CPI da Covid

Cascavel afirma que era um ‘facilitador’, e não ‘ministro de fato’ na gestão Pazuello

Senadora Simone Tebet (MDB-MS) apontou que Airton Soligo, conhecido como Airton Cascavel, deliberou sobre o envio de verbas e insumos para o seu estado, quando ainda nem sequer havia sido nomeado como assessor

Jefferson Rudy/Agência Senado
Jefferson Rudy/Agência Senado
Ex-assessor da Saúde que despachou antes mesmo de ser nomeado disse que sua função era "fazer acontecer"

São Paulo – O empresário Airton Soligo, conhecido como Airton Cascavel, negou, em depoimento à CPI da Covid nesta quinta-feira (5), que o então ministro da Saúde general Eduardo Pazuello tivesse delegado a condução dos assuntos estratégicos da pasta durante a pandemia. “Nunca houve um processo de terceirização de competência”, afirmou Cascavel. Ele disse ter atuado apenas como um “facilitador” das ações do ministério, se esquivando sobre temas delicados como a compra de vacinas e o colapso ocorrido em Manaus pela falta de oxigênio, no início do ano.

“Eu trabalhava na interlocução com prefeitos e secretários. Tinha ali uma relação de diálogo permanente da ponta, da base, com o ministério. Era um facilitador”, disse Cascavel. Em especial, ele disse que realizava tratativas do ministério com o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).

Cascavel admitiu que, antes de ser nomeado para o cargo de assessor, atuou extraoficialmente junto ao ministério. Afirmou que a sua nomeação demorou, entre outros fatores, porque ele precisava se afastar das suas empresas. E atribuiu à suspensão do atendimento dos cartórios, em razão da pandemia, as dificuldades para obter os documentos necessários para a sua efetivação como assessor especial do ministério.

“Não assinei nada nesse momento. Eu era apenas o interlocutor. Se tiver que responder pela minha atuação, tenho a dizer que não fui omisso. Fiz a minha parte”, declarou o depoente à comissão. No entanto, disse que era preciso “diminuir” a importância atribuída a ele, “Eu ajudava a facilitar a burocracia pública, para que as coisas acontecessem. Foi esta a minha função, a de fazer acontecer”, completou.

Informalidade

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) relatou que chegou a ser recebida no ministério por Cascavel, em junho do ano passado, enquanto ele ainda não havia sido oficialmente nomeado. Ela teria ido tratar da liberação de verbas e envio de suprimentos de saúde ao seu estado. Tais demandas foram despachadas por Cascavel. “Fui para falar com o ministro. Pois bem. E fui atendida por um empresário, que era vossa excelência. Estava ausente naquela sala o verdadeiro titular que era o ministro.”

Para a senadora, é mais um sintoma da falta de comando no ministério. “Sem planejamento, estados e municípios ficam ‘sem pai nem mãe’. Não houve coordenação. ‘Toma que o filho é seu’. Foi isso que foi dito para estados e municípios. É por isso que faltou kit intubação, sedativo e oxigênio. Porque o governo simplesmente lavou as mãos. Houve omissão dolosa”, declarou a senadora.

Colapso em Manaus

Cascavel disse que esteve duas vezes em Manaus, em dezembro de 2020. Afirmou ter alertado os técnicos do ministério para o risco de recrudescimento da pandemia no início deste ano. Segundo o ex-assessor, a pasta desenvolveu um plano para o enfrentamento da covid-19 e enviou cerca de 90 respiradores para o estado.

As declarações foram contestadas pelo senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Covid. Ele lembrou que parte dos equipamentos não foi usada, devido à falta de componentes. Nesse sentido, classificou como omissa a atuação do ministério durante a crise em Manaus.

“Vocês todos cruzaram os braços. Aquela segunda onda que começa e tem falta de oxigênio poderia ter sido evitada. O grande problema foi a omissão. Com isso, tivemos o caos. Pelo recuo do lockdown. E quem fez esse recuo? Deputados bolsonaristas, o próprio presidente da República e o Ministério da Saúde, que não tinha autonomia”, disse o senador.

Tratecov e vacinas

Cascavel também afirmou à CPI da Covid desconhecer o TrateCov, aplicativo desenvolvido pelo ministério que recomendava a utilização de medicamentos sem eficácia contra a covid-19. A ferramenta foi aplicada em Manaus, durante o colapso do sistema de saúde no início do ano. Sua utilização, contudo, foi suspensa quando explodiram as críticas com relação à recomendação indiscriminada de uso da hidroxicloroquina, ivermectina e outros medicamentos. O ex-assessor do ministério disse que não se interessou pelo tema. “Achei que era um aparelho russo”, tripudiou.

Além disso, o depoente também afirmou que não tratou de qualquer negociação referente à compra de vacinas. De acordo com ele, esta era uma atribuição da secretaria-executiva do ministério. Por outro lado, disse apenas que atuou para “pacificar” as tratativas com prefeitos e governadores a respeito da compra da CoronaVac, ainda antes de o presidente Jair Bolsonaro ter mandado suspender essa negociação. Cascavel disse que “houve e ainda há” uma politização em relação aos imunizantes, mas não soube apontar quem teria contribuído para o acirramento dessas disputas políticas.


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