CPI DA COVID

‘Houve atuação política para unir Belcher, CanSino e Ministério da Saúde’, diz senador

Emanuel Catori, sócio da farmacêutica Belcher, negou favorecimento político após reunião intermediada pelo deputado Ricardo Barros

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado
Para os senadores, a forma que o governo federal negociou com a Belcher possui semelhança com a atuação da Precisa Medicamentos

São Paulo – A CPI da Covid ouviu, nesta terça-feira (24), um dos sócios da farmacêutica Belcher, Emanuel Catori, ligado ao deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara. Para o senador Humberto Costa (PT-PE) a escolha da Belcher “não caiu do céu”, mas foi trabalhada e intermediada por pessoas de dentro do governo.

Após os questionamentos feitos pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), Costa fez sua leitura sobre a atuação da Belcher junto ao laboratório chinês CanSino para a negociação de 60 milhões de doses da vacina Convidecia ao custo de R$ 5 bilhões. “Houve atuação política para promover o casamento entre Belcher, CanSino e Ministério da Saúde. Só que a CanSino viu que era uma fria e rompeu o contrato”, afirmou o petista.

Para os senadores, a forma que o governo federal negociou com a Belcher possui semelhança com a atuação da Precisa Medicamentos, que representou um laboratório indiano na venda da vacina Covaxin e está sob investigação da Polícia Federal.

“Eu não consigo acreditar que nos dias 13, 14 e 15 de abril esses empresários todos se reuniram com a Embaixada da China, com o Ministério da Saúde, por um ‘espírito humanitário’ de doar vacinas para o SUS. Ao contrário, o tempo inteiro essas empresas atuaram no Congresso Nacional para facilitar a comercialização de vacinas. Houve aqui, sim, tráfico de influência, advocacia administrativa e outros crimes mais. Quem ofereceu vacina, eles não quiseram. Mas foram atrás de outras que eram mais caras ou que tinham intermediação, algum interesse”, criticou Humberto Costa.

Belcher e Ricardo Barros

Durante o depoimento à CPI da Covid, Emanuel Catori confirmou ter sido levado pelo deputado Ricardo Barros à reunião no Ministério da Saúde. Humberto chamou a atenção para o fato de não existir ata da reunião e o encontro só ter sido revelado por conta de uma foto publicada nas redes sociais.

O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), questionou o motivo de um prefeito ter participado, já que a reunião seria destinada a empresários. “Em 15 de abril, eu participei de uma audiência no Ministério da Saúde, promovida pela Frente Parlamentar de Medicamentos, que é presidida pelo deputado Ricardo Barros. Na reunião havia outras seis empresas, e não tratava de vacinas”, relatou Catori, que negou haver favorecimento político.

Entretanto, Renan Calheiros apontou contradição em relação a essas informações. O relator citou que a Belcher e o laboratório chinês CanSino assinaram termo de confidencialidade em 6 de abril de 2021. Para ele, a reunião marcada pelo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e com a participação da Belcher foi realizada quando a empresa já tinha interesses e todas as informações sobre a vacina Convidecia.

Em outro momento, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) perguntou se o sócio da Belcher mantém conversas periódicas com o líder do governo na Câmara. O empresário confirmou que sim, “por serem da mesma cidade, Maringá”. Entretanto, ele acrescentou que, caso seja solicitado a quebra de sigilo telemático, os senadores não encontrarão nenhuma conversa dele com o parlamentar com tratativas sobre a vacina.


Leia também


Últimas notícias