CPI volta

Flávio Bolsonaro ocupa vaga aberta por Ciro Nogueira. Randolfe pede sigilos do ‘complexo empresarial’ Precisa

Com senador agora na Casa Civil, Luis Carlos Heinze assume vaga de titular da comissão e filho “Zero 1” entra como membro suplente. Vice-presidente mapeia trilha do dinheiro

Jefferson Rudy/Agência Senado
Jefferson Rudy/Agência Senado
Provocativo e agressivo, o filho "Zero 1" do presidente tirou máscara, tumultuou sessões e chamou Renan de "vagabundo"

São Paulo – A partir da semana que vem, a “tropa de choque” bolsonarista na CPI vai contar com o reforço do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho do presidente da República. A vaga do senador Ciro Nogueira (PP-PI) – que era titular da comissão –, agora ministro da Casa Civil, será ocupada pelo até então suplente Luis Carlos Heinze (PP-RS), conhecido por sua defesa fanática do tratamento precoce e da cloroquina.

Com isso, o filho “Zero 1” do presidente da República entra no lugar de Heinze na suplência. Flávio terá a companhia dos bolsonaristas titulares Marcos Rogério (DEM-RO), Eduardo Girão (Pode-SE), Jorginho Mello (PL-SC). Além dos suplentes Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) e Marcos do Val (Pode-ES).

Agressivo e provocativo, Flávio Bolsonaro por diversas vezes retirou a máscara do rosto, sob a justificativa de que não conseguia ler direito com o acessório. No depoimento da diretora da Precisa Medicamentos Emanuela Medrades, em que esteve presente durante toda a sessão, o senador manteve a máscara corretamente, e foi alvo de ironia de Alessandro Vieira (Cidadania-SE). “Quero lhe parabenizar pela possibilidade da leitura, hoje, usando a máscara”, disse Vieira. Na ocasião, o senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou que Emanuela foi à comissão para “apresentar em nome da Precisa e dela a versão do governo sobre o processo (de negociações da vacina indiana).”

Depoimentos significativos

Na primeira fase de funcionamento do colegiado, antes do recesso, Flávio Bolsonaro participou em momentos em que os depoimentos podiam causar estragos ao governo. Em algumas oitivas, sua presença também foi interpretada como forma de pressionar ou intimidar depoentes politicamente mais fracos, ou para defender aliados incondicionais que seriam acossados pela oposição, como no caso do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.

Quem é quem na CPI da Covid, que escancarou a corrupção na Saúde

Flávio Bolsonaro esteve presente em momentos significativos da CPI. Por exemplo, nos depoimentos de Pazuello (em 20 de maio), do ex-governador do Rio Wilson Witzel (16 de junho), ex-aliado de Jair Bolsonaro cujo depoimento preocupava muito os aliados do presidente. Também apareceu nas vezes do deputado Luis Miranda (DEM-DF) e seu irmão, o servidor Luis Ricardo Miranda (25 jun) e do suposto representante da Davati Luiz Dominguetti (1° de julho). E esteve ainda para acompanhar presencialmente o que diriam o ex-diretor de logística do Ministério da Saúde Roberto Dias (7 de julho) – que teve prisão determinada pelo presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM) –, e do consultor Willian Santana (9 de julho), que confirmou irregularidades nas negociações da Covaxin.

No depoimento de Witzel, Flávio Bolsonaro tumultuou a sessão. Em 12 de maio, irritado com o que classificou como mentiras recorrentes de Fabio Wajngarten, ex-assessor de Comunicação da Presidência da República, o relator Renan Calheiros (MDB-AL) pediu sua prisão do depoente. O senador Flávio saiu em defesa do aliado, chamou Renan de “vagabundo”, provocando longo bate boca. Em entrevista à GloboNews, Renan afirmou que esse tipo de agressão servia “para o pai postar, que postou em seguida”.  “As pessoas que moram no Rio de Janeiro sabem que o miliciano considera que é vagabundo toda pessoa que o enfrenta”, disse o relator da CPI.

Veja como foram os depoimentos da CPI aqui.


Na trilha

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI da Covid, informou por suas redes sociais ter solicitado à comissão a quebra dos sigilos bancário, fiscal, telemático e telefônico do que chama de “complexo empresarial” de Francisco Maximiano, sócio-administrador da Precisa Medicamentos. “É fundamental p/ as investigações da CPI o acesso às transações fiscais em favor de Maximiano”, escreveu o parlamentar no Twitter (grafia original mantida). Os alvos são a 6M Participações e BSF-Bolsa e Futuro.

No retorno das sessões, a CPI programou para a terça-feira (3) o “reverendo” Amilton Gomes de Paula, apontado por supostos representantes da Davati Medical Supply como um “intermediador” para uma compra de vacinas pelo governo federal.

Na quarta-feira (4), a CPI prevê justamente a oitiva de Maximiano, da Precisa, empresa que negociava a vacina indiana Covaxin e integrantes do Planalto. Ontem, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu a autorização para importação e distribuição do imunizante. A decisão foi unânime entre os diretores da agência. Segundo a Anvisa, a decisão decorre do anúncio da fabricante Bharat Biotech, segundo a qual “a Precisa Medicamentos não possui mais autorização para representar a fabricante da vacina Covaxin no Brasil”. Na sexta-feira (23), a empresa indiana encerrou o contrato com a Precisa.


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