chancela da corrupção

Senadora aponta Ministério da Saúde como ‘intermediador’ de vacinas

Simone Tebet questiona, na CPI da Covid, por que a pasta “autorizou” farmacêutica de Maringá a propor negócios com a Sinovac, que já tinha exclusividade com o Butantan

Pedro França/Ag. Senado
Pedro França/Ag. Senado
“A sensação que fica é que, ao inverso, havia um intermediário: o Ministério da Saúde", disse Simone Tebet, ao questionar como Emanuel Catori conseguiu "autorização" para que sua empresa, a Belcher, negociasse com a chinesa Sinovac

São Paulo – Em sua inquirição ao empresário Emanuel Catori na CPI da Covid, na tarde desta terça-feira (24), a senadora Simone Tebet (MDB-MS) questionou o fato de o Ministério da Saúde ter aceitado conversar com a farmacêutica Belcher na condição de intermediária para a compra pelo governo da vacina CoronaVac, mesmo já sendo de conhecimento público que o laboratório SinoVac tinha firmado parceria com exclusividade junto ao Instituto Butantan. Catori é sócio da Belcher, que tem sede em Maringá (PR). A parlamentar acrescentou que a pergunta deveria ser feita não ao depoente de hoje, mas diretamente ao Ministério. “A sensação que fica é que, ao inverso, havia um intermediário: o Ministério da Saúde.”

Segundo a senadora, a explicação é que empresas que não podiam comercializar diretamente com laboratórios precisavam de garantias da pasta governamental de que eram “idôneas” e poderiam contratar os imunizantes. A atuação da pasta envolveria “algo assim como uma carta de apresentação, ou cartão de visitas, para corrupção?”, escreveu Simone no Twitter, após a oitiva.

Simone lembrou que o Ministério da Saúde concordou por duas vezes – o que está documentado – que a Belcher tentasse avançar nas tratativas. “Isso serviu para que (a empresa) fosse na embaixada da China dizer que tinha interesse de comprar com a SinoVac.” Assim, o Ministério seria uma espécie de avalista de um negócio que, em tese, devido à exclusividade, não poderia ser feito e nem sequer deveria ser proposto.


Conluio de servidores

Para Simone Tebet, a relação entre a Belcher e o Ministério da Saúde contou com o conluio de servidores. É estranho, disse, que a pasta tenha dado, por duas vezes, sinal verde para comprar 8 milhões de doses da CoronaVac. A estranheza aumenta, destacou, sabendo-se que, além de só poder ser negociada com o Instituto Butantan, o imunizante era boicotado e mesmo ridicularizado pelo chefe de governo, Jair Bolsonaro, que a chamava de VaChina, entre outros ataques.

A negociação de outra vacina chinesa, a Convidecia, da CanSino, envolvia R$ 5 bilhões por 60 milhões de doses, ao custo de US$ 17 cada, enquanto a da Pfizer, que o governo também sabotou, custava US$ 10. “No banco dos réus têm que estar (servidores do) Ministério da Saúde”, disse a emedebista, citando o ex-secretário executivo Élcio Franco e o ex-diretor de Logística Roberto Dias.

Ricardo Barros

O sócio da Belcher admitiu ter encontrado os empresários bolsonaristas Luciano Hang e Carlos Wizard, defensores de tratamento precoce da covid-19 e de medicamentos comprovadamente sem eficácia contra a doença. Catori confirmou que foi levado pelo deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, a uma reunião no Ministério da Saúde, mas não há ata da reunião, embora fotos, publicadas na internet, tenham comprovado o encontro. O depoente negou que o tema “vacinas” tenha sido discutido na ocasião. Barros, como a Belcher, é de Maringá.

Nesta quarta-feira (25), a CPI da Covid ouve o sócio majoritário do FIB, Bank Roberto Pereira Ramos Jr, que ofereceu garantia à Precisa Medicamentos para atuar como intermediadora da Barath Biotech nas negociações da vacina indiana Covaxin. O autor do requerimento, Tasso Jereissati (PSDB-CE), afirma que o FIB Bank (que não é um banco) emitiu carta de fiança irregular e “é uma das montagens mais intrincadas que vi na minha vida”. Segundo o parlamentar, a empresa é um dos centros de um esquema de “malandragens, lavagem de dinheiro e transferências ao exterior”.

CPI da Covid presta solidariedade a Alexandre de Moraes

Após a sessão, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI, na companhia de outros integrantes da comissão, se dirigiram ao Supremo Tribunal Federal para uma visita de solidariedade ao ministro Alexandre de Moraes. Relator do inquérito sobre fake news no Supremo, Moraes virou alvo preferencial dos recentes ataques de Bolsonaro, que protocolou um pedido de impeachment contra o ministro. Além disso, os parlamentares foram requerer junto à Corte o compartilhamento de dados do inquérito das fake news que tenham “relação direta” com a CPI.


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