Promessa é dívida

Witzel vai à CPI da Covid mesmo liberado por Nunes Marques para não comparecer

“Há muito e muitos a serem investigados”, disse ex-governador do RJ. No depoimento desta terça-feira, ex-secretário de Saúde do Amazonas insiste em negar o inegável, mas admite pressão da “capitã cloroquina” em favor do “kit covid” em Manaus

Fernando Frazão/Agência Brasil
Fernando Frazão/Agência Brasil
Derrubado em processo de impeachment em abril, Witzel diz que "há muito e muitos a serem investigados" pela CPI

São Paulo – “Vou comparecer. Pode dizer.” A promessa é do ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel, esperado como o próximo depoente na CPI da Covid, nesta quarta-feira (16). “Vou me oferecer para ser juiz auxiliar da CPI. Há muito e muitos a serem investigados”, acrescentou o ex-mandatário fluminense, que era juiz antes de se candidatar em 2018. Ele deu a declaração depois de saber que foi beneficiado por um habeas corpus concedido pelo ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), que lhe permite não comparecer ou ficar calado.

Já o empresário Carlos Wizard, que deveria aparecer na quinta (17), mas está fugindo e se recusa a dar uma resposta à comissão, pode ser obrigado a depor. O presidente Omar Aziz (PSD-AM) e o vice-presidente, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), ameaçaram utilizar força policial para levar o membro do gabinete paralelo à CPI. Eles citam o artigo 218 do Código de Processo Penal, que autoriza a medida.

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“Patético”

No depoimento desta terça (15), o ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campêlo foi questionado durante todo o dia por senadores sobre que papel teve o governo de Jair Bolsonaro ou seus aliados para a abertura do comércio e flexibilização das medidas de restrição no estado, no final de 2020. Também foi inquirido sobre a adoção de hidroxicloroquina para tratamento da covid em toda a rede médica amazonense. Ele chegou a ouvir de Aziz: “Sua presença aqui não trouxe esclarecimento nenhum. Você veio aqui só pra tentar explicar o inexplicável”.

Mal preparado para enfrentar o interrogatório, Campêlo prestou um depoimento que repercutiu como “patético”, por sua persistência em negar o inegável, como os motivos pelos quais faltou oxigênio em Manaus no colapso de janeiro. A formação de Campêlo (é engenheiro), por sua vez, também indica pouca ou nenhuma familiaridade com temas ligados à área da saúde.

Marcos Oliveira/Agência Senado
Campêlo acabou se tornando um depoente patético, por sua persistência em negar o inegável

Em 23 de dezembro, o governador Wilson Lima (PSC), por decreto, suspendeu o funcionamento “de todos os estabelecimentos comerciais e serviços não essenciais” como forma de evitar a expansão da contaminação por covid-19, que já estava novamente acelerando. A ordem legal vigoraria de 26 de dezembro a 10 de janeiro de 2021. Sob pressão, o governador recuou e permitiu a reabertura.

De Bia Kicis a Osmar Terra

Na ocasião, bolsonaristas como a deputada Bia Kicis (PSL-DF) comemoraram no Twitter. “A pressão do povo funcionou em Manaus. O governador voltou atrás em seu decreto de lockdown. Parabéns, povo amazonense, vocês fizeram valer seu poder”, escreveu. Em 4 de janeiro, o deputado Osmar Terra (MDB-RS), conselheiro  de Bolsonaro, declarou que, apesar do “noticiário alarmista, Manaus tem queda importante de óbitos desde junho mostrando uma imunidade coletiva (de rebanho) em formação”. No dia 14 de janeiro morreram 159 amazonenses, recorde até então. Assim como Kicis e Terra, Campêlo sustentava à CPI da Covid que “a revogação (das medidas de isolamento social) se deu em função da pressão das manifestações” da população.

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) considerou a justificativa inadmissível, já que um governo não pode ceder a quaisquer pressões em detrimento do “principal bem jurídico, a vida humana”. Para o parlamentar, a responsabilidade de Campêlo e dos governos estadual e federal “é patente”.

Capitã Cloroquina, de novo

Ao ser inquirido por Contarato, o ex-secretário cedeu em relação ao uso de hidroxicloroquina. O parlamentar afirmou que, comprovadamente, a quantidade do medicamento recebido em Manaus foi muito superior às necessidades para tratar malária e outras enfermidades, como alegava o depoente. “O senhor  está subestimando a inteligência das pessoas”, devolveu o senador. “O senhor reconhece que foi enviado para tratamento da covid?”, insistiu. “Sim, foi enviado para a distribuição das prefeituras a pedido do governo federal”, admitiu Campêlo.

Contarato insistiu em saber se Mayra Pinheiro – ainda secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde –, a Capitã Cloroquina, que fez “um tour por 13 unidades de saúde” de Manaus em janeiro, defendeu a inclusão da cloroquina no protocolo de atendimento à covid do estado. “Foi abordado sim, sobre a necessidade, ao ver dela, desse tratamento”, disse, enfim, o ex-secretário.


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