Irregularidades

CPI da Covid: senadores denunciam ‘artimanhas’ do FIB Bank e uso de ‘laranja’

Empresa cedeu ‘carta-fiança’ irregular para Precisa Medicamentos participar de negociação da Covaxin frente ao Ministério da Saúde

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado
Presidente da FIB Bank negou relação com o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) e disse não conhecer Francisco Maximiano

São Paulo – Os senadores da CPI da Covid denunciaram irregularidades, contradições e até o uso de “laranja” por parte do FIB Bank. Nesta quarta-feira (25), a comissão ouve o presidente-diretor da empresa, Roberto Pereira Ramos Júnior, que foi criticado por mentir aos parlamentares durante a oitiva.

Um dos momentos mais importantes da sessão foi a exibição de um vídeo com depoimento de Geraldo Rodrigues Machado, o ‘Geraldão’. Na declaração, Geraldo explica que, ao tentar financiar uma moto, descobriu que foi usado como “laranja” para a fundação da empresa e tenta reverter a situação na Justiça. Ele afirmou nunca ter participado da criação e que teve sua assinatura falsificada.

Mesmo no cargo de presidente, Roberto disse não saber sobre a origem da empresa e as relações dos sócios. Para o relator Renan Calheiros (MDB-AL), o depoimento é um “típico caso de recomendar prisão”. Porém, o presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse que não poderia decidir nesse sentido por decisão da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Carmen Lúcia.

FIB Bank e Precisa Medicamentos

O depoimento do presidente do FIB Bank foi solicitado para auxiliar a investigação sobre a negociação que envolve o governo Bolsonaro, o laboratório indiano Baraht Biotech e a Precisa Medicamentos, na compra da vacina Covaxin.

A concretização da compra da vacina, que teve a Precisa Medicamentos como intermediária, só foi possível após um termo de garantia no valor de 5% do total contratado, ou seja, R$ 80,7 milhões. Entretanto, a farmacêutica apresentou uma carta-fiança irregular emitida pelo FIB Bank.

À CPI da Covid, Roberto Pereira afirmou que o custo para emissão da carta-fiança foi de R$ 500 mil e a Precisa teria antecipado R$ 350 mil. Omar Aziz questionou e disse “não acreditar” que o FIB Bank fizesse um negócio com tanto dinheiro, sem conhecer o histórico da Precisa.

Em outro momento, o presidente do FIB Bank negou relação com o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) e também disse não conhecer Francisco Maximiano, sócio da Precisa. Calheiros e Randolfe duvidaram da resposta. “Como você dá respaldo a um contrato de mais R$ 1 bilhão, e nem conhece a pessoa?”, questionou o senador da Rede.

Nome de banco, mas não é banco

Logo no começo de seu depoimento na CPI da Covid, Roberto Pereira disse que o FIB Bank não é um banco, mas uma sociedade anônima que presta garantias fidejussórias. O faturamento do ano passado foi de cerca de R$ 1 milhão e, neste ano, está perto de R$ 650 mil, afirmou.

Os senadores da CPI ficaram incrédulos com as declarações de depoente, quando afirmou que sua empresa é de pequeno porte, mas seu capital social é de R$ 7,5 bilhões, a partir de apenas dois imóveis. “Recebi uma mensagem que esse é o preço do Palácio de Buckinham”, ironizou Aziz, ao citar a residência oficial da monarquia do Reino Unido, em Londres.

Entre os apontados como sócio oculto do FIB Bank está Marcos Tolentino da Silva, que é próximo ao deputado Ricardo Barros. Roberto negou conhecer a relação entre o advogado Marcos Tolentino e a empresa. A versão dele foi contestada pelos senadores. Roberto Rogério Carvalho (PT-SE) afirmou que o telefone do escritório de Marcos Tolentino é o mesmo do Fib Bank e Randolfe complementou que o endereço da MB Guassu, outra empresa que compõe o capital do FIB Bank, é o mesmo do escritório de Tolentino.

“Marcos Tolentino é o verdadeiro dono do FIB Bank, sendo uma espécie de sócio oculto da empresa. Por ser amigo de Ricardo Barros, teria facilitado a emissão da carta fiança em favor da Precisa Medicamentos para satisfazer os interesses do deputado na execução do contrato da Covaxin”, afirmou Renan Calheiros.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) afirmou que são tantas artimanhas do FIB Bank que compõe por si só a conclusão de que o contrato sobre a Covaxin era fraudulento e questiona onde estava a assessoria jurídica do Ministério da Saúde para aprová-lo. “O contrato da Covaxin era fraudulento, com dinheiro indo para o paraíso fiscal e que pegou garantia com um banco que não era banco”, criticou.

Novos investigados da CPI

O relator da CPI da Covid informou, durante a abertura da reunião, que incluiu outras três pessoas na lista de investigados pela comissão. Agora, também entram na lista: o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias; Emanuel Catori, sócio da Belcher Farmacêutica; e Francisco Emerson Maximiano, dono da Precisa Medicamentos.

Além disso, a comissão aprovou requerimento do senador Randolfe Rodrigues para a convocação do motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva, apontado como responsável por sacar R$ 4,7 milhões em espécie, na boca do caixa, para a VTCLog. Investigada pela comissão, a empresa teria movimentado R$ 117 milhões nos últimos dois anos em operações consideradas suspeitas.

“Vimos essa informação hoje. Este motoboy que sacou mais de R$ 4 milhões para a VTCLog. Vamos ver se a CPI vai ouvi-lo. Eu não sei quem é. Eu vi isso agora. Se tiver que aprovar um requerimento é esse Ivanildo”, falou Aziz em entrevista coletiva aos jornalistas.


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