transação paralela

Pazuello negociou Coronavac com atravessadores pelo triplo do preço do Butantan

‘Folha de S.Paulo’ divulgou vídeo da reunião de Pazuello com representantes de uma empresa que ofereceu 30 milhões de doses da Coronavac ao custo unitário de US$ 28

Reprodução
Reprodução
Na reunião, então ministro chega a anunciar a assinatura de memorando de entendimento com atravessadores

São Paulo – O então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, negociou com atravessadores a aquisição de 30 milhões de doses da vacina Coronavac, do laboratório chinês Sinovac. Sem registro na agenda oficial do ministério, Pazuello se reuniu com representantes World Brands, empresa de Santa Catarina especializada em comércio exterior no próprio ministério, no dia 11 de março. Em vídeo divulgado pelo jornal Folha de S.Paulo nesta sexta-feira (16), o general anunciou a assinatura de um memorando de entendimento com os fornecedores. E ainda prometeu celebrar o contrato “no mais curto prazo”.

A justificativa de Pazuello é que se trataria de uma “negociação direta com o governo chinês”, apesar da participação dos intermediários. No entanto, de acordo com a reportagem, na proposta apresentada pela World Brands, cada dose da Coronavac custaria aos cofres públicos US$ 28.

É quase o triplo do valor cobrado pelo Instituto Butantan, que vendeu 100 milhões de doses do imunizante ao ministério da Saúde ao custo de U$ 10 por dose. A Sinovac afirmou, em nota, que ‘APENAS’ (em maiúsculas) o Instituto Butantan pode oferecer a Coronavac no Brasil. O acordo para transferência de tecnologia foi assinado com o Butantan em setembro do ano passado.

Contradição explícita

Tanto o vídeo da reunião com os representantes da World Brands, bem como a proposta apresentada foram encaminhadas à CPI da Covid. Além da atuação dos intermediários – como ocorreu também no caso da vacina Covaxin, bem como nas negociações com a Davati – e do sobrepreço, a reunião, por si só, desmente o ex-ministro.

Em depoimento à Comissão, em abril, quando perguntado sobre a falta de interesse do ministério em relação às ofertas de imunizantes apresentadas pela Pfizer, Pazuello chegou a afirmar que “jamais” teria participado diretamente desse tipo de negociação. “Pela simples razão de que eu sou o dirigente máximo, eu sou o ‘decisor’, eu não posso negociar com a empresa. Quem negocia com a empresa é o nível administrativo, não o ministro”, disse ele na ocasião.

A reunião foi marcada com o gabinete do então secretário-executivo do ministério, Élcio Franco, que recebeu o grupo. Segundo a reportagem, Pazuello foi chamado, ouviu o relato da reunião e fez o vídeo. No entanto, o anúncio da assinatura do memorando de entendimento teria sido gravado antes mesmo do ministro saber do preço ofertado. O então ministro foi exonerado quatro dias depois, em 15 de março, e a negociação, no entanto, não prosperou. Procurados, Pazuello e Élcio Franco não se manifestaram.