CASOS DE FAMÍLIA

CPI da Covid: auditor do TCU diz que ‘estudo paralelo’ foi alterado após chegar a Bolsonaro

Alexandre Figueiredo afirmou que presidente Bolsonaro foi ‘irresponsável’ ao divulgar documento falsificado

Pedro França/Agência Senado
Pedro França/Agência Senado

São Paulo – O auditor do Tribunal de Contas da União (TCU) Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques afirmou durante depoimento na CPI da Covid, nesta terça-feira (17), que “estudo paralelo” de supernotificação de mortes por covid-19 foi editado após o presidente Jair Bolsonaro ter posse do documento.

O auditor do TCU disse à CPI da Covid que em nenhum momento apresentou um estudo que concluía a superestimação dos dados de mortes pelo vírus. O objetivo do documento, porém, era abrir um “debate preliminar” para provocar a discussão dentro do órgão.

Em seu relato na CPI da Covid, o auditor do TCU disse que enviou o documento em formato “Word” e aberto para edição ao seu pai, o coronel da reserva Ricardo Silva Marques. Entretanto, sem seu conhecimento, o arquivo foi transmitido ao presidente Jair Bolsonaro e consequentemente editado.

“A falsificação foi constatada após chegar ao presidente. Eu recebi uma versão já em ‘PDF’ (sem a possibilidade de edição) desse arquivo, com o TCU mencionado no cabeçalho. Meu pai recebeu o arquivo em ‘Word’ e mandou para o presidente. Foi usado indevidamente”, afirmou Alexandre à CPI.

Estudo paralelo

Em junho deste ano, ao conversar com apoiadores, Bolsonaro disse que teve acesso a um relatório oficial do TCU que concluía que a maior parte das mortes apontadas como decorrência da pandemia seriam na verdade em virtude de outras doenças.

De acordo com o auditor do TCU, as informações foram extraídas do portal de transparência do registro civil. A partir disso, fez um documento preliminar de apenas duas páginas. Na oitiva, reiterou que Bolsonaro foi irresponsável ao divulgar um estudo falso. “Foi atribuído ao TCU um documento que não era oficial do órgão”, disse ele, que não soube responder quem era o responsável pela edição.

Alexandre Marques é filho do coronel da reserva Ricardo Silva Marques, que foi colega de turma de Jair Bolsonaro na Academia Militar dos Agulhas Negras. Em seu depoimento, confirmou que o pai segue com uma relação próxima ao presidente da República.

Acareação cancelada

Antes de iniciar a sessão CPI da Covid, o relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), confirmou que a acareação, marcada para amanhã, entre o atual ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, e o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) foi cancelada.

Os depoimentos foram aprovados na semana passada, mas os senadores da CPI decidiram cancelar, pois julgam que não acrescentaria fatos novos para a investigação. Segundo Renan, a comissão está “em reta final” e o relatório deverá ser entregue até o fim de setembro.

Para quinta-feira (19), está previsto o depoimento do empresário Francisco Maximiano, sócio da Precisa Medicamentos. A ida de Maximiano à CPI já foi adiada mais de uma vez, a última delas em julho. Ele conseguiu no Supremo Tribunal Federal (STF) um habeas corpus para não responder perguntas que possam incriminá-lo.