negacionismo

Vitamedic doou ivermectina para médicos promoverem ‘tratamento precoce’

Imagem mostrada na CPI da Covid mostra “celebração” da doação de 180 caixas do medicamento para médico de Manaus. Aziz recomenda “amparo jurídico” às famílias de vítimas

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
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A foto exibida na CPI da Covid mostra o perfil do Instagram "DF (Distrito Federal) Vencendo a Covid" celebrando doação de invermectina a médicos

São Paulo – A CPI da Covid revelou, nesta quarta-feira (11), que a farmacêutica Vitamedic promoveu o “tratamento precoce” contra a covid-19 junto à classe médica, mesmo com comprovações científicas de sua ineficácia. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AL) mostrou foto de um representante da empresa fazendo uma doação de 180 caixas do medicamento ivermectina, em outubro do ano passado, para um médico de Manaus defensor do “kit covid”. O recebimento do “presente” foi celebrado pelo perfil do Instagram “DF Vencendo a Covid“. A conta é abastecida por médicos e pessoas da área da saúde que defendem a “intervenção precoce” para covid-19.

Até a exibição da imagem, o diretor-executivo da Vitamedic, Jailton Batista, negava que a empresa havia defendido o uso do medicamento, embora tenha assumido que a farmacêutica financiou ações de publicidade em defesa do “tratamento precoce”. Após a revelação feita por Randolfe, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), defendeu que as vítimas de médicos negacionistas busquem amparo jurídico. “As famílias que perderam entes queridos devem entrar em contato com a Defensoria Pública, com um processo de indenização contra as pessoas que induziram à morte, após o uso desses medicamentos”, afirmou Aziz.

Defesa sem embasamento

Em seu depoimento, iniciado na manhã desta quarta-feira (11), Jailton também foi questionado sobre o motivo para a empresa promover o uso da ivermectina – que é usado no tratamento de infestações por parasitas, como piolhos e sarnas – , mesmo após estudos não recomendando o medicamento para covid-19. O senador Humberto Costa (PT-PE) ressaltou que os defensores do tratamento precoce utilizaram estudos fraudulentos. Os senadores criticaram as notas publicadas pela Vitamedic que rebatiam a versão do laboratório Merck, que patenteou a ivermectina e não recomendou a medicação para casos de covid. Humberto afirmou que o negacionismo de Jailton tinha como base o enriquecimento da empresa.

“Na nota da Vitamedic, o senhor escreveu que o “mercado da ivermectina, produto de baixo custo, incomoda e pode ser um motivador de campanhas contrárias na mídia, especialmente por empresas que querem lançar produtos patenteados”. Ou seja, você acreditava que poderia enriquecer e as colocações contrárias ao medicamento eram financeiras, não científicas”, criticou Costa.

“Vocês rebateram a Merck, mas vocês não tinham estudos favoráveis também”, acrescentou Randolfe. Humberto disse ainda que a Vitamedic agiu como “abutre”. “Vocês pagaram um informe publicitário para passar a versão de médicos bolsonaristas que lavaram as mãos. A sua empresa cometeu um erro ao desenvolver canais para ampliar a venda dos medicamentos e seduzindo profissionais da área da saúde.”