Contradições

Dias confirma encontros com intermediários, mas nega negociar vacinas

Segundo depoimento de ex-diretor do ministério da Saúde, encontros eram apenas para “confirmar a existência” das milhões de doses ofertadas por representantes

Marcos Oliveira/Agência Senado
Marcos Oliveira/Agência Senado
Dias classificou como "esdrúxula" denúncia de propina de US$ 1 dólar por dose de vacina

São Paulo –  O ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias, em depoimento à CPI da Covid nesta quarta-feira (7), confirmou que se reuniu oficialmente com o reverendo Amilton Gomes de Paula para tratar de uma oferta de 400 milhões de vacinas da AstraZeneca. Contudo, assim como ocorreu com o representante da empresa Davati Medical Suply, Luiz Paulo Dominguetti, ele nega que estivesse negociando a aquisição dos imunizantes. Segundo ele, tratava-se apenas de confirmar a “existência” das supostas doses ofertadas.

Em ambos os casos, o depoente afirmou que as tratativas não evoluíram, pois tanto Dominguetti como o reverendo não possuíam carta de representação do fabricante.

“Recebi reverendo Amilton em minha sala uma única vez, foi uma agenda oficial. A retórica era a mesma: possuía x doses disponíveis e não possuía a carta de representação do fabricante”, afirmou Dias. “Pedi documentação, não tinha e vida que segue”, acrescentou.

Perguntado se a agenda com o reverendo havia sido solicitada por e-mail enviado pela Casa Civil, Dias não soube responder. “Alguém do Palácio pediu para receber o referendo?”, questionou o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da Comissão. “Não que eu me recorde. Eu poderia até dizer, firmemente, não. Mas não que eu me recorde”, respondeu o depoente.

Dias também negou que o seu departamento tivesse feito levantamento internacional de preços das vacinas. De acordo com o depoente, todas as negociações relativas à aquisição de vacinas contra a covid-19 eram de atribuição da secretaria-executiva do Ministério da Saúde. Entre junho de 2020 e março passado, esse cargo foi ocupado pelo coronel do Exército Élcio Franco.

Demissão  

Dias também não soube apontar os motivos que levaram à sua demissão. Ele foi exonerado na semana passada, após ser acusado por Dominguetti de ter solicitado propina de US$ 1 por dose nas tratativas para a aquisição dos imunizantes da AstraZeneca. “Minha exoneração se deve a esse fato esdrúxulo e inexistente de um dólar. (Acusação) que foi feita de forma açodada, sem nenhuma verificação”, segundo o depoente.

Ele disse suspeitar que sua saída do ministério se deva às acusações feitas contra ele pelo deputado federal Luís Miranda (DEM-DF). O parlamentar chegou a afirmar que Dias teria feito “pressão indevida” sobre seu irmão, Luis Ricardo Miranda, responsável pela importação do Ministério da Saúde. E seria no sentido de acelerar a compra de 20 milhões de doses da vacina Covaxin. Dias, novamente, negou que houvesse feito pressão sobre Miranda, dizendo também que não foi pressionado para tanto.

“Estou avidamente tentando descobrir a quem interessa. Agora, fato é que soa muito estranho, conforme no meu discurso de abertura, que tudo isso, todo esse ciclo, feche no deputado Luís Miranda”, afirmou Dias.

O senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI, disse, então, que ele também desconfiava de que Dominguetti tivesse sido “plantado” para prejudicá-lo. “Sua desconfiança é que o Dominguetti foi plantado para que você perdesse o cargo, por isso é que você foi acompanhado do coronel Blanco. E a sua desconfiança é muito grande, e não é sobre o deputado Luis Miranda.”

Anteriormente, Dias havia dito que não marcou encontro com o suposto representante da Precisa Medicamentos. Disse que o jantar ocorrido em um shopping de Brasília foi “incidental“. Ele havia marcado apenas um chope com um amigo, quando Blanco – que também trabalhou no ministério – teria chegado acompanhado de Dominguetti. Foi nessa ocasião que teria ocorrido o pedido da suposta propina, o que Dias nega.