CPI da covid

Randolfe apresenta queixa-crime contra Bolsonaro por mentir nas redes sociais

Presidente continua ataques contra senadores. Segundo pesquisa do Senado, 66% consideram CPI da Covid “muito importante para o país”

Leopoldo Silva/Agência Senado
Leopoldo Silva/Agência Senado
O senador pediu a retirada do conteúdo das redes em até 12 horas e uma retratação de Bolsonaro

São Paulo – O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI da Covid, apresentou nesta terça-feira (20) queixa-crime contra o presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF). O chefe do Executivo publicou ontem nas redes sociais um vídeo, gravado em 5 de abril, em que o senador defende aprovação de vacinas pela Anvisa, entre elas a Covaxin. Randolfe pediu a retirada do conteúdo das redes em até 12 horas e uma retratação, além de uma indenização de R$ 35 mil. “Olha quem queria comprar a Covaxin sem licitação e sem a certificação da Anvisa”, escreveu Bolsonaro, como legenda do vídeo. No início do mês, Randolfe já havia sido objeto de informação falsa, ao ser acusado de fazer rachadinha por grupos de seguidores de Bolsonaro.

“Ontem, o presidente, demonstrando não se ocupar com o que importa, publicou em sua redes sociais uma tentativa de me envolver nos rolos da Covaxin”, escreveu o senador no Twitter. “Acabo de apresentar queixa-crime contra Bolsonaro por difamação, em razão de tentativa de ferir minha reputação mentindo sobre meu alegado envolvimento nos esquemas da Covaxin”, continuou Randolfe. “Essa covardia de fake news precisa ACABAR!”

“É lógico que eu queria vacina o mais rápido possível. Salvar vidas, pra gente, não é brincadeira e não é algo que se negocie c/ intermediários. Queria a Janssen, a Covaxin, a AstraZeneca, a CoronaVac, a Pfizer… Nossa diferença é grande: eu queria vacina! Vocês queriam propina!”, postou Randolfe ainda ontem, dia da postagem de Bolsonaro.

À beira de um ataque de nervos

Destemperado, Bolsonaro continuou hoje os ataques à CPI. A seguidores, ele se referiu ao presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), como alguém “mais conhecido como anta amazônica”. O senador respondeu, no Twitter, aludindo à “fala de Bolsonaro no famoso cercadinho, que cada vez fica menor, cada vez fala pra menos”, segundo o senador em vídeo. “Me chamou de anta amazônica. Não sabe o que é. Os militares que serviram na Amazônia sabem o que a anta significa pro meio ambiente. Presidente, uma dica: estude a fauna Amazônica. O predador do macaco guariba é a onça. Macaco guariba é aquele que quando foge da onça defeca pelos orifícios pra se proteger da onça. Presidente, a onça vai pegar o macaco guariba. Tenha certeza”, avisou.

Quem foi quem na CPI da Covid, que escancarou a corrupção na Saúde

Instalada oficialmente em 27 de abril, a CPI da Covid tem provocado grande interesse da população, o que justifica o nervosismo de Bolsonaro. De acordo com pesquisa do Instituto DataSenado, 73% dos brasileiros sabem da existência da comissão. Em maio, eram, 65%. Dos pesquisados, 67% afirmam que acompanham os trabalhos da comissão e, entre esses, 66% acham que a criação da CPI foi “muito importante para o país”. 

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Segundo Aziz, pela manhã houve uma reunião entre senadores e equipe técnica de apoio. A comissão avalia a quebra sigilos bancário, fiscal, telemático e telefônico de pessoas e empresas, não mencionadas para não prejudicar os trabalhos. “A palavra de ordem é se aprofundar nas investigações entre empresas, pessoas e servidores para não cometer injustiças, falando coisas que depois não se possa provar”, disse o presidente do colegiado.

Além disso, de acordo com a CPI, a política fiscal de Paulo Guedes se aliou ao negacionismo de Bolsonaro e seu governo e prejudicou a negociação de vacinas, principalmente a Pfizer (leia aqui). “Paulo Guedes ajudou a retardar a compra de vacinas porque estava mais preocupado em economizar verba do orçamento do que em garantir a vacinação dos brasileiros”, postou o senador Humberto Costa (PT-PE). Ele defende que Guedes vá à CPI “para explicar o seu papel no processo de aquisição de imunizantes”.

CPMI das Fake News + CPI da Covid

Já a CPMI das Fake News (CPMI), realizada em conjunto pela Câmara e pelo Senado, recebeu ofício do relator da CPI da Covid 19 (CPI), senador Renan Calheiros (PMDB/AL), no qual ele solicita a cooperação da equipe técnica da CPMI. “A intenção é que haja colaboração para identificar uma verdadeira rede de desinformação que atua espalhando notícias falsas sobre a eficácia das vacinas contra o coronavírus, tratamentos precoces inexistentes e mensagens que confundem e podem custar a vida de brasileiros e brasileiras”, diz nota enviada pela assessoria da relatora da comissão que apura as fake news, deputada Lídice da Mata (PSB/BA).

Antes de entrar em recesso, Randolfe afirmou que a CPI da Covid abre nova fase em agosto, passando a investigar papel das fake news no agravamento da pandemia.

Os trabalhos da CPMI das Fake News estão suspensos desde março de 2020. “Temos plena certeza que os dados que já foram colhidos pela CPMI das Fake News serão determinantes no cruzamento de informações para identificar os autores que fabricam desinformação sobre o coronavírus”, diz a nota. O retorno das reuniões deliberativas e sessões de depoimentos da CPMI das Fake News ainda aguarda determinação dos presidentes da Câmara e do Senado.