Relatório

Economista do Santander que defende golpe contra Lula ‘se aproxima do fascismo’, diz analista

Cientista político Paulo Nícolli Ramirez (Fesp-SP) analisa que postura antidemocrática não é posição majoritária do mercado financeiro, que perderia investidores com eventual aventura golpista

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
Economista do Santander sugeriu que Lula poderia voltar a ficar inelegível

São Paulo – De acordo com o cientista político Paulo Níccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP), o relatório assinado pelo economista Victor Candido, do banco Santander, “não tem pé nem cabeça” e está “totalmente desvinculado da realidade”. No documento que veio a público nesta quinta-feira (12), Candido disse que “é possível especular sobre um golpe para evitar o retorno de Lula”.

“É uma posição conservadora que se aproxima do fascismo, uma vez que defende a ruptura com as estruturas institucionais democráticas”, destacou Níccoli, em entrevista a Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta sexta-feira (13).

Para o analista, esse tipo de postura antidemocrática não deve ser predominante entre os agentes do mercado financeiro. Isso porque a possibilidade de “golpe” afugentaria os investidores estrangeiros.

Além disso, de acordo com Níccoli, não haveria clima internacional para esse tipo de aventura. Ele citou, por exemplo, o “recado” dado na semana passada pelo conselheiro de segurança dos Estados Unidos, Jake Sullivan, a integrantes do governo Bolsonaro, para que não interfiram ou prejudiquem o processo eleitoral do ano que vem.

Nesse sentido, o analista também afirmou que, diferentemente do que ocorreu no passado, as empresas, no geral, tem incorporado valores relativos aos direitos humanos, entre eles a defesa da democracia. “Minha impressão é que investidores sérios e economistas mais preparados não devem compartilhar da mesma opinião desse executivo do Santander.”

Conservadores e monarquistas

O cientista político também afirmou que não se pode esquecer dos vínculos do banco Santander com “alas conservadoras” da Espanha. Por exemplo, foi na cidade de Santander, no norte do país, que foi removida, em 2008, a última estátua do ex-ditador Francisco Franco. A região também é um dos berços do Partido Popular, o maior partido e mais tradicional partido conservador do país.

Além disso, representantes do banco também mantêm relações próximas com a família real espanhola. A Fundação Príncipe de Asturias, criada para vincular a imagem do herdeiro do trono com atividades positivas, como o esporte, a cultura e a paz, foi presidida, entre 2008 e 2018, por Matías Rodríguez Inciarte, que também era vice-presidente do Santander na Espanha.

CPI, Barros e Braga Netto

Níccoli também classificou como “acertada” a decisão do senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Covid, de encerrar o depoimento do deputado Ricardo Barros (PSD-PR) nesta quinta. Ele deverá ser chamado a dar explicações novamente, mas agora na condição de convocado, e não como convidado. Barros chegou a acusar a CPI de afastar “muitas empresas interessadas em vender vacinas ao Brasil”. Os senadores se insurgiram contra as declarações do deputado, e a sessão acabou sendo suspensa.

Além disso, também há a expectativa de que o ministro da Defesa, general Braga Netto, seja convocado à CPI. Como então ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, o militar coordenou o comitê de combate à covid-19. Para o cientista político, a Comissão terá a oportunidade de investigar e expor as condutas anticientíficas e anticivilizatórias tomadas por Braga Netto. Como consequência, poderá aprofundar o racha no Exército de alas que se incomodam com o envolvimento político dos militares com o atual governo.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira


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