CPI da Covid

Simone Tebet vê crimes comprovados em compra da vacina Covaxin. ‘E não são poucos’

Ao Jornal Brasil Atual, senadora destaca que a comissão precisa agora descobrir os autores do esquema

Jefferson Rudy/Agência Senado
Jefferson Rudy/Agência Senado
"Ela é um peixe pequeno, não precisa proteger os tubarões. Porque se ela o fizer, irá recair sobre ela grande parte da responsabilidade por esse contrato fraudulento", diz a senadora

São Paulo – Antes uma peça-chave para elucidar à CPI da Covid no Senado as negociações entre o Ministério da Saúde com a Precisa Medicamentos, a diretora-executiva da intermediária na compra de vacinas da Covaxin, Emanuela Medrades, agora é quem precisa da comissão para afastar as denúncias de irregularidade nos contratos que recaem, neste momento, sobre ela. É o que avalia a senadora Simone Tebet (MDB-MS). 

Em entrevista à Marilu Cabañas, do Jornal Brasil Atual, nesta quarta-feira (14), pouco mais de uma hora antes de nova oitiva com Emanuela, a parlamentar afirmou estar convicta de que é a diretora-executiva da Precisa que depende da CPI.

De acordo com Tebet, “está bem claro, por tudo que vi por vídeos, áudios, testemunhas e documentos que os crimes em relação à compra da vacina Covaxin já estão comprovados, e não são poucos. Vai desde peculato, crime de corrupção ativa, passiva, advocacia administrativa, tráfico de influência e obviamente organização criminosa porque envolve mais de duas pessoas. Isso está sobejamente à luz dos nossos olhos diante da documentação que nós temos”, declarou. A comissão deve agora, segundo a senadora, apontar os autores do esquema ou “quem são os corruptores”, em suas palavras. 

Neste sentido, ela aponta que Emanuela precisa colaborar com os senadores. Desde o início da sessão de ontem, a depoente não respondeu sequer à perguntar do relator, Renan Calheiros (MDB-AL), sobre seu vínculo empregatício com a empresa. A justificativa era a de que o Supremo Tribunal Federal (STF) havia lhe concedido o direito de ficar em silêncio para não se autoincriminar. 

Conflito de interesse na defesa

A sessão chegou a ser suspensa pelo presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-MA) que foi à Corte questionar sobre o limite do direito da depoente. No despacho, o presidente do STF, Luiz Fux, indicou que ela poderia decidir em quais perguntas ficar em silêncio, mas ressaltou que nenhum direito é absoluto e que a comissão poderia tomar medidas cabíveis em caso de abuso da prerrogativa. Perto das 20h o depoimento foi retomado, mas a diretora da Precisa se declarou “exausta” e pediu o adiamento da sessão em 12 horas com a promessa de que colaboraria no dia seguinte. 

Apesar da promessa, a senadora do MDB afirmou “não ter grandes expectativas” em relação a Emanuela. Simone acredita que a diretora insistirá na tese de que as negociações ocorreram dentro da legalidade, apesar das provas em posse da comissão. A avaliação é de que a executiva está em um conflito de interesses ao ter atuando em sua defesa os advogados Ticiano Figueiredo e Pedro Ivo Velloso, que também representam o dono da Precisa Medicamentos, Francisco Emerson Maximiano. 

“Emanuela precisa falar. É a verdade que pode libertá-la nesse momento. Porque hoje, por tudo que está aqui, todas essas documentações, a princípio fraudulentas, recaem muito diretamente sobre ela. Acredito que está havendo uma inversão do que seria de bom tom para ela, e o advogado deveria aconselhá-la a falar a verdade. A gente sabe que, embora seja um peixe pequeno, ela não precisa proteger os tubarões. Porque se ela o fizer, irá recair sobre ela grande parte da responsabilidade deste contrato que está mais do que comprovado ser um contrato fraudulento”, pontuou a parlamentar. “Mas não tenho grandes expectativas porque ela está orientada pela mesmo advogado que precisa proteger também o chefe dela. O suposto chefe de toda essa organização que se montou dentro e com a ajuda de funcionários do Ministério da Saúde”, explica a senadora. 

“Acredito que ela vai continuar se mantendo firme no propósito de dizer que tudo estava dentro da legalidade e repito, como não está e nós estamos diante de vários crimes, ela vai acabar sendo indiciada no relatório do senador Renan Calheiros”, completa. 

Confira a entrevista

Redação: Clara Assunção


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