Inspirados na máfia

Medo e ameaça de castigo sustentam Bolsonaro e milicianos, diz jurista

Carol Proner (UFRJ) afirma que ex-cunhada de Bolsonaro “corre risco” após ter exposto a participação do presidente no esquema das rachadinhas

Reprodução/redes sociais
Reprodução/redes sociais

São Paulo – A jurista e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Carol Proner comparou a lógica de funcionamento da família Bolsonaro e de milicianos no seu entorno à de grupos mafiosos. Nesses grupos, o código de honra – a chamada Omertà – é baseado no silêncio: “não falar, não expor e imperativamente não cooperar com autoridades, mesmo quando sob pressão de uma acusação ou um processo injusto”. Bem distantes da máfia italiana, o que garante a coesão dos grupos milicianos é o “medo”.

Nesse sentido, ela afirma que a ex-cunhada de Bolsonaro, que apontou a sua participação no esquema de peculato que ficou conhecido como escândalo das rachadinhas, “corre perigo”.

“Andrea Siqueira Valle falou demais, vacilou, contou a uma terceira pessoa o esquema original da ‘familícia’ e expôs o feito das rachadinhas envolvendo diretamente o Presidente da República. Ao ser procurada, Andrea evitou a imprensa, silenciou. Mas um áudio foi exposto”, destaca Carol Proner, em comentário para o Jornal Brasil Atual nesta quarta-feira (7).

Ela comparou esse caso à morte do miliciano Adriano da Nóbrega. Ele foi executado no início de 2020, em operação policial com ares de “queima de arquivo“. Parentes do miliciano nomeados como assessores no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro são suspeitos de participarem do esquema de desvio de salários.

Citou também o ex-ministro Gustavo Bebbiano, morto naquele mesmo ano. Ele sofreu um infarto enquanto dormia. Após romper com Bolsonaro, o ex-ministro se gabava de possuir uma “carta-bomba”, na qual revelaria bastidores das eleições ocorridas naquele ano. Ou, ainda, o ex-governador Wilson Witzel, que também se diz ameaçado pela família Bolsonaro e seu entorno.

Do medo à reação

“Mas, pelo andar da carruagem e com o isolamento do governo, o temor corporativo dá lugar a outras razões. De pessoas de bem a predestinados, a política fornece saídas para os arrependidos”, destaca a jurista. “Nos próximos meses e anos serão muitos os áudios e vídeos e as testemunhas a ilustrar a decadência de um país que permitiu a chegada de um miliciano genocida ao poder”.

A sociedade também reage, segundo ela, tomando as ruas em sucessivos protestos pelo impeachment de Bolsonaro. Carol ainda classifica como “extremamente constrangedora” a postura do procurador-geral da República, Augusto Aras, que atua para blindar a família presidencial. Contudo, o superpedido de impeachment “caiu como uma bomba” no colo do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), expondo também seus “interesses espúrios” em suas ligações com o Palácio do Planalto.

“Mas tenhamos paciência, afinal o Ministro Roberto Barroso acaba de descobrir que foi golpe”, ironizou a jurista. Ela faz menção à recente declaração de Barroso, que reconheceu que a ex-presidenta Dilma Rousseff “não foi afastada por crimes de responsabilidade ou corrupção”.

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