Aposta no caos

Bolsonaro pede impeachment de Alexandre de Moraes, do STF

Documento foi protocolado no Senado nesta sexta e deve aguardar parecer do presidente da Casa, que criticou a ação. STF emite nota de repúdio

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São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro protocolou na tarde desta sexta-feira (20) pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. É a primeira vez na história do Brasil que um presidente da República pede impeachment de um ministro do Supremo. O Supremo divulgou nota oficial repudiando a ação do presidente. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), também criticou a medida. Mas diferentemente de seu colega presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que a Casa vai dar a devida avaliação ao pedido de Bolsonaro. Lira, por sua vez, se recusa a colocar em apreciação dos mais de 130 pedidos de impeachment de Bolsonaro parados na Câmara.

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Como Jair Bolsonaro e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), estão fora de Brasília, não houve a entrega formal do documento pelas autoridades. Segundo informações da CNN Brasil, no documento Bolsonaro diz que “não se pode (sic) tolerar medidas e decisões excepcionais de um ministro do Supremo Tribunal Federal que, a pretexto de proteger o direito, vem ruindo com os pilares do Estado Democrático de Direito”. Segundo o Palácio do Planalto, ainda, “ele (Moraes) prometeu a essa Casa e ao povo brasileiro proteger as liberdades individuais, mas vem, na prática, censurando jornalistas e cometendo abusos contra o presidente da República e contra cidadãos que vem tendo seus bens apreendidos e suas liberdades de expressão e de pensamento tolhidas”.

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Bolsonaro postou em suas redes sociais no sábado (14) que pediria o afastamento de Moraes e do também ministro Luís Roberto Barroso. Mas até agora somente o pedido de impeachment Alexandre de Moraes, do STF, foi apresentado. De acordo com o rito legal, o pedido protocolado na presidência do Senado é remetido à Secretaria-Geral da Mesa para autuação e depois tramita como uma petição dentro do Senado.

Presidente reativo

Bolsonaro ignorou apelos e alertas de ministros e parlamentares contrários ao pedido de impeachment que agravaria a crise vivida pelo país. Inclusive do presidente do Senado que avisou não considerar recomendável a abertura de processos de impeachment de ministros do STF neste momento. Para Pacheco, tal pedido poderia prejudicar a “pacificação” da sociedade brasileira.

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A formalização do pedido de Bolsonaro para o impeachment de Moraes ocorre no mesmo dia em que a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços dos aliados do presidente da República, o cantor Sérgio Reis e o deputado Otoni de Paula (PSC-RJ). Solicitadas pela Procuradoria-Geral da República, as medidas foram autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Foi exatamente um dia após a prisão de outro aliado, Roberto Jefferson, que Bolsonaro anunciou que ingressaria com o pedido de impeachment contra ministros do STF. A detenção do ex-deputado ocorreu após ataques de Roberto Jefferson às instituições e foi determinada por Moraes.

Tramitação do pedido

A primeira manifestação é do presidente do Senado, ao avaliar a admissibilidade do pedido de impeachment. Nesta fase, ele pode indeferir a petição. Se considerar que há pressupostos de admissibilidade, ele leva para a deliberação da Mesa.

Caso a Mesa do Senado admita, o pedido do presidente Bolsonaro para o impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes será lido em plenário. Uma comissão especial de senadores eleita deve emitir um parecer. Nessa fase podem ser solicitadas diligências. Depois, o parecer passa pela deliberação do plenário.

Caso esse parecer seja aceito pelos senadores, o denunciado – no caso Alexandre de Moraes – é comunicado e deve apresentar sua defesa que será apreciada pelo plenário. Caso o parecer pelo pedido de impeachment seja acolhido, o STF é comunicado e o denunciado é afastado até a sentença final. Para o julgamento, após prazo para manifestação da acusação e da defesa, é necessário quórum de 2/3 para a perda do cargo, informa a CNN Brasil.

Outras 17 iniciativas de abertura de investigação contra os ministros do STF tramitam no Senado, segundo reportagem do UOL. A de Bolsonaro vai entrar na fila. São 10 pedidos contra Moraes e cinco contra Barroso. E há casos de processos contra mais de um ministro.

Repúdio

Em nota, o Supremo Tribunal Federal declarou repúdio à decisão de Bolsonaro de apresentar pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes. Leia a íntegra:

O Supremo Tribunal Federal, neste momento em que as instituições brasileiras buscam meios para manter a higidez da democracia, repudia o ato do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, de oferecer denúncia contra um de seus integrantes por conta de decisões em inquérito chancelado pelo Plenário da Corte.

O Estado Democrático de Direito não tolera que um magistrado seja acusado por suas decisões, uma vez que devem ser questionadas nas vias recursais próprias, obedecido o devido processo legal.

O STF, ao mesmo tempo em que manifesta total confiança na independência e imparcialidade do Ministro Alexandre de Moraes, aguardará de forma republicana a deliberação do Senado Federal.

Brasília, 20 de agosto de 2021.


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