleno, chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional). Em nota, o GSI afirmou que “o ministro não os conhece e não houve reunião”.

Segundo apurou o UOL, os ativistas foram questionados pela Polícia Federal sobre o teor da reunião e negaram ter havido qualquer discussão sobre os atos de 7 de setembro. Segundo disseram aos investigadores, o encontro tratou de demandas de caminhoneiros, vinculadas à Confederação Nacional de Transportadores Autônomos (CNTA).

Contudo, a CNTA negou qualquer conhecimento da reunião. “Desconhecemos a agenda referida”, afirma a entidade. Sobre essa audiência, a Segov afirmou apenas que “foram discutidas pautas de interesse dos caminhoneiros”. O advogado Levi de Andrade, que defende os ativistas, manteve a versão de que os clientes negam qualquer relação entre a reunião e os atos antidemocráticos de 7 de setembro.


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