Da Covaxin à Convidecia

Ricardo Barros, Carlos Wizard e Luciano Hang são os próximos alvos da CPI da Covid

“Por que o presidente, ao invés de atacar membros da CPI, simplesmente não negou que tenha dito que o seu líder era o responsável por operações suspeitas?”, questionou o vice-presidente da Câmara

Jefferson Rudy/Agência Senado
Jefferson Rudy/Agência Senado
Omar Aziz, Renan Calheiros e senadores ouvem o empresário Carlos Wizard, do gabinete paralelo, na quarta

São Paulo – A revelação do deputado Luis Miranda (DEM-DF), na sexta-feira (25), de que Jair Bolsonaro teria mencionado o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), como envolvido no “rolo” da vacina, provocou abalos – revelados ou não – na base do presidente da República na Câmara. Nesta segunda-feira, o vice-presidente da Casa, Marcelo Ramos (PL-AM), disparou contra Bolsonaro. “Por que o presidente ao invés de atacar membros da CPI simplesmente não negou que tenha dito que o seu líder era o responsável por operações suspeitas na compra da vacina Covaxin?”, questionou Ramos, figura carimbada do Centrão. “Na verdade, por que ele não negou isso até agora? Ricardo Barros deveria cobrar essa negativa”, acrescentou.

Para o senador Rogério Carvalho (PT-SE), após confirmar a existência do “gabinete paralelo” e comprovar a responsabilidade do presidente na catastrófica condução da pandemia, a CPI tem agora uma prioridade. “A gente tem que ir atrás do Ricardo Barros. E do Carlos Wizard, do (Luciano) Hang. Quem está intermediando as coisas. Esses são os caras”, diz. Na opinião do senador, o foco continua sendo apurar as responsabilidades de Bolsonaro perante a pandemia, “crimes contra a vida”. “E a outra questão é mostrar os tentáculos, os amigos dele dentro do governo.”

Novos fatos têm sido apurados. Como as supostas negociações do Ministério da Saúde para a compra de outra vacina chinesa, Convidecia, que seriam intermediadas pela empresa Belcher Farmacêutica, sediada em Maringá (PR), representante do laboratório CanSino Biologics, produtora do imunizante. Segundo a Folha de S. Paulo, um dos sócios da Belcher é filho de um empresário próximo de Barros, ex-prefeito de Maringá. Oposicionistas e independentes da CPI querem saber se os empresários Carlos Wizard e Luciano Hang estão ligados a essas negociações, como apontam senadores. A CanSino Biologics já teria rescindido o contrato com a Belcher, segundo o Valor Econômico.

Agenda da CPI

A comissão definiu os próximos passos a seguir na noite desta segunda-feira (28), em reunião na casa do senador Omar Aziz (PSD-AME). Para esta semana estão agendados dois depoimentos muito aguardados. O próprio Wizard, apontado como financiador do “gabinete das sombras”, que será ouvido na quarta-feira (30), e Francisco Emerson Maximiano, sócio-administrador da Precisa Medicamentos – que intermediou as tratativas para a compra da Covaxin –, na quinta (1°). Após fugir da CPI o quanto pôde, Wizard chegou hoje ao Brasil, e teve o passaporte retido pela Polícia Federal.

Antes, nesta terça (29), a CPI recebe o deputado estadual Fausto Vieira dos Santos Junior, que foi relator de comissão parlamentar de inquérito instalada em 2020 na Assembleia Legislativa do Amazonas para investigar denúncias na gestão das ações de combate à pandemia. Os senadores podem definir ainda a convocação da de Barros e da fiscal Regina Celia Oliveira, apontada pelo servidor Miranda como responsável por autorizar a importação da vacina  indiana Covaxin.

Já Bolsonaro afirmou que “não tem como saber o que acontece nos ministérios”, ao comentar o caso denunciado pelos irmãos Miranda. A fala contradiz sua postura autocrática e centralizadora desde que assumiu. A frase “quem manda sou eu” já foi proferida pelo presidente diversas vezes, literal ou veladamente. Ao ser desautorizado pelo chefe em outubro do ano passado após anunciar contrato com a SinoVac, fabricante da CoronaVac, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello explicou entre risadas ao lado do capitão: “é simples assim: um manda e o outro obedece”.

Prevaricação

Os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Fabiano Contarato (Rede-ES) e Jorge Kajuru (Podemos-GO) entraram no Supremo Tribunal Federal (STF) com uma notícia-crime, nesta segunda-feira (28), pedindo investigação do presidente Jair Bolsonaro por prevaricação. No depoimento de sexta-feira, o servidor do ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda apontou graves irregularidades na pretendida compra da vacina indiana Covaxin. Seu irmão, o deputado Luis Miranda (DEM-DF), afirmou que comunicaram Bolsonaro da pressão “incomum” para fechar o negócio.  De acordo com o relato, Bolsonaro teria dito que levaria o caso à Polícia Federal, mas não tomou nenhuma atitude, o que configuraria o crime de prevaricação.