RIO DE JANEIRO

Pai e filha morrem em desabamento de prédio irregular construído em Rio das Pedras

Construção estava em área controlada por milicianos como Adriano da Nóbrega, ex-policial militar ligado à família Bolsonaro

Beth Santos/PMRJ
Beth Santos/PMRJ
Rio das Pedras é o berço das milícias no Rio de Janeiro

São Paulo – O desabamento de um prédio irregular em Rio das Pedras, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro e área de milícias, na madrugada de quarta (2) para quinta (3) causou a morte de pai e filha. As vítimas são Natan Gomes, com 30 anos, e Maitê, dois anos. A mãe, Kiara Abreu, foi resgatada com vida e levada para o Hospital Miguel Couto, na zona Sul da cidade.

Além de Kiara, três pessoas foram retiradas com vida e encaminhadas a hospitais. As informações colhidas até o início da tarde davam conta de que o prédio desabou por volta das 3h20, cerca de 1 hora e meia após testemunhas afirmarem terem ouvido estalos na estrutura. Após a queda, quatro prédios no entorno tiveram de ser interditados.

Milícias e o poder

Rio das Pedras é uma área de forte influência de milicianos no Brasil. Um dos mais conhecidos era Adriano da Nóbrega, morto pela Polícia Militar (PM) da Bahia em fevereiro do passado durante uma ação controversa ligada à Operação Intocáveis. Adriano, ex-comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da PM do Rio de Janeiro, estava foragido, acusado de comandar um esquema de agiotagem, grilagem de terras e construções ilegais justamente em Rio das Pedras.

Os milicianos têm relação estreita com a família Bolsonaro. Em 2005, o então deputado estadual Flávio Bolsonaro condecorou Adriano da Nóbrega na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) com a Medalha Tiradentes, maior honraria do estado. Além disso, Flávio empregou em seu gabinete na Alerj a ex-mulher e a mãe de Adriano, Danielle Mendonça e Raimunda Magalhães, respectivamente.

Poucos dias após a morte do ex-PM na Bahia, Jair Bolsonaro disse que foi ele quem pediu para que Flávio fizesse a homenagem ao ex-comandante do Bope, que estava preso na ocasião acusado pelo homicídio de um guardador de carros. Adriano foi expulso da PM do Rio em 2014 sob acusações como ser matador de aluguel, chefe de milícia, atuar no jogo do bicho e com máquinas de caça-níqueis.

Vítimas das milícias

Uma das formas que as milícias têm de ganhar dinheiro é com construções irregulares. De acordo com O Globo a prefeitura do Rio informa que, somente neste ano, 161 casas, lojas ou prédios ilegais foram demolidos na cidade. Em 2019, um outro desabamento matou 24 no bairro da Muzema, também área de milícias e distante cerca de cinco quilômetros do que caiu hoje. Este que desabou nesta quinta em Rio das Pedras também era irregular, segundo o que o coronel Leandro Monteiro, comandante-geral do Corpo de Bombeiros e secretário de Estado de Defesa Civil, afirmou à CNN Brasil.

Prefeito e governador

Em visita ao local do desabamento, ainda pela manhã, o prefeito do Rio Eduardo Paes (DEM) prometeu combater a construção irregular de imóveis por criminosos. “Comigo, milícia não vai construir mais porcaria nenhuma nessa cidade. Estamos demolindo permanentemente e a gente tem o desafio de cuidar do passivo”, declarou o prefeito. “Nem milícia, nem traficante, nem delinquente se sobrepõe ao poder do estado. Isso é falta de vergonha na cara das autoridades que permitiram que esse tipo de coisa acontecesse”, acrescentou.

O governador Cláudio Castro (PL) também foi ao local. “Tem de melhorar a questão da fiscalização, tem de ser integrada entre a Prefeitura e o Estado. Não adianta falar ‘é de um, é de outro’, o problema é de todos nós em conjunto. A gente tem planos de infraestrutura com recursos que estão vindo agora e com certeza as comunidades terão seu quinhão de investimento. Acho isso importantíssimo para que novas tragédias como essa não aconteçam.”