"Rolos"

CPI da Covid e Ricardo Barros: ‘essa turma tinha que estar na cadeia há muito tempo’, diz senador

Comissão ouviu diretor-presidente do FIB Bank, que só não saiu preso da sessão pela constatação de que não passa de um laranja a serviço de um “sócio oculto”

Roque de Sá/Agência Senado
Roque de Sá/Agência Senado
“O esquema de corrupção se dá muitas vezes de forma oculta e dissimulada”, disse senador

São Paulo – O diretor-presidente do FIB Bank, Roberto Pereira Ramos Júnior, ouvido hoje pela CPI da Covid, só não saiu preso da sessão pela constatação de que ele não passa de um laranja na instituição, apelidada pelo presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM), de “lorota bank”, a começar do nome da empresa, que não é um banco. Trata-se, segundo o depoente, de uma empresa de “garantias fidejussórias” , ou seja, ela apenas “garante” que seus “clientes” cumprirão suas obrigações firmadas num contrato. A CPI tem inúmeros e fortes indícios de que o “sócio oculto” e verdadeiro condutor dos negócios do FIB Bank seja Marcos Tolentino, amigo do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) questionou Ramos Júnior: como um “banco que não é um banco” pode ter acesso ao Ministério da Saúde (MS) sem “alguém que lhe abra as portas”? O próprio parlamentar respondeu: “é a mesma porta de entrada política”. E acrescentou: “O esquema de corrupção se dá muitas vezes de forma oculta e dissimulada.”

Figuras envolvidas em ‘rolos’

“A gente tem um cidadão que precisa ser profundamente investigado, que tem envolvimento com coisa errada desde a década de 80 pelo menos, e que teve a desfaçatez de chegar aqui acompanhado por outro cidadão que precisa ser investigado. Esse primeiro a que me referi é o deputado Ricardo Barros. O segundo, Marcos Tolentino. Figuras que estão aí, envolvidas em ‘rolos’ – como diz o presidente da República – desde a década de 80 pelo menos. Essa parte, presidente Omar Aziz, tem que ser atribuída culpa à Justiça. A Justiça é lenta demais. Ela abre espaço a esses picaretas. Porque essa turma tinha que estar na cadeia há muito tempo. Porque enquanto não forem pra cadeia, vão estar aí. Muda governo, chega governo, e eles encontram um jeito de encostar o mecanismo deles”, continuou Vieira.

Nesse quadro, o depoente escapou de ser preso, conforme haviam sugerido o relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), ainda pela manhã, e Soraya Thronicke (PSL-MS), à tarde. Por sua vez, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), em sua inquirição, demonstrou perplexidade ante o fato de o Ministério da Saúde (MS) admitir o tipo de garantia oferecido pelo FIB Bank em negociações de vacina contra a covid-19. A Precisa Medicamentos pagou à empresa R$ 350 mil antecipados de um total de R$ 500 mil, em “contrato assinado por Roberto Dias (ex-diretor de logística do MS), apadrinhado de Ricardo Barros”, disse a senadora.

“Articulador profissional de fraudes”

Eliziane citou termos de uma ação movida pela construtora GCI, que, segundo ela, foi à justiça contra o FIB Bank “por irregularidades” e cobra R$ 831 mil na ação. No processo, a empresa define Tolentino como “articulador tarimbado e profissional de uma série de fraudes e golpes com a finalidade de lesar terceiros de boa fé em benefício próprio. Que usa suas empresas com desvio de finalidade e confusão patrimonial.”

Segundo outro trecho da ação da construtora contra o FIB Bank lido por Eliziane, Tolentino comanda “uma rede de negócios especializada em enganar, principalmente, firmas com dívida em aberto” perante o fisco. Por essa razão, as empresas do amigo de Ricardo Barros estariam em nome de parentes e pessoas próximas.

Ironia

Em outro momento da oitiva de hoje na CPI da Covid, Alessandro Vieira rebateu fala do senador bolsonarista Marcos Rogério (DEM-RO), que repetiu pela enésima vez, e como sempre em voz alta, que não houve corrupção, já que o governo não pagou pela vacina Covaxin. “Não adianta ficar gritando, fazendo voz bonita, empostada, parecendo locutor, pra dizer quer não tem corrupção se não houver pagamento. A corrupção se dá no pedido” disse o senador por Sergipe.


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