CPI DA COVID

Ministério da Saúde não questionou calote da Precisa durante negociações

Empresa deve R$ 20 milhões à pasta. Senador Humberto Costa aponta “tráfico de influência”

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado
De acordo com Emanuela, a Precisa "sempre foi 100% transparente" e desmentiu que houve qualquer irregularidade cometida pela empresa

São Paulo – A diretora-técnica da Precisa Medicamentos, Emanuela Medrades, disse que, durante a intermediação na venda da Covaxin, o Ministério da Saúde ignorou a dívida da empresa com a pasta, após um calote em 2018. Afirmação dada na CPI da Covid, nesta quarta-feira (14), levantou suspeita do senador Humberto Costa (PT-PE), que apontou “tráfico de influência”.

A Global Gestão em Saúde S/A, que faz parte do mesmo grupo societário da Precisa Medicamentos, recebeu em 2017 R$ 20 milhões antecipados por medicamentos de doenças raras, mas que nunca foram entregues quando o ministro era o atual deputado Ricardo Barros (PP-PR). O caso tramita na 21ª Vara da Justiça Federal e ainda não foi julgado.

Emanuela foi questionada pelo senador Humberto se a Bharat Biotech, laboratório que produz a Covaxin, tinha conhecimento a respeito de investigação sobre a Precisa ter superfaturado o valor de testes em venda ao Distrito Federal, além do calote dado no Ministério da Saúde.

De acordo com ela, a Precisa “sempre foi 100% transparente” e desmentiu que houve qualquer irregularidade cometida pela empresa. “Eles tinham conhecimento sobre tudo”, acrescentou Medrades. Em seguida, disse ainda que ninguém no Ministério da Saúde invocou sobre o calote de 2018.

“Isso é grave, o Ministério em nenhum momento invocou a discussão da possibilidade de uma empresa envolvida numa fraude contra Ministério ser intermediária da aquisição de um contrato de R$1,6 bilhão”, criticou o senador.

Precisa é ‘jabuti na árvore’

Durante a CPI, Humberto Costa também perguntou se a empresa tem alguma experiência anterior na comercialização de vacinas. Emanuela respondeu que a empresa em si não tem experiência, mas os funcionários, sim. “É a primeira operação da Precisa”, disse.

O senador criticou a falta de critério do Ministério da Saúde para negociar com uma empresa “sem expertise na área de vacinação” e “com ficha corrida manchada por golpe no Ministério da Saúde”. “Jabuti não sobe em árvore. É evidente que a empresa tem um tratamento especial, demorando só 97 dias para vender uma vacina ainda sem registro na Anvisa. O próprio relatório do Coaf mostra várias relações financeiras suspeitas e nada foi levado em consideração”, alertou o senador.

Maximiano na CPI

O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), anunciou mais cedo que o depoimento do sócio-diretor da Precisa Medicamentos, Francisco Maximiano, marcado para hoje, foi adiado para agosto.

De acordo com Aziz, não seria possível ouvir os dois no mesmo dia, pois há muitos senadores inscritos para apresentarem questionamentos à diretora da Precisa Medicamentos.

A pedido de Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e do vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a comissão já aprovou a quebra de sigilo telefônico, telemático, fiscal e bancário de Maximiano. Também foi quebrado o sigilo telefônico e telemático de Emanuela Medrades e aprovado o pedido para que a Polícia Federal compartilhe com a comissão o depoimento da diretora ocorrido na última segunda-feira (12). A CPI já recebeu a maior parte desses documentos.