CPI da Covid

Ex-coordenadora do Programa de Imunizações defende ‘intercambialidade’ de vacinas em grávidas

Francieli Fantinato afirmou que teve que voltar na decisão de aplicar imunizantes diferentes em gestantes que haviam recebido a primeira dose da AstraZeneca após determinação do ministro Marcelo Queiroga

Pedro França/Agência Senado
Pedro França/Agência Senado
Vacinas em quantidades suficientes teriam evitado "fragmentação" e "disputa" por grupos prioritários

São Paulo – A ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde Francieli Fontana Fantinato defendeu em depoimento à CPI da Covid, nesta quinta-feira (8), que a imunização de gestantes que receberam a primeira dose da vacina AstraZeneca seja completada com outros imunizantes. Ela afirmou que o PNI chegou a emitir nota técnica recomendando a “intercambialidade” dos imunizantes em grávidas. “O benefício da vacinação é muito maior”, afirmou ela.

Contudo, a pedido do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, essa recomendação foi “rediscutida”. A decisão final foi pela suspensão da imunização. A orientação passou a ser que elas completassem a imunização somente 45 dias após o parto.

Isso ocorreu após decisão da Anvisa, no início de maio, que suspendeu a aplicação da AstraZeneca em gestantes, após a morte de uma grávida no Rio de Janeiro, que havia recebido a primeira dose desse imunizante. A paciente apresentou quadro de trombose. A questão foi então discutida pelo comitê de especialistas que orientava o PNI.

O temor, segundo Francieli, era deixar “descobertas” cerca de 15 mil grávidas que já haviam recebido a primeira dose da AstraZenenca. “Optamos, pelo cenário epidemiológico, em fazer a intercambialidade. Inicia com uma vacina, conclui com outra. Isso seria um ganho”, disse ela.

Essa nova orientação foi divulgada, então, em 14 de maio. No entanto, foi retirada no dia seguinte por ordem da assessoria de comunicação do ministro. Os auxiliares de Queiroga argumentaram que era preciso discutir melhor a “intercambialidade” das doses em grávidas. Ela afirmou que foi a infectologista Luana Araújo, em especial, que orientou o ministro nessa decisão.

Fura-fila

Durante o depoimento, Francieli negou que tivesse contribuído para que o filho do secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Correia de Medeiros, furasse a fila da vacinação. Ele foi vacinado em janeiro em João Pessoa. Na data, Daniel Freire, que estuda Medicina, estava fora do grupo prioritário. “Articulou alguma facilidade para que ele fosse vacinado?”, questionou o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da Comissão. “Respondo, com 100% de certeza, que não”.

Pressão

A ex-coordenadora do PNI também alegou que sofreu pressão para incluir grupos prioritários no esquema de vacinação. Essas pressões, segundo ela, trouxeram dificuldades para o desenvolvimento do plano de imunização. E também ressaltou que esses problemas não teriam ocorrido se o governo tivesse garantido maior oferta de imunizantes.

Ela disse que os critérios para o estabelecimento dos grupos prioritários foram definidos em discussão com os especialistas reunidos na Câmara Técnica Assessora. O PNI então definiu que seriam vacinados primeiramente os profissionais de saúde, seguidos por pessoas com comorbidades. Na sequência, os trabalhadores de setores essenciais.

“Sofrer pressão de todos os segmentos para entrada de grupos trouxe dificuldades para a campanha. Se tivesse vacina suficiente, não precisaria dessa fragmentação”, disse Francieli.


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